Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Preciso de direção espiritual, para poder pedir
conselhos para avançar em minha vida como batizada’, disse Christine a Aleteia.
A médica de Cannes, 44 anos, conheceu seu diretor espiritual, um padre jesuíta,
há vinte anos. Para a estudante que se convertera e fora batizada dois anos
antes, era ‘algo necessário e natural ao mesmo tempo’. ‘Ele era como um guia
para mim. Eu não tinha ninguém em minha família para responder minhas dúvidas.
Consegui avançar graças à sua ajuda. Ele me ouviu e se preocupou, me apoiou e
também soube apontar as coisas que não estavam certas’, explica ela.
Apoio na busca de Deus
Chamada
de ‘direção espiritual’ com sua longa tradição na Igreja desde os Padres do
Deserto no século IV, a orientação espiritual continua sendo indispensável para
muitos cristãos que buscam apoio em sua busca por Deus. Na verdade, ‘mais do
que nunca’, adverte o Papa Francisco, que fala disso em sua encíclica Evangeli
Gaudium. Diante da falta de pontos de referência de todos os tipos, a demanda
por este tipo de acompanhamento está crescendo o tempo todo. A aspiração de ‘viver
melhor’ está ecoando em todos os lugares…
Entretanto,
a arte do acompanhamento espiritual e do discernimento requer habilidades e
regras muito precisas : a experiência, a forma de proceder, a escuta, a
prudência e a capacidade de compreensão… Para cultivá-las, é preciso estar bem
ciente de todos os pontos de atenção, vigilância ou alerta. O que são eles? Que
abordagem deve ser adotada para apoiar alguém espiritualmente? Aqui estão
algumas chaves para um acompanhamento espiritual bem-sucedido que os Padres do
Deserto, Santo Inácio de Loyola e Santa Teresa d’Ávila consideravam essenciais.
1 – Não cair na confusão entre
psicologia e direção espiritual
Os
psicólogos não tomaram hoje o lugar dos diretores espirituais? Não, pois a
ajuda psicológica não se opõe à ajuda espiritual. O perigo é o de substituir um
pelo outro. A pessoa que recorre ao apoio psicológico quer entender o que está
acontecendo com ela para melhorar, enquanto que o acompanhamento espiritual é
uma busca para poder colocar Deus no coração de sua vida.
O
cuidado espiritual não é um processo de duas pessoas, mas um processo de três
pessoas, com a presença do Espírito Santo.
‘Há
uma distinção essencial entre os dois : o acompanhamento espiritual não é feito
‘a dois’, mas ‘a três’, com a presença do Espírito Santo’. É em seu nome que o
acompanhante dirá as coisas e a pessoa que está sendo acompanhada ouvirá. ‘Isto
muda tudo’, diz Micheline Claudon, psicoterapeuta que dirige cursos de
treinamento para conselheiros espirituais da Anima Mea, à Aleteia.
‘Os
sacerdotes e psicólogos têm cada um seu lugar, seu papel e seu campo de
competência. Eles não devem tentar fazer o que o outro faz, mesmo que, por mais
paradoxal que pareça, a psicologia e a espiritualidade se entendam e falem uma
com a outra. Isto é o que diz o Padre Laurent Lemoine, dominicano e
psicanalista, autor de ‘What’s New Doctor? La psychanalyse au fil du religieux
(Salvator).
Mas
como podemos evitar esta confusão? ‘Lutando contra uma certa desconfiança entre
os clérigos com relação ao conhecimento do que é o apoio psicológico’. Não é
uma questão de escolher um ou outro. Os dois são compatíveis, mesmo que às
vezes seja necessário saber como priorizar um ou outro’, explica Micheline
Claudon.
2 – Saber sobre as
expectativas da outra pessoa
‘Assim
que há um encontro no contexto do acompanhamento espiritual, há uma expectativa
por parte da pessoa que está sendo acompanhada. Isso será decisivo para a
natureza deste encontro. Encontrei na Lettre à un père spirituel um
texto sobre o acompanhamento espiritual escrito pelo padre jesuíta Jean
Gouvernaire, uma frase de imensa exatidão : ‘Não se aproxima das profundezas de
uma pessoa com impunidade’.
Isto
significa que um nunca sai incólume do encontro com o outro. Nunca se é neutro
por definição. Por que isto é assim? Porque há transferências, um termo que vem
da psicanálise. Isso significa que atitudes e contra-atitudes estão envolvidas
em todas as nossas relações humanas e serão a força motriz por trás de nossas
ações’, diz Micheline Claudon. Estar consciente de que a neutralidade em um
encontro ‘acompanhado’ não existe é um ponto muito importante de vigilância.
3 – Assegurar a estrutura
do encontro
Outro
ponto-chave de atenção é garantir a estrutura do encontro. O diretor espiritual
(hoje chamado ‘pai espiritual’ ou ‘conselheiro espiritual’) está, desde o
início, em uma posição assimétrica. Estar ciente disso nos permite ter cuidado
para não usá-lo de forma inadequada.
Por
exemplo, a partir do momento em que o diretor espiritual sabe que a pessoa
acompanhada espera algo dele ou dela que a coloque em uma posição inadequada,
isto pode levar a uma deriva em direção a um abuso da posição de poder. Padre
Laurent Lemoine, capelão do Hospital Sainte-Anne em Paris e psicanalista,
recusa-se a aceitar como psicanalista alguém que ele conheceu na capelania. ‘Há
um risco, não apenas de confusão, mas de onipotência. Ao se colocar em todos os
lugares, você pode confundir a outra pessoa’, disse ele à Aleteia.
4 – Estabelecer limites
para si mesmo e para o outro
É
essencial que o conselheiro espiritual faça a si mesmo estas duas perguntas :
que limites devem ser estabelecidos para si mesmo e para o outro? Que lugar
deves ocupar no espaço relacional da pessoa que está acompanhando? ‘Imagine
alguém que diz ao seu conselheiro : ‘Ah, ainda bem que eu posso vê-lo, Padre.
Você vai ser o meu único contato pessoal da semana!’ ‘É evidente que esta
reunião exigirá uma vigilância especial por parte do conselheiro.
Independentemente de seu próprio valor e do que aconteça, é claro que a
expectativa da pessoa acompanhada será grande’, analisa Micheline Claudon.
5- Evitar o deslize da posição
de ‘salvador’
É
sempre importante garantir que a pessoa apoiada não se concentre em um único
encontro ou em uma única pessoa. ‘Neste tipo de situação, um terapeuta
perguntará facilmente à pessoa que está sendo aconselhada sobre seus amigos e
suas atividades fora do trabalho. O objetivo? Para evitar focalizar
exclusivamente o encontro entre o terapeuta e o paciente, pois há um risco real
de escorregar mantendo a posição de ‘salvador’. O mesmo deslize é possível na
orientação espiritual.
Para
evitar o deslize da posição de ‘salvador’, é essencial seguir um treinamento
apropriado.
‘Para
evitar isto, nunca é demais repeti-lo, é essencial seguir um treinamento
apropriado. Um certo desconforto pode ser um sinal para não ficar isolado, mas
ir falar com uma pessoa competente e confiável’, sublinha o psicoterapeuta.
Se
o conselheiro se encontra repetidamente na posição de ‘salvador’, ela continua,
ele deveria fazer a si mesmo esta pergunta : O que me leva a me encontrar na
posição de ‘salvador’ tantas vezes? O que isso significa para mim? Este
trabalho requer supervisão para ser capaz de analisá-lo adequadamente. Isso
permitirá uma melhor compreensão do próprio funcionamento, mas também da forma
como isso terá impacto na relação com a pessoa que está sendo apoiada.
6 – Saber como detectar uma
emergência psiquiátrica
Se
o conselheiro espiritual for treinado, ele será capaz de detectar uma
emergência psicológica ou mesmo psiquiátrica na pessoa que está sendo
acompanhada. Se não tiver treinamento, ele pode confundir os sintomas da
depressão melancólica (que é a mais grave das depressões) com uma dificuldade
ligada ao relacionamento com Deus. Neste caso, não é um problema espiritual,
mas uma complicação psiquiátrica grave que pode levar ao suicídio. Se o
conselheiro for bem treinado, ele ou ela terá algumas chaves para identificar
se o caso exige acompanhamento psiquiátrico imediato.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2022/12/22/direcao-espiritual-6-pontos-a-ter-em-mente/
Nenhum comentário:
Postar um comentário