Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teólogo protestante
‘Neste próximo final de semana, grande parte do
Ocidente celebra o Natal. Possivelmente, este será mais um texto refletindo
sobre a data, dentre tantos outros que também farão o mesmo. Afinal, as datas
comemorativas, e principalmente o Natal, nos fazem pensar sobre o cotidiano e
refletir sobre elas.
Falar do Natal, por sua vez, implica a lembrança da
narrativa do nascimento de Jesus, ainda que qualquer pessoa que estude a Bíblia
e a história de uma maneira mais aprofundada saiba que Jesus não nasceu no mês
de dezembro. Mas, mais importante do que a data exata (algo que nunca
sabermos), é a mensagem trazida pelos evangelistas que colocaram tal narrativa
em seus escritos.
Em Mateus, vemos uma narrativa que foca em Jesus como
sendo o cumprimento das promessas de Deus a Israel. Alguns elementos podem nos
dar esses indícios, tais como o fato de ter iniciado seu texto com uma
genealogia de Jesus, mostrando-o como aquele que descendia da linhagem de Davi
e, portanto, o Messias esperado pelo povo; ou a presença dos magos que vieram
do Oriente e entregaram seus presentes ao bebê nascido, simbolizando a promessa
de que todos os povos se prostariam diante de Javé; ou ainda, ao fazer o
contraponto entre Jesus, o novo Moisés, e o antigo, ao relatar que assim como o
primeiro Moisés havia sido ameaçado de morte pelo rei quando era uma criança,
tendo sido criado no Egito, lugar do qual sairá depois, libertando o povo de
Israel, também Jesus precisa ir para o Egito fugindo de Herodes, para depois
retornar para sua terra, trazendo a salvação ao povo. O paralelo entre Moisés e
Jesus se mostra uma importante chave de leitura para compreensão do Evangelho
de Mateus, algo que, aparentemente, o autor deixa claro desde a narrativa do
nascimento.
Em Lucas, por sua vez, vemos uma narrativa diferente.
Não se fala de sua genealogia, nem cita os magos que vieram do Oriente para
entrega de presentes. Nada disso parece ser importante para o propósito lucano.
Seu foco está tanto em falar do nascimento de João Batista, colocando este como
precursor do Messias, como o Elias que haveria de ‘preparar ao Senhor um povo
bem disposto’, conforme Lucas 1,17, como apresentar Jesus como aquele que é
concebido pelo Espírito e, consequentemente, como mostrado em Atos, aquele que
dispensa o Espírito para a formação da comunidade dos que creem. A revelação do
nascimento, por sua vez, não se deu nos palácios. Lucas nem relata que Herodes
ficou sabendo disso, mas tal anúncio é feito aos pastores que estavam no campo,
que seguem a caminho de Belém, encontram o menino e voltam glorificando a Deus.
Lucas também faz questão de falar da circuncisão de
Jesus, bem como do cumprimento da lei por parte dos pais, e ainda das
personagens de Simeão e Ana, que dão testemunho a respeito da salvação que
chega por meio desse menino que nasce.
Mesmo que os relatos sejam diferentes, uma vez que,
claramente, foram escritos para comunidades diferentes, com questões e
problemas diferentes, a tônica da salvação por meio desse menino que nasceu é
comum. Seja apresentando Jesus como o novo Moisés, seja falando de Jesus como aquele
concebido pelo Espírito de Deus, ambos querem mostrar que Deus não se esqueceu
de sua promessa feita ao seu povo, mas em seu tempo, promoveu a salvação, que
foi reconhecida somente por aquelas pessoas que estavam atentas aos sinais dos
tempos, tais como os magos, os pastores, Simeão e a profetisa Ana. Em outras
palavras, a salvação é anunciada aos estrangeiros, aos humildes, às mulheres, e
reconhecida por meio do Espírito de Deus.
Mesmo com as diferenças narrativas, a mensagem
permanece do Natal permanece : Deus não se esqueceu da sua criação, e por meio
do seu Espírito nos faz perceber que sua salvação se faz presente por meio de
Jesus.
Feliz Natal.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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