Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Há uma
pergunta que atravessa os séculos com a força de um vento que não cessa. Não é
uma pergunta de prova, nem uma curiosidade de mestre : é um chamado que toca a
alma. ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ (cf. Lc 9, 20).
Não se responde
a essa pergunta com frases decoradas de catecismo. Ela exige mais : exige
adesão, exige verdade de cada um de nós. Exige vida. Porque, na realidade, é
como se Jesus dissesse : ‘Quero saber quem sou para você, no mais profundo da
sua história, no lugar onde nascem as suas decisões, onde vivem suas alegrias e
doem as suas cruzes.’
É revelador
notar que essa pergunta nasce enquanto Jesus rezava num lugar retirado (cf. Lc
9,18). Como se o silêncio fosse a única linguagem capaz de traduzir o que é
essencial. Há perguntas e respostas que só se escutam quando o coração aquieta.
Há verdades que só se compreendem longe do barulho. E talvez o seguimento de
Jesus comece por aí : pela escuta do coração, pela oração que desinstala, pela
resposta que nasce no íntimo.
A resposta de
Pedro — ‘Tu és o Cristo de Deus’ — está certa, mas ainda é insuficiente. Porque
logo em seguida Jesus revela o outro lado do Cristo : o lado da rejeição, da
dor, da cruz. Como se dissesse : ‘Sim, sou o Messias, mas um Messias ferido.
Sou o Cristo, mas um Cristo que sangra.’
E então, vem o
convite que transforma tudo em caminho : ‘Se alguém me quer seguir, renuncie a
si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me.’ (Lc 9,23)
Seguir Jesus
não é andar atrás de um ideal bonito. É caminhar com Ele, com as marcas e
exigências do amor que se faz carne, que se deixa ferir, que se doa até o fim.
É mais do que um gesto religioso — é uma escolha existencial que nos pede tudo.
E que precisa ser feita de novo, a cada manhã.
É por isso que
o seguimento de Cristo não se esgota num momento de entusiasmo ou numa emoção
de retiro. É um ato contínuo de entrega. É aceitar que amar como Ele amou
custará a vida inteira. Porque o amor, quando é verdadeiro, não se preserva —
se oferece. O amor em Jesus é doação, e a consequência do amor é sempre a cruz
— não como fim, mas como travessia.
Quem quiser
salvar sua vida vai perdê-la — diz o Evangelho — mas quem a perder por causa
d’Ele, a encontrará. Isso é uma revolução do espírito. Uma virada radical que
nos ensina que a vida não se conquista acumulando, mas entregando. Não se vence
se protegendo, mas se expondo por amor.
Seguir Jesus é
viver para além de si mesmo. É deixar de se pertencer para pertencer ao Reino.
É trocar os atalhos fáceis pela vereda estreita do Evangelho. É responder todos
os dias à mesma pergunta : ‘E hoje, quem é Jesus para mim?’ E permitir que a
resposta não esteja apenas nos lábios, mas no modo como nos gastamos, no modo
como amamos, no modo como vivemos.
Se hoje Ele te
perguntar de novo — e Ele perguntará — não endureça o coração. Responder com a
vida pode ser difícil, mas é o único caminho que nos devolve a nós mesmos e nos
leva ao coração de Deus.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://revistaavemaria.com.br/seguir-jesus-uma-resposta-que-nos-recria.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário