terça-feira, 5 de agosto de 2025

“Um só é vosso Pai e todos vós sois irmãos” (Mt 23, 8-9)

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Monges do Priorado de Séguéya (Guinée Conakry) em excursão. Fundação da Abadia de Keur Moussa. © AIM.

*Artigo de Dom Olivier-Marie Sarr, OSB

Abade de Keur Moussa, Senegal

 

‘Não vos deixeis chamar de mestre, pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. Não chameis a ninguém na terra de pai, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus’ (Mt 23, 8-9).

 

‘Lendo estes dois versiculos do capítulo 23 do Evangelho de Mateus, podemos rapidamente ficar impressionados com a natureza restritiva do texto, escrito sob a forma de duas sentenças (Não vos deixeis chamar - não chameis a ninguém), seguido de um esclarecimento de cada frase (pois um só...). Estamos, assim, na presença de duas proibições : não atribuir a si mesmo o título de Mestre e o de Pai. Entre as duas, encontra-se sutilmente uma afirmação lapidar, mas muito positiva e explícita : vós sois todos irmãos.

Além disso, os dois versículos tornam-se mais claros se ligarmos e relermos os versículos 1 ao 12 do mesmo capítulo 23. Aqui, Jesus repreende os escribas e fariseus que usurparam a cátedra de Moisés e os apresenta como contramodelos. Eles falam e não fazem, gostam de se exibir com seus trajes e gostam de receber cumprimentos pretenciosos. Eles buscam os lugares de honra tanto nos momentos sociais como durante o culto.

Entretanto, as condições para uma fraternidade universal devem ir além da relação entre mestre e discípulo, filho e pai. Elas não podem fazer parte de uma lógica de títulos, honras e privilégios, porque a fraternidade é toda gratuita, sem cálculos, sem falsidade. Nesta perspectiva, a boa notícia transmitida através destes versículos enfatiza a fraternidade universal, que se torna uma honra ou um privilégio inédito. Ser irmãos entre nós e irmãos de Jesus significa recuperar a dignidade de filhos do Pai e irmãos-coerdeiros de Cristo. De fato, ‘se somos filhos, somos também herdeiros : herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo’ (Rm 8, 17). Consequentemente, ‘não há mais judeu ou grego, escravo ou livre... Sendo de Cristo, sois, então, descendência de Abrahão, herdeiros segundo a promessa’ (Gl 3, 28-29; cf. Gl 4, 7; Fl 16). Pois o plano divino é configurar-nos ‘com a imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito entre muitos irmãos’ (Rm 8, 29). Esta é ao mesmo tempo nossa vocação e nossa missão : construir uma comunidade de irmãos ‘que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros’ (Fratelli tutti, FT, 95). Jesus é o mestre que nos revela este chamado para viver e difundir esta fraternidade universal, que tem o valor de uma revelação. Somos todos irmãos, de fato, e em cada um de meus irmãos se encontra o rosto de Cristo, nosso único Mestre e o reflexo do amor do Pai celestial : ‘Em verdade, vos digo : todas as vezes que fizestes isso a um destes menores que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’ (Mt 25, 40).

Então, como abade, sou um pai que garante, de uma forma responsável, a eficácia da fraternidade? Ora, ‘Não se nasce pai, torna-se tal. E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito (Patris Corde 7). Segundo esta lógica, existe uma certa paternidade na fraternidade : quando escolhemos cultivar a benevolência (cf. FT 222) para com nossos irmãos, doando-lhes tempo, estando atentos às suas necessidades e contribuindo para seu crescimento humano, moral e espiritual; quando participamos ativamente da coesão do grupo, evitando as dissensões (Gal 5, 15) provocada por falsos irmãos (cf. Gal 2, 4ss; 2 Cor 11, 26), praticando a correção fraterna, encorajando o apoio mútuo (cf. Rm 15, 1), usando grande delicadeza (cf. 1 Cor 8, 12) e oferecendo aos irmãos um espaço de liberdade, de escolha e de saída (cf. Patris corde 7). Em resumo, sempre que ajo responsavelmente em relação aos meus irmãos, então sou para eles, ao mesmo tempo, um irmão e um pai; uma sentença de Jesus a Simão Pedro resume perfeitamente : ‘Confirma os teus irmãos’ (Lc 22, 32). Assim, o ‘exercício’ da fraternidade requer uma presença e constitui um dom. Esta é a firme convicção do salmista : ‘Vede como é bom, como é agradável os irmãos viverem junto!’ (Sl 133[132],1).

‘Senhor e Pai da humanidade, que criastes todos os seres humanos com a mesma dignidade, infundi nos nossos corações um espírito fraterno’ (FT 287)

Amém!’ 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.aimintl.org/pt/communication/report/121

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