terça-feira, 16 de setembro de 2025

Santa Hildegarda: uma visionária para todas as eras

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

‘A visão da Igreja de Santa Hildegarda de Bingen’,

por Giovani Gasparro

*Artigo de Brennan Pursel

Tradução : Equipe Christo Nihil Praeponere

 

‘Santa Hildegarda de Bingen (1098–1179) é uma maravilha do passado, um fenômeno histórico por direito próprio, e um questionamento direto a todos que se preocupam em aprender sobre ela e com ela hoje, no século XXI. Em suma, a vida e os escritos dela colocam uma dura pergunta : teria Deus falado por meio dessa mulher, não apenas para os contemporâneos dela, mas a toda a humanidade, em todas as épocas, ou ela não passou de uma mulher muito doente?

Hildegarda passou quase toda a vida no vale do Reno, perto de onde o rio Meno nele deságua. O vale central da Renânia é uma das regiões mais férteis da Alemanha; possui um clima suave e temperado, onde pessoas viveram em comunidades por milênios. Desde suas origens, o Reno forma uma via rápida natural nas terras alpinas até sua foz no Canal da Mancha e no Mar do Norte. O paradoxo da vida de Hildegarda é que ela foi uma alma solitária e contemplativa que viveu numa importante via, por assim dizer, onde ela se tornou o centro das atenções.  

Hildegarda, um dos dez filhos de um casal da nobreza local, provavelmente teve uma primeira infância bastante privilegiada e normal, exceto por sofrer de uma doença que a deixava acamada. Durante esses períodos de fraqueza e dor, ela começou a ver imagens incomuns, talvez a partir dos cinco anos de idade. Quando falou com as pessoas sobre suas visões, mandaram-na ficar calada. Quando tinha sete anos, seus pais decidiram que ela deveria entrar para vida religiosa, e assim a entregaram aos cuidados de Juta (Judite), uma anacoreta, enclausurada numa cela de pedra adjacente a um mosteiro beneditino. Lá Hildegarda viveu, estudou, trabalhou e rezou por trinta anos. Um número cada vez maior de moças foi viver com elas, até que Juta se tornou a superiora de um pequeno convento beneditino. Quando Juta morreu em 1136 (Hildegarda tinha 38 anos), a comunidade de mulheres religiosas a escolheu por unanimidade para liderá-las. Pouco se sabe dessas três décadas da vida de Hildegarda, com a exceção de que seus ataques de enfermidade e as visões continuaram. Ela só falou com Juta sobre as visões, mas esta informou a um monge, Volmar, cuja posição era supervisionar as religiosas e ministrar-lhes os sacramentos.

A vida de Hildegarda mudou radicalmente aos 42 anos. A essa altura, ela já tivera a sua visão mais poderosa, não apenas uma visão de luzes e imagens, mas de inspiração, de compreensão, uma infusão de conhecimento sobre o significado da Escritura e de todo o conteúdo da fé. Também recebeu a ordem de escrever o que havia aprendido. Sentindo-se aquém da tarefa, Hildegarda ficou gravemente doente. Volmar mandou que ela escrevesse, e o abade do mosteiro adjacente concordou. Sua doença arrefeceu, e ela começou a escrever o que vira em latim (que não aprendera muito bem), trabalhando com Volmar, que a ajudou durante os trinta anos seguintes. Sua primeira e maior obra, Scivias, discorre em três livros sobre Deus e toda a Criação, a Redenção, a Igreja, o demônio e, finalmente, sobre toda a história da salvação. O primeiro a ler trechos da obra foi o abade; depois, o arcebispo de Mainz; depois, São Bernardo de Claraval e o próprio Papa, Eugênio (1145–1153), que leu os escritos dela em voz alta aos participantes de um sínodo na cidade de Trier, na Alemanha. A notícia se espalhara. Uma verdadeira profetisa vivia no Reno. Ainda que limitada, chegara ao fim a solidão de Hildegarda.

Novas vocações afluíram ao convento dela. Talvez para separar as ovelhas dos bodes, ela transferiu sua comunidade para um vale inabitado e arborizado às margens do Reno, e começou a construir o novo convento. Mas o movimento não parou por aí. Em poucos anos, ela teve de fundar outro convento, desta vez na margem oposta do rio. Como abadessa, ela visitava aquele mosteiro uma ou duas vezes por semana. As pessoas afluíam para ouvi-la falar, para receber sua bênção e para obter tratamentos para suas enfermidades. Tempos depois, ela publicou um grande tratado sobre muitas doenças e o modo de curá-las de alma das pessoas, para pedir explicações da Escritura, explicações teológicas dos mistérios divinos e conhecimento sobre o futuro. Ela foi convocada para se reunir com o sacro imperador romano e fazer previsões para ele, que depois as confirmou. Ela falava e escrevia sobre o que lhe chegava, fossem notícias boas ou ruins. Sua voz interior lhe disse muitas coisas de que se queixar. Ela não guardava nada para si quando se tratava de dilacerar clérigos e prelados corruptos por causa de seus abusos da Igreja, da venda de ofícios e por levarem vidas de pompa, luxo e repletas de prazeres sexuais. Quando um prior escreveu para ela, pedindo que rezasse por ele porque estava fazendo o mesmo por ela e porque queria um bom desfecho para seus negócios, ela o repreendeu sem rodeios por seu egoísmo e sua visão pagã de oração. Não temos como saber o número de pessoas que ficavam perplexas com ela.

Além das centenas de cartas, ela escreveu outro livro sobre a vida moral e seus méritos, uma obra visionária como Scivias, sobre como temos de viver para participar da paz e da glória celestes. Outro livro é dedicado à descrição das obras divinas. Além do tratado médico, ela escreveu livros para explicar como a natureza funciona de acordo com os preceitos misteriosos de Deus. Ela recebeu a revelação da ordem divina em todas as coisas e se esforçou por transmitir essa ordem a outras pessoas. Também compôs setenta canções e uma peça musical de moralidade sobre as virtudes. Seu estilo, em prosa e em verso, é sempre vívido, persuasivo e repleto de imagens proféticas; é o oposto da escrita acadêmica árida e técnica. Contudo, não é fácil diferenciar precisamente entre o que ela recebeu numa visão, o que aprendeu em outros livros e na tradição local e oral, e o que ela observava e pensava por si.        

Obviamente, tal proeminência (destituída de quaisquer credenciais formais ou poder bruto que lhe servisse de apoio) fez com que ela se metesse em alguns problemas. Foi necessário muito esforço para convencer o abade (sob cuja autoridade ela vivera com Juta) a permitir que ela transferisse suas monjas e seus dotes para a nova localidade no Reno. Suas exortações aos clérigos e leigos poderosos e pecaminosos aumentaram a sua lista de potenciais detratores e inimigos. Algumas pessoas disseram que ela era uma impostora egoísta, ou simplesmente louca. O conflito com seu bispo para impedir que sua protegida, a irmã Richardis, fosse liderar outro convento foi uma causa perdida, já que afinal o Papa interveio para a apoiar o bispo. O caso não fez com que ninguém mostrasse suas melhores qualidades. Por volta do fim de sua vida, Hildegarda permitiu que um homem excomungado fosse enterrado no solo sagrado de seu convento; ela disse que ele se havia reconciliado verdadeiramente com Deus logo antes de morrer. O bispo discordou e pôs seu convento sob interdito, negando a Hildegarda e suas freiras o acesso aos sacramentos, mas ela o cansou com orações e súplicas. Em poucos meses, o interdito foi suspenso, e o túmulo permaneceu intacto. Porém, esses conflitos foram antes a exceção do que a regra.

O fato de ela ter sido uma mulher vivendo no século XII não representou um obstáculo sério à sua missão de disseminar a palavra da revelação de Deus até o fim de sua vida. Começando com cerca de sessenta anos, ela realizou quatro longas viagens pela área rural local, pregando tanto para o clero como para os leigos, com a aprovação de ninguém menos que o Papa. Suas canções eram cantadas em locais tão distantes quanto Paris, e a palavra de sua sabedoria se espalhou por toda a cristandade. Depois de sua morte na idade venerável de 81 anos, iniciou-se imediatamente um culto dedicado a ela. Embora não haja nenhum registro de sua canonização oficial nos séculos XII e XIII, ela foi listada entre os santos do Martirológio Romano ainda no século XVI. Foi só recentemente que o Papa Bento XVI a inscreveu no catálogo dos santos (uma ação chamada de ‘canonização equivalente’), no dia 10 de maio de 2012; e em 7 de outubro do mesmo ano deu a ela o título de Doutor da Igreja, um reconhecimento concedido a somente 33 pessoas até então, três delas mulheres.

Suas canções eram cantadas em locais tão distantes quanto Paris, e a palavra de sua sabedoria se espalhou por toda a cristandade.

Mas, por estarmos no século XXI, muitas pessoas simplesmente não aceitam que Deus tenha comunicado nada, muito menos a verdade, por meio de Hildegarda. Alguns historiadores diagnosticaram seus sofrimentos contínuos como enxaquecas, mas todos falharam completamente em explicar a origem de suas visões em termos médicos. Não podemos negar que alguns de seus sintomas se assemelham aos da enxaqueca, mas o poder e a riqueza de suas visões, bem como a profundidade da compreensão que ela mesma tinha delas, têm uma fonte muito diferente.

Ela não é uma desconhecida na Alemanha contemporânea, mas a maioria das pessoas conhece seu nome pelo motivo errado. Há uma linha de produtos e um site de internet que levam seu nome e vendem elixires feitos de plantas, poções, cremes, pós, rochas e corantes, todos comercializados para a felicidade, o sentimento de liberdade e a independência das pessoas. Porém, a prioridade de Hildegarda era a santificação e a salvação dos outros. Alega-se que os produtos são baseados nos escritos dela, mas eles estão mais alinhados com o comercialismo da Nova Era. Mais séria e mais digna é a associação (Bund der Freunde Hildegards) que publica um periódico trimestral e possui uma rede de médicos, quiropráticos e pesquisadores da área médica, os quais realizam um verdadeiro esforço para aplicar seus remédios e metodologias aos problemas que as pessoas enfrentam hoje. Mas esse grupo quase não entende a mensagem religiosa de Hildegarda. Num nível mais popular, cineastas alemães lançaram um longa-metragem sobre ela em 2009 : Vision: From the Life of Hildegard von Bingen (‘Visão: Da Vida de Hildegarda de Bingen’). O filme a apresenta como religiosa, abadessa, escritora, compositora e médica, terminando com seus preparativos para uma viagem de pregação. Infelizmente, porém, a produção se concentra nos esforços dela para ser reconhecida pelos homens da Igreja, bem como para conseguir a independência em relação ao controle deles. O roteiro conta a história da luta de uma mulher pobre e oprimida do século XII para se tornar plenamente ela mesma diante de uma hierarquia eclesiástica medíocre, invejosa, sexista e masculina.       

Hildegard foi e é muito mais que isso. Dizendo de modo bem simples, ela foi uma grande santa. Sofreu e lutou terrivelmente. Amou a Deus acima de todas as coisas e sacrificou tudo para agradá-lo. Perseverou até o fim. Inspirou inúmeras pessoas. Disse a elas que deveriam parar de pecar e abraçar a santidade. Para chegar a conhecê-la, leia os seus escritos. Algumas imagens lhe parecerão exóticas ou bizarras, mas a sabedoria de seus preceitos morais e insights religiosos merece um sério exame e um grande respeito.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://padrepauloricardo.org/blog/santa-hildegarda-uma-visionaria-para-todas-as-eras

domingo, 14 de setembro de 2025

A hospitalidade na Regra beneditina e em São Leão Magno

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Dom Vital Corbellini,

Bispo de Marabá, PA

 

‘A hospitalidade é uma atitude bíblica que coloca a presença de Deus na vida da pessoa que vem de longe ou de perto para a residência humana para pedir ajuda, consolo, uma palavra de esperança e de amor. No dia do juízo é bem presente a palavra de Jesus : ‘Eu era peregrino e me acolhestes em casa’ ( Mt 25, 35). O Senhor Jesus se fará presente nas pessoas que nós acolhermos em nossas vidas. Diante de um mundo de tantas pessoas que se deslocam por causa das mudanças climáticas, guerras, perseguições, violência, é fundamental a acolhida, a hospitalidade das pessoas, dos pobres. Veremos a seguir como esta atitude esteve presente na regra beneditina, séculos V e VI e em São Leão Magno, papa no século V.

A presença de Jesus Cristo

A regra de São Bento recomendava a todos os seus seguidores que os hóspedes que se achegassem às suas casas, fossem acolhidos como Cristo Jesus porque Ele disse : ‘Fui hóspede e vós me tendes acolhido’ (Mt 25,35). É a honra devida para ser dada, seja aos irmãos na fé, seja aos estrangeiros, peregrinos [1]. Ao anúncio de um hóspede, o superior e os irmãos iriam ao seu encontro com todas as considerações da caridade. Haja a oração em comum e depois haja o abraço da paz [2].

A humildade

São Bento em sua regra afirmava que na saudação, aos hóspedes, quando se aproximassem ou mesmo quando partissem da sua residência, fosse dada das pessoas que acolhessem os estrangeiros, a atitude de humildade pela presença do Senhor Jesus que foi acolhido [3]. Haja a leitura divina em vista da edificação da pessoa e se ofereça toda a atenção humana. Em seguida também se faça a limpeza das mãos e dos pés e todas as pessoas digam em voz alta que acolheram o Senhor Deus, na pessoa dos estrangeiros, a sua misericórdia em meio ao seu templo (cfr. Sl 47 (48), 10) [4].

A ajuda aos pobres

O Papa Leão Magno afirmou a atitude da compaixão com os pobres. Os fiéis sejam generosos na doação da comida para eles, aqueles que desejam fazer parte da comunidade dos bem-aventurados. O fato é que um ser humano não apareça desprezado por outra pessoa, que o Criador do universo fez como sua [5]. É impossível a pessoa recusar outra que sofre alguma coisa o que é de toda a pessoa, pois é o próprio Cristo Jesus que está sendo visto, doado. É ajudada uma pessoa de serviço e é o Senhor que é presente, dando-lhe graças [6].

O preço do Reino dos céus

O Papa Leão dizia que o alimento do pobre é o preço do Reino celeste e a pessoa que doa os bens terrenos torna-se herdeiro de bens celestes. A medida das obras é valorizada sobre a balança da caridade, porque quando o ser humano ama aquilo que Deus privilegia, sobe o ser humano no Reino dos céus; É dada a honra ao Senhor que se tornou próximo das pessoas e assumiu a nossa natureza (cfr. Jo 1,14). O bispo de Roma exortava para que os fiéis trouxessem de casa bens, alimentos em vista das obras de misericórdia para merecer a bem-aventurança da qual gozará para a eternidade aquele que discerne o necessitado e o pobre (cfr. Sl 40,(41), 2. Desta forma é reconhecida no necessitado e no pobre a ‘Pessoa do Senhor nosso Jesus Cristo, o qual de rico que era, como disse São Paulo fez-se pobre, para enriquecer-nos com a sua pobreza’ (2 Cor 8,9) [7].

A natureza humana é igual para todas as pessoas

Uma vez que Deus é o Criador do ser humano, São Leão Magno afirmou que a natureza humana é igual para todas as pessoas. Desta forma a nossa natureza mortal mutável é reconhecida em todo o ser humano e por motivo desta condição humana, cada pessoa é chamada a alimentar um sentimento de solidariedade em relação a todas as pessoas de sua espécie : chorar com as pessoas que choram, unir-se com aquelas que sofrem, ajudar aquelas necessitadas, ter presente os doentes que estão em seus leitos, prover alimentos com as pessoas famintas, doar roupas para aquelas pessoas que estão na nudez ou passam frio [8].

A misericórdia dada

O Papa São Leão exortava os fiéis para que as coisas poupadas através do jejum tornar-se-iam alimento para os pobres numa reta intenção de misericórdia dada com amor aos mais necessitados. Os fiéis eram chamados a empenhar-se na defesa das viúvas, dos órfãos, dos sofredores, a fazer paz com aqueles que lutam, brigam entre si [9]. Desta forma acolha-se o estrangeiro, ajuda-se o oprimido, veste-se o nu, seja dada a atenção à pessoa doente, de modo que a oferenda de tais coisas dadas com amor a Deus, autor de todo o bem, seja concedida por graça divina a sua recompensa celeste [10].

O evangelho de Jesus Cristo era bem vivido na pessoa dos santos padres, no povo de Deus e hoje é dado para nós, em vista da conversão de vida que o Senhor Jesus tanto pede de cada um de nós. As pessoas pobres, necessitadas de ajuda estão presentes na vida de todos os seguidores, seguidoras de Jesus Cristo e de sua Igreja. Nós somos chamados a viver o mandamento do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, para um dia participar do Reino dos céus.’

 

[1] Cfr. Regola di Benedetto 53,1-24. In: ’Non dimenticate L´ospitalità’. Antologia dai Padri della Chiesa. Milano, Paoline, 2022, pg. 198.

[2] Cfr. Idem, pg 198.

[3] Cfr. Ibidem, pgs. 198-199.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 199.

[5] Cfr. Discorso sulle collete 9, 2-3. In: Idem, pg. 207.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 207.

[7] Cfr. Ibidem, Discorso sulle collette, 9, 2-3, pgs. 207-209.

[8] Cfr. Ibidem, 11,1-2, pg. 209.

[9] Cfr. Ibidem, Discorso sul digiuno del decimo mese 13, pg 211.

[10] Cfr. Ibidem, pg. 211.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-09/dom-vital-hospitalidade-regra-beneditina-leao-magno.html

sábado, 13 de setembro de 2025

Exaltação da Santa Cruz

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da Vatican News


‘Em 13 de setembro de 335, foram consagradas, em Jerusalém, duas igrejas: a da Ressurreição e a do Martyrium. No dia seguinte, com uma cerimônia solene, houve a ostensão da Cruz, que a Imperatriz Helena havia encontrado, em 14 de setembro de 320. Em 614, Cosroes II, rei dos Persas, travou uma guerra contra os Romanos e, depois de derrotar Jerusalém, levou consigo, entre os diversos tesouros, também a Cruz de Jesus. Heráclio, imperador romano de Bizâncio, propôs um pacto de paz com Cosroes, que não aceitou. Diante da sua negação, entrou em guerra com ele e venceu, perto de Nínive, e pediu a restituição da Cruz, que a levou de volta a Jerusalém. Neste dia da Exaltação da Santa Cruz, não se glorifica a crueldade da Cruz, mas o Amor que Deus manifestou aos homens ao aceitar de morrer na Cruz : ‘Mesmo sendo Deus, Cristo humilhou-se, fazendo-se servo. Eis a exaltação da Cruz de Jesus!’ (Papa Francesco).

«Naquela ocasião, Jesus disse a Nicodemo s: ‘Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu : o Filho do Homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também o Filho do Homem será levantado, a fim de que todo o que nele crer tenha a vida eterna’. De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3,13-17).

Chega de fecharmos em nós mesmos

‘Na origem do ser cristão, - escreveu Bento XVI - não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento’. O Evangelho, que a liturgia nos propõe na festa da Exaltação da Santa Cruz, diz que Deus pretende construir uma relação de amor com cada um de nós; Ele se oferece na pessoa do seu Filho Jesus, pregado na Cruz.

O fato de levantarmos o olhar para Deus, nos propõe uma verdade importante: somos convidados a voltar a nos relacionarmos de novo com Ele. Chega de ficarmos fechados em nós mesmos, alimentando inúteis sentimentos de culpa e esquecendo que ‘se o nosso coração nos acusa, Deus é maior que o nosso coração’ (1 Jo 3,20). Elevemos nosso olhar para as estrelas (Cf. Abraão e a promessa de uma grande descendência), colocando todas as nossas preocupações em Deus.

Espanto e gratidão

O fato de elevar nosso olhar não nos deve causar medo, mas gratidão, porque tal elevação é a medida do amor com a qual Deus ama os seus filhos, no Filho. Com efeito, a misericórdia de Deus - como no caso de Nicodemos - ilumina as noites da nossa vida e nos permite continuar o nosso caminho.

Nenhuma indiferença diante da Cruz

Não podemos permanecer indiferentes diante da Cruz de Jesus : nem com ele e nem contra Ele. Trata-se de uma escolha, que deve ser feita antes de qualquer ação, porque a vida do cristão nada mais é que o testemunho de quanto ‘Deus nos amou, a ponto de dar seu Filho Jesus’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/feriados-liturgicos/exaltacao-da-santa-cruz.html

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Por que celebrar o Santíssimo Nome de Maria?

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Rivelino Nogueira

 

‘A liturgia celebra, no dia 12 de setembro, o Santíssimo Nome da Virgem Maria (Miryam, em hebraico). O objetivo dessa festa é permitir que os fiéis apresentem a Deus, de modo especial pela intercessão de sua Santíssima Mãe, às necessidades da Igreja e as próprias necessidades, além de agradecer ao Senhor as graças recebidas por intermédio da Virgem Maria.

O nome de uma pessoa é muito importante na Bíblia, pois representa a própria pessoa. Certamente, São Joaquim e Santa Ana foram inspirados pelo céu ao escolherem esse nome para aquela que seria, um dia, a Mãe do Redentor e nossa Mãe.

O nome de Maria, que significa Senhora da luz, indica — conforme disse a própria Virgem à Santa Matilde —: ‘Deus me encheu de sabedoria e luz, como astros brilhantes, para iluminar os céus e a terra.’

A celebração do Santíssimo Nome de Maria é uma tradição católica que reflete a devoção e o respeito à Mãe de Jesus Cristo. Eis alguns motivos pelos quais essa celebração é importante :

Reconhecimento da missão única : Maria desempenhou um papel fundamental na história da salvação, ao dar à luz Jesus Cristo, o Salvador do mundo. Sua obediência e fidelidade a Deus são exemplos inspiradores para os fiéis.

Poder e intercessão : O nome de Maria é considerado poderoso e eficaz na intercessão em favor dos fiéis. Muitos acreditam que ela pode interceder junto a Deus, pedindo proteção, orientação e bênçãos.

Beleza e inspiração : A figura de Maria é modelo de virtudes como humildade, obediência e fé. Sua vida inspira os que buscam seguir os ensinamentos de Cristo.

Devoção e piedade : A celebração é expressão da devoção dos fiéis e oportunidade para refletir sobre a vida e missão de Maria, pedindo sua intercessão e proteção.

Essa festa teve início na Espanha, em 1513, e logo se espalhou por todo o país. Em 1683, o Papa Inocêncio XI a estendeu a toda a Igreja do Ocidente como ato de ação de graças pelo levantamento do cerco de Viena e a derrota dos turcos, alcançada por João Sobieski, rei da Polônia.

Naquele período, a data foi fixada para o domingo dentro da oitava da Natividade de Nossa Senhora.

Em suma, a celebração do Santíssimo Nome de Maria é uma forma de honrar e reconhecer a importância da Virgem na história da salvação, e de pedir sua intercessão e proteção ao longo da caminhada de fé.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/por-que-celebrar-o-santissimo-nome-de-maria.html

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Os céus e a terra proclamam a glória de Deus (Sl 19[18], 1-7)

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da Madre Nirmala Narikunnel, OSB

Abadessa de Shanti Nilayam, India


Os céus proclamam a glória de Deus,

e o firmamento anuncia as obras de suas mãos.

O dia transmite ao dia a mensagem

e a noite dá conhecimento à outra noite. 


Não são palavras nem discursos

nem se ouve a sua voz.

Por toda a terra se difunde o seu som,

e até os confins do mundo vai sua mensagem. 


Ali armou uma tenda para o sol,

que sai como um noivo do quarto nupcial,

e exulta como um gigante a percorrer

o seu caminho. 


A sua saída é desde os confins dos céus

e o seu percurso vai até o outro extremo,

e nada pode subtrair-se ao seu calor.

 

O salmista seria talvez um pastor que cuidava de seu rebanho e admirava a criação de Deus. Mesmo sem qualquer conhecimento científico e ignorando a tecnologia do futuro, podia maravilhar-se com a criação e cantar este belo salmo.

Pela sua potente Palavra, Deus criou e organizou o universo inteiro, e os seus planos são irreversíveis. A glória, a magnificência, o esplendor de Deus manifestam-se no salmo. Deus é o criador dos céus e do sol que ilumina o mundo. Os corpos celestes e a sucessão regular do dia e da noite manifestam a glória de Deus e transmitem silenciosamente a sua mensagem, chamando-nos ao louvor de Deus. Deus arranjou maravilhosamente o universo e tudo o que ele contém é para o nosso bem. O céu e a terra manifestam a sua glória. As perfeições de Deus são proclamadas num silêncio eloquente pelo mundo criado. O salmista medita sobre o perfeito silêncio da natureza. Não podemos aproveitar as maravilhas da natureza senão em silêncio. Como o profeta Elias, encontraremos o Criador numa brisa suave. Sem palavra nem voz, a criação descreve a glória de Deus. Ela segue perfeitamente a lei da natureza. O sol não deixará de nascer ou de se pôr porque Deus Criador colocou ordem na criação, e ela segue perfeitamente a ordem que, a menos que ele o queira, não mudará.

São Bento consagra um capítulo inteiro da Santa Regra ao silêncio.  Somente no silêncio podemos encontrar Deus como também os nossos semelhantes. Quanto mais o espírito do Homem penetra no mundo que o envolve, mais este testemunho nos espanta pela sua grandeza e glória. Deus maravilhoso de um mundo maravilhoso que merece uma grande honra e uma grande glória. A glória de Deus significa a sua manifestação de si e a sua comunicação, exigindo a resposta de louvor do homem. Em numerosos outros salmos, o salmista convidará toda a criação a celebrar a grandeza do Criador, como, por exemplo, no Salmo 148.

A noite é a ausência de luz solar. A noite e o dia cantam a glória de Deus. O dia proclama o esplendor de Deus, e a noite o seu caráter escondido e o seu mistério. Nem o dia nem a noite podem falar como o homem, mas, não obstante, eles transmitem a sua mensagem enquanto «sacramentos» do poder e da majestade de Deus. A sua eloquência é silenciosa. O louvor prestado a Deus de dia como de noite cobre toda a terra; ela é entendida universalmente.

O sol é a principal e a mais evidente testemunha do esplendor de Deus. É poeticamente concebido como escondido em uma tenda no céu do Oriente antes de aparecer na aurora, e é comparado a um esposo vestido com trajes esplêndidos devido à intensidade do seu calor, e a um herói militar por causa da sua luz.

O salmista impressionou-se muito com o céu, a sequência ininterrupta dos dias e das noites, e o nascer e o pôr do sol. Compôs um poema e cantou-o em presença dos fiéis. O mundo da criação é um espelho que reflete Deus, e todos aqueles que creem como o salmista podem ver os reflexos de Deus no mundo natural. A extrema grandeza e o poder de Deus brilham no santuário celeste, na vasta extensão do céu e sobre toda a terra.

«O sol quando aparece, fazendo uma proclamação à medida que surge, é um instrumento maravilhoso, obra do Altíssimo. Ao meio-dia ele seca a terra, e quem pode suportar seu calor ardente? Um homem que se ocupa de uma fornalha trabalha em um calor feroz, mas o sol queima três vezes mais as montanhas, exala vapores ardentes e, com raios luminosos, cega a vista. Grande é o Senhor que o fez e a seu comando ele se apressa a seguir seu curso.» (Ben Sira 43)

«Louvado sejais, meu Senhor, com todas as vossas criaturas. Sobretudo pelo Irmão sol, que é o dia e através do qual vós nos concedeis a luz, e ele é belo e radiante com grande esplendor, e ele se assemelha a vós, ó Altíssimo.» (São Francisco de Assis)

Deus criou o céu e a terra, e a coroa da criação é o homem. O homem é um pouco menos de Deus (Sl 8). O salmista, um homem comum dotado de uma imaginação prodigiosa e de um profundo sentimento de temor, proclama a majestade e o poder do Criador. Mas o homem desfigurou a beleza da criação pelo pecado. Cristo, como a luz do sol, veio dissipar as trevas deste mundo. O Criador do imenso e maravilhoso universo é tão grande e poderoso, e, contudo, cuida dos seres humanos. Quando o homem abusa ou trata mal a criação, a natureza reage. Recentemente, o nosso mosteiro e as proximidades ficaram inundadas porque algumas pessoas lançaram dejetos na drenagem. Esta ficou bloqueada com chuvas incessantes que afetaram a nossa fazenda e a maior parte das nossas culturas, e contaminaram a água potável. Sofremos grandes perdas. Nada pudemos fazer até que a água recuasse lentamente e isto levou mais de uma semana. Quando a natureza reage, nada podemos fazer senão confiar em Deus transcendente presente na criação.

Rezando este salmo, podemos maravilhar-nos com a criação : com que sabedoria e amor Deus tudo planificou e organizou? Agradecemos a Deus Soberano do universo, todo sábio e todo poderoso, por tudo ter criado tão bom e tão belo. Todo o louvor e toda a glória a Deus pela sabedoria infinita, o seu poder, a sua beleza, a sua criatividade e o seu amor. Louvamos a Deus em nome de toda a criação. Louvar e glorificar o Criador e Sustentador do universo inteiro é o fim último de todas as criaturas e seres humanos.

Senhor Deus, nós te louvamos em nome de toda a criação. A beleza e a bondade de tudo o que fazes, bem como o sistema e a ordem perfeitos na natureza manifestam a tua sabedoria e o teu amor. Tudo o que fazes é uma maravilha. Aceita os louvores e a adoração que te oferecemos, e faz com que todos os seres humanos possam reconhecer a bondade e a sabedoria que estão ativas na criação, e louvar-te de todo o coração.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.aimintl.org/pt/communication/report/122

sábado, 6 de setembro de 2025

Curiosidades da Bíblia: A Galileia na época de Jesus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre José Inácio de Medeiros, CSsR

 

‘Por Galileia se denomina a região do norte de Israel, também conhecida como ‘Galil’ em hebraico. A área é rica em história e cultura, com importância religiosa para judeus, cristãos e muçulmanos. Atualmente, a maior parte da região faz parte do Distrito Norte de Israel, se estendendo do Mar Mediterrâneo até o Mar da Galileia ou Lago de Tiberíades. 

A região desempenhou papel central no ministério de Jesus, sendo o local onde ele passou grande parte de sua vida, onde pregou sua mensagem salvífica, escolheu os discípulos e realizou muitos de seus milagres. Por isso mesmo, a Galileia é mencionada em diversas passagens bíblicas como no evangelho de Lucas (Lc 4,14-21). 

Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. Ele ensinava nas sinagogas, e todos o elogiavam. Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado. conforme seu costume, no sábado entrou na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem onde está escrito : ’O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos 19e para proclamar um ano de graça do Senhor.’ Em seguida Jesus fechou o livro, o entregou na mão do ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Então Jesus começou a dizer-lhes : ‘Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir.’

Principais características da Galileia

Do ponto de vista geográfico, a Galileia se caracterizava por suas férteis colinas, pelos vales agrícolas e proximidade com o Mar da Galileia que também era chamado de Lago de Genesaré ou Lago Tiberíades.

A região era bem ativa do ponto de vista econômico com colônias de pescadores, com vilas de agricultores e artesãos desempenhando papel importante na vida cotidiana e na sustentação da sociedade. O Mar da Galileia era fonte de sustento para os moradores locais, especialmente pescadores como Simão Pedro e André, que se tornariam discípulos de Jesus.

Culturalmente era uma região diversificada, sofrendo influência das culturas judaica, grega e romana. Após a conquista realizada por Alexandre, o Grande, da Macedônia, a região passou por um acelerado processo de helenização, porém, a maioria da população galileia mantinha suas tradições religiosas e culturais.

Por causa dessa miscigenação a região também era conhecida como ‘Galileia dos Gentios’ por ter uma população mista, incluindo judeus e não judeus. 

No contexto religioso, os galileus eram geralmente vistos como judeus, porém, mais simples e menos rigorosos em comparação com seus compatriotas da Judeia, especialmente aqueles de Jerusalém, onde o Templo estava localizado. Isso contribuiu no preconceito carregado por Jesus e seus apóstolos, uma vez que muitos líderes religiosos judeus da época olhavam com desprezo para os galileus. A expressão que aparece no evangelho ’Pode vir algo bom de Nazaré?’ (João 1,46) reflete essa discriminação.

No dia seguinte, Jesus decidiu partir para a Galileia. Encontrou Filipe e disse : ‘Siga-me.’ Filipe era de Betsaida, cidade de André e Pedro. Filipe se encontrou com Natanael e disse : ‘Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e também os profetas : é Jesus de Nazaré, o filho de José.’ Natanael disse : ‘De Nazaré pode sair coisa boa?’ Filipe respondeu : ‘Venha, e você verá.’

Nazaré, o pequeno povoado onde Jesus cresceu após sua família retornar do exílio no Egito, apesar de ser formada por gente trabalhadora, era uma localidade obscura e sem grande importância política ou religiosa.

Politicamente a Galileia estava sob a administração de Herodes Antipas, que governava como tetrarca sob a autoridade do Império Romano. Ele era conhecido por sua lealdade aos romanos e por suas obras de construção, incluindo a fundação da cidade de Tiberíades, que dele recebeu esse nome em homenagem ao imperador Tibério.

A Galileia e o ministério de Jesus

Durante seu ministério, Jesus concentrou grande parte de sua atividade na Galileia, especialmente nas cidades e vilarejos ao redor do Mar da Galileia, como Cafarnaum, Betsaida e Magdala. Cafarnaum, cidade de Pedro, tornou-se um centro importante de suas atividades, sendo descrita nos Evangelhos como sua ‘própria cidade’ (Mt 9,1). Ali, ele pregou nas sinagogas, curou doentes e convidou seus primeiros discípulos. O Sermão da Montanha, um dos discursos mais kerigmáticos de Jesus, provavelmente ocorreu em algum lugar nas colinas galileias próximas ao mar.

No tempo de Jesus a Galileia era também marcada por movimentos messiânicos e por revoltas ocasionais contra o domínio romano. Essa atmosfera alimentava a expectativa messiânica que pode ter influenciado a recepção de Jesus na região, com muitos galileus vendo nele a esperança de libertação mais política que espiritual. No entanto, a mensagem de Jesus sobre um Reino de Deus não violento e espiritual contrastava com as aspirações de muitos que esperavam ver surgir um líder político para libertar Israel.

A Galileia não se transformou apenas no cenário geográfico do ministério de Jesus, mas também num contexto social, cultural e político que moldou sua interação com a população, criando o pano de fundo de suas mensagens. A região, com sua diversidade e dinamismo, proporcionou o ambiente no qual Jesus proclamou sua mensagem de amor, compaixão e transformação, deixando um impacto duradouro na história e na fé cristã.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2025-08/curiosidades-biblia-galileia-epoca-jesus.html

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

A Paz não é ausência de guerra!

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Luiz Antônio de Araújo Guimaraes 

  

‘Certamente, muitos acham que a paz é a ausência de guerra, e não o é. Ora, as pessoas e o mundo vivem em constantes guerras, e todos os dias são desafiados a viver a paz — a paz que vem do mais íntimo do coração, a paz que não é ausência de turbulências ou provações, mas uma paz interior.

No Evangelho, Jesus diz claramente : ‘Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!’ (Jo 14,27). Ele diz isso no contexto que antecipa a sua partida. Se a paz fosse conforme o mundo quer e compreende, Jesus não se deixaria ser conduzido ao calvário e à morte, teria cessando-as; porém, Ele quis passar por todo aquele tormento para dizer que, mesmo posto ao extremo do escárnio e da dor, ali não seria o fim, mas apenas uma passagem para uma realidade onde haveria a eterna paz, ou seja, o Céu. Por isso, a promessa para os seus discípulos é a de que não se atemorizem, não fiquem com medo do que irão contemplar : a dor e a morte de seu Mestre.

Dito isso, o primeiro passo para superar uma guerra é enfrentá-la com o desejo de paz. Jesus teria toda a força necessária para fugir de sua cruz, porém enfrentou-a. A guerra, por sua vez, não pode ser entendida como sendo apenas bélica, mas, sobretudo, como a guerra interior. Apesar dos sofrimentos exteriores que O alcançariam, Jesus estava em paz consigo mesmo e em plena comunhão com o Pai, o que fez Dele a pessoa mais inspiradora para se enfrentar uma guerra.

Se as coisas exteriores atormentam o tempo todo, cabe a você saber de que lado quer ficar : do lado da paz consigo mesmo ou do lado da guerra que lhe sobrevém das realidades externas. Se você estiver em paz consigo mesmo, venha o que vier e aconteça o que acontecer, nada e ninguém o tirarão do prumo, ou seja, do equilíbrio. Então, ter paz consigo e não ter medo de enfrentar as guerras que hão de vir é passo seguro rumo à paz duradoura.

Você não tem o domínio de que as ‘guerras’ não aconteçam; porém, tem o domínio de não permitir que elas o dominem. Os jovens são aqueles que mais são desafiados a administrar suas emoções, até porque ainda não possuem maturidade suficiente para enfrentar suas guerras. Por isso, a Igreja os orienta tanto por meio da Sagrada Escritura quanto por meio do Catecismo : ‘Não vos deixeis levar pela ira para o pecado! Não se ponha o sol sobre a vossa ira!’ (Ef 4,26). Por sua vez, o Catecismo afirma que ‘a ira é, primeiramente, uma emoção natural, como reação a uma injustiça sentida. Quando da ira, porém, surge o ódio e se deseja mal ao próximo, aquele sentimento normal torna-se uma grave falta contra o amor. Qualquer ira descontrolada, sobretudo o pensamento vingativo, está orientada contra a paz e destrói a ‘tranquilidade da ordem’’ (Catecismo Jovem da Igreja Católica, 396). Daí a necessidade de não se deixar levar pela ira, para não gerar ódio e, por consequência, não alimentar a guerra.

É válido o princípio do Evangelho : ‘Eu, porém, vos digo : amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem!’ (Mt 5,44). A oração é um caminho seguro para a paz. Se alguém quer guerra contigo, que tal rezar por essa pessoa? Esta oração não será em vão : surtirá um efeito muito grande não somente em sua vida, mas também na vida do outro. Há um princípio que diz : ‘A briga só acontece quando os dois querem!’ De fato, se você não quer guerra, mesmo que o outro queira, ele não terá forças para retirar a sua paz. A paz é uma decisão e deve começar em você.

O líder pacífico Mahatma Gandhi já dizia : ‘Não há caminho para a paz. A paz é o caminho!’ Assim sendo, que tal você entrar e seguir esse caminho? Contudo, não lhe faltarão provações, mas, se a sua decisão for a paz, a paz o acompanhará para sempre. A escolha é sua! Paz gera paz, guerra gera guerra!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/a-paz-nao-e-ausencia-de-guerra.html

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

São Gregório Magno e o Canto Gregoriano

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Ricardo Abrahão  


São Gregório Magno, Papa e doutor da Igreja, nasceu em 3 de setembro do ano 540 e morreu a 12 de março do ano 604. 

 

‘A música sempre teve um papel fundamental na celebração litúrgica, mas, a partir de São Gregório Magno, ela recebe atenção mais profunda e se torna necessária escola de oração. Após ter estudado Direito e entrado para a política como prefeito de Roma, decidiu retirar-se em um mosteiro, onde praticou a oração, o recolhimento e dedicou-se aos estudos da Sagrada Escritura e dos padres da Igreja. De monge a Papa, Gregório promoveu reforma litúrgica na Igreja e o canto e a música passaram por revisão e organização em vigor até os dias de hoje. Em sua obra Diálogos redigiu o exemplo de homens e mulheres com reflexões místicas e teológicas. O segundo livro é sobre a vida de São Bento de Núrsia. O mosteiro beneditino ofereceu grandes provas sobre a eficiência entre música, coro, oração e trabalho. Inspirado no modelo musical que ressoa até os dias de hoje pelos claustros, Gregório compôs melodias próprias à liturgia e fundou a Schola Cantorum.

Antes de tudo, o canto gregoriano é oração! Sem conceituar o que é oração não há possibilidade de entender e interpretar o canto gregoriano. A Schola Cantorum era inicialmente formada por clérigos e incluía um cantor ou mais solistas. O sentido de haver um cantor ou solista é remontar à voz do pastor que guia as ovelhas, isto é, quem nos guia é a Palavra de Deus e canto gregoriano nada mais é do que a Palavra cantada. Por que cantada? Porque o canto é a manifestação do corpo em movimento à Palavra, o exercício do Espírito Santo para que a fé seja viva, pois a fé sem obras é morta. É um princípio que o Concílio Vaticano II reforça com letras maiúsculas, apontando o verdadeiro sentido do canto em nossa vida de Igreja : ‘Os compositores, imbuídos do espírito cristão, compreendam que foram chamados para cultivar a música sacra e para aumentar-lhe o patrimônio. Que as suas composições se apresentem com as características da verdadeira música sacra e possam ser cantadas não só pelos grandes coros, mas se adaptem também aos pequenos e favoreçam uma ativa participação de toda a assembleia dos fiéis. Os textos destinados ao canto sacro devem estar de acordo com a doutrina católica e inspirar-se sobretudo na Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas’.

São Gregório faz reverberar em nossos ouvidos a beleza da liturgia bem celebrada, da submissão do canto ao Espírito Santo e da construção harmônica de sermos Igreja, o coro do Senhor! Interpretar a Palavra de Deus pelo canto é mergulho na oração, na meditação, na contemplação interior. É fazer da vida uma eterna salmodia! No livro Liturgia das Horas e contemplação, Anselm Grün diz : ‘Sem oração somos separados da vida divina em nós. Sem oração ela é soterrada sob os escombros do barulho dos nossos pensamentos e sentimentos’.

Que o canto da caridade seja o único canto de nossos corações!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/sao-gregorio-magno-e-o-canto-gregoriano.html