Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘A Igreja Católica não é uma ONG ou uma associação de
voluntariado, isso já enfatizou o Papa em diversas ocasiões. No entanto, a
Igreja é fonte de caridade e dentre as suas ações há muito espaço – e
necessidade – do trabalho voluntário. Exatamente isso é o que enfatiza o Papa
Francisco no seu vídeo do mês de dezembro, no qual pede orações pelos
voluntários e pelas organizações de voluntariado. Mais especificamente,
Francisco convida-nos a rezar ‘para que as organizações de voluntariado e
promoção humana encontrem pessoas desejosas de empenhar-se pelo bem comum e
procurem caminhos sempre novos de colaboração a nível internacional.’
Num
mundo sempre mais individualista e marcado pela cultura do descarte, é
interessante refletir sobre o significado e a importância do voluntariado,
dentro e fora da Igreja. Voluntário é aquele que age por vontade própria, que
se compromete com um trabalho ou assume a responsabilidade de uma tarefa sem
ter a obrigação de o fazer, que realiza alguma ação movido pelo desejo sincero de
fazer o bem, sem esperar nada em troca, sem pretender nenhum pagamento pelo
trabalho exercido. Alguém que quer colaborar com a construção de um mundo
melhor, agindo por empatia, ou seja, com a capacidade de se colocar no lugar de
outra pessoa.
Ser
voluntário nos enche de alegria. E vai muito além, pois nos abre à justiça
social, ao amor ao próximo, ao desenvolvimento humano, ao crescimento pessoal e
comunitário. Exatamente isso é o que destaca o Papa Francisco no seu vídeo do
mês : ‘o mundo precisa de voluntários comprometidos com o bem comum’.
Precisa de pessoas que se comprometam com o outro, com a comunidade, que
estejam dispostos a ‘multiplicar a esperança’.
Para
ilustrar a importância do voluntariado, o Sumo Pontífice utiliza uma expressão
muito bonita e cheia de significado : a imagem do artesão, tantas
vezes já utilizadas por Francisco, junto ao conceito de misericórdia,
sentimento ou virtude ao qual dedicou inclusive um ano jubilar (2016).
Francisco afirma que ‘ser voluntário é ser artesãos de misericórdia :
com as mãos, com os olhos, com o ouvido atento, com a proximidade’.
Artesão
é aquele pequeno produtor que exercita a sua arte com paciência, cansaço,
cuidado e constância, mas também com grande maestria. Produz objetos cuja
realização exige uma particular capacidade técnica e um específico gosto
estético. O artesão é um profissional no seu campo, mas é também um artista,
criativo, inovador, minucioso. Empenha-se e envolve-se profundamente na sua
criação, vê a sua obra como uma extensão da sua pessoa. O artesão dá vida, ‘põe
a mão na massa’ diríamos popularmente.
O
conceito de artesão exprime bem a visão e a metodologia de trabalho a serem
concretizadas para alcançar a misericórdia e a comunhão. É um trabalho feito de
pequenos e grandes gestos, a cada dia, em cada situação, colocando atenção a
cada pequeno detalhe, como fizeram Jesus e os seus discípulos. Ser artesão
significa, como indicou o Papa Francisco em outra ocasião, «praticar a
paciência, o diálogo, o perdão, a fraternidade» (Angelus, 19 de fevereiro
de 2017).
A
imagem do ‘artesão’ é utilizada pelo Papa com frequência. Poderíamos recordar,
por exemplo, de quando incentivou os participantes no Concerto Beneficente ‘Avrai’,
realizado na Sala Paulo VI em 2016, a serem ‘artesãos de misericórdia a cada
dia’; ou quando nos falou dos ‘artesãos de justiça e de paz’, na mensagem para
a LIII Jornada mundial da Paz (1° de janeiro de 2020); de ‘artesãos de
fraternidade’, na mensagem na Praça do Campidoglio, Roma (26 de março de 2019);
ou então dos ‘artesãos de hospitalidade’, durante a cerimônia de boas-vindas na
Tailândia (21 de novembro de 2019); e ainda de ‘artesãos de paz’, no Angelus de
1° de janeiro de 2019. Comum a todos esses discursos, inclusive à imagem do
voluntário como um ‘artesão de misericórdia’, está a certeza de que a atividade
artesanal requer trabalho exigente e contínuo, e pode dar resultados
esplêndidos, gerando verdadeiras obras de arte.
A
misericórdia que somos convidados a construir artesanalmente através do
voluntariado se torna sinal potente do amor de Deus no mundo e por isso um
testemunho forte de comunhão, de fraternidade e de alegria do Evangelho. Tema
provocador para refletir e rezar especialmente durante o Advento, enquanto
esperamos alegres e ansiosos pela encarnação do Filho de Deus, expressão maior
do seu amor e misericórdia.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-12/artesaos-misericordia-papa.html
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