terça-feira, 30 de novembro de 2021

Conheça duas mães que vivem em campos de refugiados na Grécia

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de I.Media para Aleteia


‘Cinco anos após sua primeira visita, o Papa Francisco vai Lesbos novamente, em 5 de dezembro de 2021. Duas mulheres concordaram em testemunhar sobre sua experiência como refugiadas na Grécia, tendo passado pelas ilhas do Egeu, que se tornaram símbolo da crise migratória no Mediterrâneo nos últimos anos.

Zita – camaronesa

Zita é mãe de três filhos, mas não os vê desde que saiu de Camarões, onde as condições de vida se tornaram impossíveis. Depois de uma longa jornada, ela foi primeiro para a Turquia, onde ficou por vários meses. Mas ‘não correu bem; eu não consegui encontrar um emprego’, ela explicou a I.Media.

Então ela tentou chegar à Europa de barco inflável. ‘Foi muito arriscado’, lembra ela. ‘Atravessamos o mar. Chegamos à Grécia, a Samos, em 30 de outubro de 2019.’ Para Zita, o campo de refugiados da ilha de Samos, a cerca de cem quilômetros ao sul de Lesbos, ‘é o inferno; é muito, muito, muito difícil viver naquele acampamento’. Ela ficou lá por quase dois anos, antes de ser transferida em 30 de agosto de 2021, para outro lugar a uma hora de Atenas.

Hoje, a mulher camaronesa vive em um contêiner com outras três mulheres, sem trabalho e sem apoio econômico. ‘Eu daria qualquer coisa para ir para outro país’, diz ela à beira das lágrimas, expressando sua angústia.

Zita é cristã? ‘Sem dúvida’, ela responde com convicção. Ela espera que a vinda do Papa Francisco melhore as condições dos refugiados : ‘Na Grécia é tão difícil… E aqueles que ficaram em Samos dizem que o novo campo é como uma prisão’.

Sara – afegã

No Afeganistão, os artigos que Sara (nome fictício, por razões de segurança) sobre o tratamento às mulheres no Islã não caíram bem. Atacada várias vezes na rua e ameaçada, a escritora deixou seu país em junho de 2019. Sozinha com seu filho de quatro anos, ela primeiro foi para o Irã, depois atravessou ilegalmente a fronteira com a Turquia, à noite, pelas montanhas.

Então começou uma viagem de seis meses rumo à Grécia. ‘Tivemos que parar cinco vezes; os barcos, de cerca de 10 metros, estavam sobrecarregados com cerca de 50 pessoas cada’, diz a jovem afegã em um inglês hesitante. Na sexta travessia, em janeiro de 2020, Sara e seu filho desembarcaram em Samos, onde viveram por 15 meses em um acampamento de tendas em uma floresta.

Tendo obtido o status de refugiada — mas ainda esperando por documentos — ela foi então transferida para Atenas, em um abrigo compartilhado com outras duas mães solteiras. A situação continua dramática, sem assistência estatal : ‘Alguns refugiados têm familiares que trabalham, mas mulheres como nós não têm ajuda com as crianças’.

Sara, que é filha de muçulmanos mas não segue o Islã, vê a visita do Papa como um evento de paz. ‘O Papa é um homem de paz. Ele transmite essa mensagem em suas viagens’, afirma.

Paz é o que Sara está procurando, e planeja emigrar para outro lugar. ‘Eu gostaria de publicar minhas memórias como refugiada, quando meu espírito se tornar livre. Não conseguimos encontrar paz aqui. Se não tivermos condições mínimas satisfatórias, não poderemos continuar…

Ela também espera que a visita do Papa destaque a crise migratória. ‘Acho que se falou muito sobre isso no início, mas agora as pessoas estão esquecendo os refugiados na Grécia.

Números

De acordo com a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), mais de um milhão de migrantes chegaram à costa grega desde 2014; e quase 8.000 desde o início de 2021.

Recentemente, os antigos campos em Samos e Lesbos fecharam. Seus ocupantes foram transferidos para o continente grego, para países da Europa ou para outros acampamentos nessas ilhas.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/11/30/conheca-duas-maes-que-vivem-em-campos-de-refugiados-na-grecia/

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Por que os padres vestiam preto durante o Advento na Idade Média

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Philip Kosloski,

escritor e designer gráfico

 

‘Hoje, os padres usam a cor roxa durante o Advento. Mas nem sempre foi assim. Na verdade, por alguns séculos, na Idade Média, o preto era mais comum durante o Advento.

Segundo o livro Notes on the history of the liturgical colours (‘Notas sobre a história das cores litúrgicas’), o preto marcou presença do século XII ao século XV :

Na época do [Papa] Inocêncio III [1198-1216 ], o preto era a cor do Advento em Roma até a véspera de Natal. Durandus, que viveu um século depois de Inocêncio III, usava o roxo, enquanto Radulphus Dean de Tongern, que morreu em 1403, diz que o preto era usado em Roma em seus dias. Isso mostra bem que preto e o roxo eram considerados sinônimos liturgicamente.

Mas isso não era privilégio de Roma, já que o preto marcava presença durante o Advento em outros lugares até o século XVI.

Historicamente, o preto sempre remeteu ao luto, à penitência e à morte. O Advento era visto como um período de intensa preparação espiritual, em que nós morríamos para nós mesmos, para que ‘renascêssemos’ no Natal. 

Também refletia a ideia de que o mundo estava em trevas antes da vinda de Jesus no Natal.

Roxo substitui o preto no Advento

Na edição de 1904 de The American Ecclesiastical Review, o autor explica por que o preto foi, mais tarde, substituído pelo roxo :

O preto é uma negação da cor e uma expressão peculiar de tristeza. Na Sagrada Escritura, infortúnios de todo tipo estão relacionados com a ideia de escuridão. Assim, o preto na Igreja tornou-se um símbolo do mal e da adversidade, tanto física quanto espiritual. É por esta razão que até o século XIII era usado durante as épocas de aflição e penitência. Porém, uma vez que o pecado é o único infortúnio verdadeiro na vida espiritual, não exclui absolutamente a luz da graça, o roxo tomou o lugar do preto, que foi retido na Liturgia apenas na Sexta-feira Santa.

O roxo acabou substituindo o preto no Advento, ainda refletindo um período de penitência, mas não uma cor tão forte quanto o preto.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/11/29/por-que-os-padres-vestiam-preto-durante-o-advento-na-idade-media/

domingo, 28 de novembro de 2021

O sentido do sofrimento

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Francisco Borba Ribeiro Neto


‘‘Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus estão mais altos do que a terra, assim estão os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos’ (Is 55, 8-9). De tempos em tempos me dou conta do quanto essas palavras são válidas para nós, que vivemos numa cultura que abandonou em grande parte suas raízes cristãs, de modo tal que frequentemente usamos critérios ‘mundanos’ acreditando estar seguindo a Jesus.

Quando contempladas numa perspectiva cristã, palavras como amor, felicidade e sofrimento têm um sentido radicalmente diferente daquele usado por nós cotidianamente – radical não tanto no sentido de diferente, mas no sentido de brotarem de uma outra origem e produzirem outros tipos de frutos. Ao me deter nesses temas, não tenho o interesse de escrever sobre mística e espiritualidade – coisa que outros em Aleteia fazem muito melhor do que eu – mas sim de chamar a atenção para as características da mentalidade cristã. Minha questão é não nos perdermos no caminho da fé, desorientados por uma falsa compreensão da experiência e dos valores cristãos.

Nossa visão sobre o sofrimento humano é um exemplo típico dessa divergência entre nosso olhar corrente e um olhar cristão. São João Paulo II desenvolve o tema em sua Carta Apostólica Salvifici Doloris, de 1984. Escrita poucos anos depois do Papa ter sofrido uma tentativa de assassinato, com uma dolorosa convalescença, o texto é não apenas uma reflexão teológica sobre o sofrimento, mas recolhe de certa forma a própria experiência humana de sofrimento do pontífice.

Verificar, antes de teorizar

Ninguém deseja sofrer. A busca do sofrimento por si mesmo é um ato masoquista que se choca com a natureza humana. Nada mais compreensível do que a nossa oração ser para que Deus ‘afaste de nós esse cálice’, como o próprio Cristo pediu (cf. Mt 26, 39). Contudo, a lógica de Deus parece ir em sentido contrário ao desejo humano…

Quando o Messias vem ao mundo, não vem livrar os seres humanos do sofrimento, mas sofrer como um deles. A inversão de expectativas chocou todo o mundo antigo, quando os cristãos passaram a pregar sua doutrina. Após séculos, nos acostumamos com essa perspectiva, contudo muitos em nossa sociedade deixam de aderir à fé por causa desse fato. Como pode um Deus onipotente e amoroso não nos livrar do sofrimento?

Os desígnios de Deus são misteriosos. Ele não seria Deus se nós – com nossos parcos recursos intelectuais – pudéssemos compreender a lógica com a qual orienta Sua criação ao longo de toda a eternidade. Mas, apesar disso, podemos nos aproximar dessa lógica se nos propomos a verificar a Sua promessa de amor a nós.

Curiosamente, trata-se de uma verificação muito semelhante ao método científico. O cientista não deduz como a natureza deve ser e a partir daí faz uma teoria. Ele, em primeiro lugar, observa o que acontece e, a partir da observação, procura entender a natureza. O que Deus pretende nos deixando sofrer? Por que deixou até mesmo seu Filho sofrer? A resposta a essas perguntas são misteriosas, mas estaremos ainda mais distantes de compreendê-las se não mergulharmos na experiência do sofrimento vivido à luz do amor de Deus.

O sentido é mais forte que a dor

O adulto sabe que existe uma experiência ainda mais terrível que sofrer : ver aqueles que muito amamos sofrerem. Objetivamente, a dor não é última palavra sobre a nossa vida. Um individualismo camuflado se introduz em nossa mentalidade quando imaginamos que a pior coisa que pode nos acontecer é sofrermos com algo que nos acontece. O pior é aquilo que faz a pessoa amada sofrer.

A dor vivida sem a perspectiva do amor se torna, de fato, o sofrimento maior. Mas não tanto pela dor em si, mas pela falta de um amor que lhe dê sentido. Os grandes amantes oferecem a própria dor pelo bem dos amados. Com isso, descobrem um sentido para o sofrimento – e esse sentido torna-se mais forte que a própria dor.

Deus quer que seus filhos muito amados descubram a força do amor, descubram que o amor é mais forte que o próprio sofrimento. Mas, só existe um modo de compreender esse fato : sofrendo com amor. O paradoxo do Deus amoroso que não tirou o sofrimento do mundo se revela como uma afirmação da força do amor.

Essa é uma das conclusões da Salvifici Doloris, que reputo como uma das obras mais essenciais do magistério da Igreja : sofrendo por nós, Cristo deu-nos a chance de nos tornarmos ‘coparticipantes’ de sua obra salvífica, ao também nós sofrermos por amor a nossos irmãos. A grandeza do sofrimento é poder ser doado, como gesto de amor. O sofredor – ao doar sua própria dor pelo bem de outros – está mais próximo do coração de Deus e da justa compreensão do Seu amor por nós.

Uma caminhada necessária

No momento mais aflitivo, chega a ser ofensivo dizer essas coisas a alguém. No auge da dor, todo sofredor acredita que seu sofrimento é incomparável ao dos demais. Um dos efeitos da dor é justamente entorpecer nossa racionalidade e dificultar uma abordagem objetiva dos problemas.

Por isso, a compreensão do sentido do sofrimento é uma questão que temos de enfrentar quando não estamos sofrendo. quando chegar o momento da angústia, os termos têm que estar claros, para que possamos fazer uma justa verificação do ‘significado salvífico da dor’.

Ser capaz de olhar o sofrimento com um olhar cristão não nos livrará da dor, nem nos colocará num conformismo resignado, mas nos abrirá cada vez mais para os horizontes ilimitados do amor.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/11/28/o-sentido-do-sofrimento/

sábado, 27 de novembro de 2021

O verdadeiro significado do Advento

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo d0 Padre Washington Paranhos, SJ

 

‘A palavra ‘advento’ é de origem latina e significa ‘chegada’, ‘aproximação’, ‘vinda’. No Ano Litúrgico, o Advento é um tempo de preparação para a segunda maior festa cristã : o Natal do Senhor. Este tempo é marcado por uma vivência mais profunda da vida de oração. A leitura orante deste período nos coloca em contato com as profecias de salvação do Antigo Testamento, com a expectativa que os cristãos da Igreja primitiva tinham da Parusia e com os eventos principais que antecederam o nascimento de Jesus.

A liturgia do tempo do advento contém uma autêntica espiritualidade litúrgica, centrada na vinda do Senhor e sua espera; a vinda do Senhor na carne e no fim dos tempos, assim como sua constante presença na Igreja que é prefigurada de modo particular em Maria, virgem, mãe da esperança. Três figuras bíblicas nos são apresentadas e ganham destaque na celebração do Advento : todos os personagens do Antigo Testamento que expressam o anseio pela vinda do Messias, especialmente o livro de Isaías e os Salmos 79 e 84; João Batista, porque foi vocacionado a ser o precursor do Messias; Maria, porque foi escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador.

A espiritualidade do Advento também é marcada por algumas atitudes básicas : a preparação para receber o Cristo; a oração e a vivência da esperança cristã. A preparação para receber o Senhor se dá na vivência da conversão e da ascese. Precisamos ter um olhar atento sobre nós e a realidade que nos cerca e nos empenharmos para correspondermos com a ação do Espírito de Deus que quer restaurar todas as coisas.

Para John Henry Newman o nome do cristão é ‘aquele que espera o Senhor’. Porém, devemos reconhecer que durante séculos, no Ocidente, a expectativa da vinda do Senhor tem sido uma dimensão ausente na vida de fé dos cristãos. Alguém já escreveu : ‘Estou cansado de ver os cristãos que esperam a vinda de seu Senhor com a mesma indiferença com que esperam a chegada do ônibus’.

O revelador dessa realidade é a maneira habitual de compreensão e vivência do Advento. Estou convencido de que o Advento hoje, é o tempo litúrgico menos compreendido em seu valor e significado. Foi reduzido apenas ao tempo de preparação para a festa de Natal. Que triste! Não se entende que o Advento é a chave de todo o ano litúrgico : a escatologia é a verdade esquecida de todo o ano litúrgico.

O Advento é a chave para entender a celebração das festas da manifestação do Senhor em carne e osso : os fatos que imediatamente precederam o nascimento de Jesus Cristo, seu nascimento em Belém, a demonstração aos Magos, o batismo no Jordão…. Compreendidos em sua inteligência espiritual, os textos litúrgicos do Advento não expressam apenas a expectativa de um nascimento já ocorrido na história de uma vez por todas, mas sim a expectativa da vinda definitiva de Cristo em sua glória.

O modo de viver o Advento é símbolo da perda generalizada da dimensão escatológica que é uma das características distintas do cristianismo ocidental moderno e contemporâneo. A espiritualização progressiva da escatologia levou a existência cristã a sofrer de um grave mal : a amnésia da Parusia. Observamos como a doença do nosso tempo é a vontade de esquecer o advento de Deus, mas devemos recordar que somos homens e mulheres do Advento, que têm em seus corações a urgência da vinda de Cristo, e com olhos que espiam, buscando nos horizontes de suas vidas seu rosto amanhecendo.

Hoje, devemos reconhecer, que há uma patologia no modo de viver o Advento. Na realidade, o Advento é o único e específico tempo cristão, isto porque um tempo de jejum e penitência como a Quaresma compartilhamos com o Islã, o tempo da Páscoa com o judaísmo, mas a expectativa da vinda do Kyrios é apenas cristã. Só nós cristãos aguardamos o retorno de Cristo prometido : ‘Sim, eu venho em breve. Amém!’ (Ap 22,20). Por essa razão, privar o ano litúrgico de sua dimensão escatológica constitutiva significa subtrair da fé cristã a dimensão da esperança.

Assim compreendido e vivido, o Advento seria um momento muito mais eloquente no ano litúrgico para os fiéis de hoje. Homens e mulheres que lutam para ter esperança porque são privados de toda a esperança, às vezes até incapazes de esperar. Por essa razão, é necessário prestar atenção às liturgias que são muito festivas chegando ao limite do superficial, excessiva em tons e acentos, como se devemos sempre e a qualquer custo fazer festa.

Precisamos de liturgias capazes de dar razões para esperançar corações cansados e fatigados, capazes de reerguer todos que, como os discípulos de Emaús, param ‘com um rosto triste’. Sabemos que a dificuldade em acreditar e em confiar nos outros, na vida, no futuro, é um dos traços que caracterizam os homens e as mulheres do nossos dias e isso não pode deixar de impactar e marcar a fé do crente contemporâneo.

Entendendo o ano litúrgico não apenas como um ciclo, um anel fechado em si mesmo, mas como um movimento helicoidal que coloca a fé no caminho, no preciso contexto antropológico, cultural e social em que vivemos, para entender que nossas liturgias, e mais geralmente as celebrações dos sacramentos, são hoje chamadas a hospedar uma maneira de viver a fé, mesmo entre os crentes mais assíduos, que não é mais, como no passado, a soma de certezas inabalável, mas a expressão de um desejo por algo e de alguém em quem se pode esperar, de modo que acreditar signifique abrir-se e apegar-se a uma esperança.

De fato, hoje a fé precisa ser vivida principalmente como abertura à esperança. Nutrir a esperança, essa é hoje a primeira tarefa do ano litúrgico, dando razões para alimentar e exercitar-se no crer que não se é realidade visível, e essas realidades são nossa salvação. Sair da precariedade em que se encontra para entrar um dia na condição de beatitude em Deus. ‘Só a esperança na vida eterna nos torna devidamente cristãos’, escreveu Agostinho.

Hoje é muito difícil falar de esperança, dar razões da esperança, mas essa é a tarefa atual do ano litúrgico, porque a falta de esperança torna o homem estranho ao tempo, irremediavelmente ausente deste tempo presente. A esperança é exatamente esta : querer infinitamente o finito, é viver eternamente o tempo. Como Emmanuel Mounier escreveu em um ensaio dedicado a Péguy, a esperança ‘recria o que o hábito desfaz. É a fonte de todos os nascimentos espirituais, de toda liberdade, de toda a novidade. Precisamos semear começos onde o hábito leva à morte’.

O tempo do Advento é um tempo propício para animar a virtude da esperança, com a consciência de que somente Deus é o Salvador do mundo e que n’Ele reside o sentido de toda a existência. A virtude da esperança, suscitada pela vinda de Cristo, encontra no tempo do Advento um complemento necessário : a vigilância.

Maranatha, Vem Senhor Jesus!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1552492/2021/11/o-verdadeiro-significado-do-advento/

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Vida espiritual vivida na fé

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo d0 Padre Alfredo Sampaio Costa, SJ

 

‘Nossa vida espiritual se exprime num conjunto de práticas e sobretudo de atitudes e é centrada na atenção e na relação de amor que nos une a Deus. Essa atenção amorosa é a expressão de um ato de fé. Assim pois, nossa vida espiritual jorra de um ato de fé na realidade de nossa relação com Deus cuja revelação foi-nos feita pelo Cristo que nos dá o meio de realizá-la nele. Toda a vida cristã é fundada na fé, mas a importância da fé aparece sobretudo quando ‘a vida espiritual’ se desenvolve. Sem a fé nossa vida espiritual definharia e acabaria por morrer.

Na experiência mística a mais elevada como também na vida de oração a mais comum, sempre necessitamos fazer uma experiência de fé. Como anda a nossa vida de fé? Cremos verdadeiramente no Amor e na Misericórdia de Nosso Senhor para conosco? Uma vida espiritual sólida só se desenvolve se ancorada numa fé firme.

A fé e a percepção do termo da relação

Na experiência de oração, como podemos afirmar que tocamos algo do Mistério de Deus? Só na fé!

Toda relação humana funda-se numa confiança que repousa num ato de fé. Quando brotam os primeiros sinais do amor, eles nos incitam a um conhecimento mais profundo do amado/a. Se não houver, porém, uma resposta às primeiras tentativas que deem continuação às primeiras, será impossível chegar a uma confiança recíproca. O reconhecimento do alcance de um gesto ou de uma palavra será fruto de uma resposta inicial.

De fato, quantos não abandonam a vida espiritual exatamente por essa falta de respostas? Como é importante manter viva a lembrança dos primeiros sinais, do Amor primeiro e suas expressões! Procure fazer memória dos sinais do Amor primeiro do Criador por você!

É necessário que aquele a quem é dirigida uma solicitação se comprometa na sua resposta com suficiente verdade para poder captar o alcance do apelo que lhe é proposto. Deve ter uma confiança ‘provisória’, a qual, após a experiência, vai-se transformar em confiança. De fato, uma relação de confiança não se constrói de uma hora para outra. Assim, os dois vão aprender a se conhecerem e irá aos poucos sei estabelecer uma linguagem mútua que acabará por revelá-los um ao outro, até o dia em que, de certeza em certeza, com as dúvidas e os recuos necessários, cada um terá a garantia da sinceridade do amor do outro. A experiência mística genuína não tem como fruto um mero sentimento interior de paz e quietude. Ele provoca na pessoa uma atitude, uma resposta de amor e de compromisso.

Finalmente, o último passo será dado como um ato de entrega total, quando todas as experiências tiverem conferido uma certeza tal e cada um possa se arriscar totalmente nessa relação amorosa. Todavia, no passo final, há uma entrega de si ao outro num ato de confiança que supera em alcance e intensidade todos os atos anteriores. Dá-se uma percepção do coração do outro só concedida à confiança, portanto, a um ato de fé1. Compreendendo isso, entenderemos as experiências místicas de muitos santos, vividas como um ‘intercâmbio de corações’ ou ‘matrimônio místico’.

Como é gratificante encontrar pessoas com uma fé viva e atuante! Sentimo-nos fortalecer na nossa fé muitas vezes titubeante. Crer implica uma confiança total que engaja a existência inteira. Não é simplesmente a adesão a uma doutrina, porque essa doutrina é ‘vida’ e se encarna na existência cotidiana. O despertar da fé se processa, geralmente, de maneira progressiva, como no caso da Samaritana (cfr. João 4).

Paradoxalmente, na experiência mística ao mesmo tempo que somos tocados pelo Inefável, tal toque provoca em nós um desinstalar-se progressivo que nos abre à transparência do Mistério que contemplamos e que se faz presente no nosso cotidiano.

Confiar, um desafio contínuo para nossa fé

O ato de fé na pessoa de Cristo não pode ser pronunciado sem uma graça do mesmo Deus. Já existe na relação humana com Cristo uma ação divina desse mesmo Cristo que nos torna possível e desejável o ato de fé em sua divindade. Se não aceitamos engajar-nos na relação, será impossível ao Cristo, pelo menos normalmente, iluminar-nos sobre a veracidade do seu mistério. O primeiro ato de confiança compromete-nos numa relação que é um ‘risco assumido’. Corremos, nesse caso, o risco da fé. Podemos dizer que a fé alcança o valor de um conhecimento objetivo. Foi aceita como ‘a verdade de Outro’, uma verdade, uma realidade acreditada na palavra de Alguém. Não se trata, pois, de um mero sentimento. É importante perceber bem esse caráter ‘objetivo’ do conhecimento de fé. Movemo-nos sempre no âmbito de uma relação amorosa com Alguém!

Nosso ato de fé não é fruto de uma experiência, não é uma impressão subjetiva, tampouco uma projeção do nosso inconsciente. É a crença em Cristo, Filho de Deus, através da palavra de homens que o conheceram. Eles caminharam com Ele, por vezes dolorosamente, e o resultado de sua experiência é aceito por nós como uma verdade objetiva. Confiamos neles e, assim procedendo, fazemos um ato de fé no Cristo. O ato de fé faz-nos entrever outro mundo. No próprio ato de fé temos vislumbramos e, de certo modo, tocamos Aquele que é o termo de nossa relação!

Como viver a vida interior na fé

Quando dizemos a Cristo : ‘Eu creio em Ti’, que acontece? Aparentemente, nada de extraordinário; no entanto, algo se modificou. Somos interiormente introduzidos num mundo novo, aquele que o Cristo nos revela. Aceitamos que Deus seja para nós o ‘Pai’, um Pai que faz de nós, filhos e filhas seus. Acompanhando as palavras de Cristo, descobrimos um mundo extraordinário que é o mundo interior de Deus-Trindade.
É esse mundo novo que se abre diante de nós que somos chamados a penetrar na vida espiritual. Portanto, a experiência mística nada tem de alienante nem de egoísta, enquanto ela nos faz penetrar no mais profundo do mundo e da História para captar ali a Presença Amorosa da Trindade na sua missão de redenção. Somos chamados a nos mantermos numa atenção reverencial diante do Mistério, perscrutando o que nossa inteligência pode compreender da realidade que Cristo coloca sob nossos olhos. Mas, para cada intuição que é luz para nós, descobrimos um abismo de sombras que insistem em permanecer envoltas no mistério. Apoiando-nos no que entendemos, permanecemos em silêncio diante do que se mantém incompreensível.

Um conhecimento novo

Nesse ponto do processo da fé podemos dizer que ultrapassamos o mundo de nosso conhecimento humano. É oferecido ao homem um modo de conhecer que supera suas forças comuns. É perfeitamente compreensível que assim seja, visto o objeto da fé ser o mistério de Deus e só Deus poder falar de si mesmo e fazer-se conhecer. Nesse novo modo de conhecer, nossas faculdades normais se dilatam, atingindo novas possibilidades.

Quando aceitamos crer no que Cristo nos diz, produz-se entre Ele e nós uma misteriosa comunicação. Nossa faculdade de conhecer torna-se mais ampla, mais profunda. Sob a influência do Cristo, as possibilidades do compreender e do amar, até então ocultas, são-nos repentinamente reveladas (Ef 3, 14-21). Podemos assim constatar que a adesão ao Cristo, num ato de fé, leva-nos a fazer uma dupla descoberta : a da profundidade de Deus e as profundidades do coração humano. Quando acedemos a esse modo de conhecimento pela fé, podemos ter a rápida intuição dos espaços interiores infinitos que a fé nos poderá, um dia, fazer descobrir2.

Esse mergulho profundo no interior de nós mesmos e no mundo é o que somos chamados a contemplar nos místicos, cuja experiência espiritual possui um grau de pureza e transparência que nos permitem captar com mais clareza aquilo de, ainda de uma forma obscura e confusa, também se dá dentro de nós. Quando falamos em conhecer pela fé, não estamos falando de compreender máximas ou definições. Falamos de um conhecimento experiencial. Trata-se de entrar em contato com uma realidade viva que chamamos Deus. A fé tende, pois, não para um conhecimento, mas para uma vida. Sendo assim, deve-se tornar uma ‘experiência’, ‘uma fé viva, vivida’.

Quando dizemos isso, queremos mostrar que a fé deve ser integrada na nossa experiência humana. É verdade também que não alcançaremos esse conhecimento sem uma graça de Deus, mas esse conhecimento deve, finalmente, ser ‘nosso’ e deve entrar no campo normal de nossa atividade de conhecimento. Nossas faculdades são abertas e aprofundadas pela graça de Deus. Essa abertura e aprofundamento não se processam num dia, precisamente porque esse modo de conhecimento permanece ‘humano’.’

Notas :

  1. Yves RAGUIN, Atenção ao Mistério, 39.
  2. Yves RAGUIN, Atenção ao Mistério, 49.

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1552493/2021/11/vida-espiritual-vivida-na-fe/

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Os mais pequenos são mestres

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo da Irmã Loreta Beccia,

Missionária Comboniana

 

‘Sou uma missionária comboniana italiana e aterrei há poucas semanas na República Democrática do Congo, no coração de um continente completamente desconhecido para mim. É a minha primeira vez em África e estou ansiosa por descobrir o que esta terra guarda para mim e as maravilhas que o Senhor me está a preparar.

Antes de pôr os pés neste abençoado solo africano, e apesar de ter apenas 35 anos, o Senhor permitiu-me ter muitas experiências interessantes, tanto na Europa como na América Latina. Em cada um dos lugares onde estive, sempre descobri que o Senhor me tinha precedido e preparado o caminho, porque Ele organiza sempre tudo para que os Seus filhos e filhas possam crescer e amadurecer.

Na minha vida missionária estou consciente de que a herança que São Daniel Comboni me deixou é preciosa e que, como sua filha, tenho uma grande responsabilidade. É por isso que tento viver a minha vida missionária com os olhos e o coração sempre abertos para deixar a Palavra de Deus, encarnada nas realidades e nas pessoas que encontro, transformar-me e ajudar-me a ser melhor, santa e capaz, como Comboni queria que fossem os seus missionários.

Partilhar a vida

Agradeço a Deus pelos muitos dons que recebi, especialmente pelas pessoas que conheci, pelas histórias que ouvi e pelas vidas que partilhei. Sempre quis aprender com os mais pequenos, por isso, lembro-me como de um tesouro os nomes e encontros com algumas das crianças e jovens do meu tempo no Equador.

Por exemplo, Thiago, 6 anos de idade, que me ensinou como o amor transforma tudo. Este menino, abandonado pelo seu pai e sem experimentar o amor da sua mãe, era violento com as outras crianças, de modo que todos o isolavam. Mas que culpa tem uma criança tão pequena? Quando comecei a conhecer a sua história, a trabalhar com a sua família e a transmitir-lhe o amor que eu tinha experimentado na minha família, ele começou a mudar. Qual foi a principal mudança? A sua mãe, pouco a pouco, descobriu que o Thiago era um presente de Deus e começou a amá-lo.

Outro nome na minha vida é Marcelo. Este rapaz equatoriano de 17 anos viveu com raiva e violência em resposta a uma existência cheia de dor, julgamentos, rejeição e abandono. Conhecemo-nos e a sua vida mudou a minha. Queriam expulsá-lo da escola por ter cometido um acto violento. Naquele momento lembrei-me de Comboni, que disse : «Temos de estar do lado dos últimos, dos mais necessitados e abandonados, esta é a nossa missão!» Por isso, defendi-o e disse aos responsáveis da escola que se o expulsassem, teriam de me expulsar também como professora. Começamos, então, a fazer uma viagem juntos; ele deixou-se ajudar, começou a acreditar em si próprio e nas suas capacidades. Teve a força e a coragem de deixar o velho Marcelo para que o Marcelo renovado pudesse ressuscitar. Queria jogar futebol profissionalmente, mas hoje está a estudar para ser assistente social. Sabem porquê? Um dia, disse-me : «Sei o que significa cair num buraco profundo, mas também sei o que significa encontrar uma mão estendida para me ajudar a sair. Hoje, graças a esta experiência, posso ajudar outros jovens!» As suas palavras causaram-me arrepios. Tal como disse que era necessário «salvar a África com a África», hoje Comboni não hesitaria em afirmar a necessidade de «salvar os jovens com os jovens!». Nada é impossível para Deus.

Aprender com os pequenos

Eu poderia continuar a dizer-vos o que aprendi com Ariel, com Arlette... com as comunidades indígenas e afro-descendentes, que lutam porque acreditam que o mundo pode ser melhor. Quantas famílias vulneráveis, mães solteiras, crianças e jovens vítimas de abusos e maltratados me ensinaram o valor de um sorriso, de um abraço, de uma palavra de encorajamento, em suma, o valor da vida! Graças a eles, aprendi que se é missionário quando se está ao seu lado, quando se caminha com os outros, quando se ama e se deixa amar, quando há paixão e, apesar das dificuldades, continuar a sonhar para realizar o grande projecto de Deus que é a felicidade e a vida abundante para todos.

Passei a minha última etapa no Equador com 2500 estudantes com idades compreendidas entre os 3 e 17 anos. Àqueles que dizem que as crianças e os jovens não têm nada a ensinar aos adultos e à sociedade, eu digo que estão enganados. Foram os meus grandes professores, ensinaram-me que a vida é um dom precioso e que ninguém tem de a desperdiçar ou espezinhar; que a vida vale a pena até ao fim, nas alegrias e nas dificuldades, porque tudo nos ajuda a ser pessoa, a sentir o que os outros sentem, e também a amar sem medida.

Sei que nesta etapa congolesa, que estou a iniciar, o Senhor me dará mais do que posso oferecer : sorrisos, abraços, amizade, confiança... Por isso não há nada a temer. Seja feita a Sua vontade!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://www.combonianos.pt/alem-mar/artigos/8/626/os-mais-pequenos-sao-mestres/

domingo, 21 de novembro de 2021

O que dizer a uma pessoa que está morrendo?

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Marzena Devoud,

jornalista


‘Como podemos ajudar um ente querido no estágio final de sua vida? Como podemos acompanhá-lo durante seus últimos dias?

‘Embora seja impossível se colocar no lugar da pessoa, sabemos que um dos maiores medos de quem está morrendo é estar sozinho no momento definitivo. Para alguém no final da vida, toda segurança se esvai. A pessoa não pode mais confiar em seus talentos, em sua experiência nem em sua conta bancária. Essa solidão real causa um último sentimento de angústia’, diz o padre Paul Denizot, reitor do Santuário Nossa Senhora de Montligeon (França), um centro de oração pelos falecidos, que traz conforto às pessoas de luto ou sofrendo.

O que podemos dizer a um ente querido que está vivendo os últimos dias de sua vida? Aqui estão 7 orientações sobre como ser verdadeiro e amoroso nesta circunstância difícil.

1. Não finja que nada está acontecendo

É muito importante não fingir que está tudo bem, ou seja, ficar dizendo à pessoa coisas como : ‘vai dar tudo certo’, ‘tenho certeza que você vai melhorar’ etc. Se a morte realmente está no horizonte, receber uma linguagem falsa pode ser muito difícil para a pessoa que está morrendo.

Na maioria das vezes, mesmo que possam ver que seus entes queridos estão evitando o assunto, eles não se sentem fortes o suficiente para quebrar o tabu. Se você acha que seu ente querido está pronto para falar sobre a morte, não tenha medo de iniciar essa conversa a sério, enquanto ainda há tempo para falar sobre as questões importantes.

2. Coloque sua própria tristeza em segundo plano

Às vezes, os entes queridos podem ficar tão desesperados que chegam a gritar para a pessoa que está morrendo : ‘você não pode morrer’ ou ‘preciso que você viva!’ Esse tipo de situação é muito dramática para a pessoa no final da vida.

Quando o momento da morte se aproxima, os sentimentos do acompanhante e dos familiares devem ficar em segundo plano. Ajudar quem está enfrentando a proximidade da morte significa acompanhá-lo com amor e ternura, bem como com muita calma e o máximo de paz interior possível.

3. Esteja presente, como Maria

A doença nos desestabiliza e às vezes não temos palavras de conforto. Neste caso, o reitor do santuário de Montligeon nos aconselha a simplesmente estar presente e a dar à pessoa doente a possibilidade de falar sobre suas angústias e esperanças:

Você tem que ouvir, simplesmente estar presente. Sua presença mais solidária não vem com conversas animadas ou argumentos teológicos, mas em silêncio. Às vezes, quando você está com muita dor, a presença de um amigo que apenas segura sua mão, sem dizer nada, pode ser muito reconfortante. Podemos comparar essa presença silenciosa com a de Maria aos pés da Cruz. Maria fica em silêncio antes da morte de seu Filho. Ela não o encoraja dizendo : ‘você vai conseguir!’ ou ‘você se lembra do que prometeu?’ Não, Maria chora e fica em silêncio. Ela permanece ao lado de quem tanto ama.

4. Pergunte gentilmente : ‘Como você está se sentindo?’

Ao acompanhar uma pessoa no final da vida, é essencial ouvi-la com a máxima delicadeza. Para surpresa de seus entes queridos, alguns pacientes abrem seu coração. Então, de repente, encontramo-nos conversando com eles com uma sinceridade que pode nos surpreender.

Neste caso, a pergunta : ‘como você está se sentindo?’ pode ser libertadora : permite que o paciente fale de coração a coração com aqueles ao seu redor.

Por outro lado, às vezes isso é impossível. Se este for o caso, você não deve pressionar seu ente querido, mesmo que você sinta a necessidade de falar sobre essas coisas.

5. Fale sobre a família

Se a pessoa no leito de morte romper o silêncio e isso ocasionar uma conversa de coração a coração, não hesite em falar sobre a família dela, para quem a proximidade da morte muitas vezes será uma provação terrível. Quando a pessoa à beira da morte pensar sobre a tristeza de seu cônjuge e filhos, seu próprio medo da morte ficará em segundo plano. A pessoa doente se tornará mais uma vez um cônjuge ou um pai/mãe que pensa nos outros e não apenas em sua própria morte.

Às vezes, grandes milagres acontecem no último momento da vida’, diz o padre Paul Denizot. Como sacerdote, ele tem o hábito de fazer uma pergunta a quem ele acompanha na etapa final da vida : ‘existem coisas com as quais você ainda não está em paz?

Em particular, ele se lembra de um homem que lhe pediu para ajudá-lo a colocar sua vida em ordem. Este homem, que era divorciado e havia abandonado a Igreja havia 40 anos, expressou um forte desejo, antes de morrer, de pedir perdão à esposa e aos filhos.

6. Leia os Salmos

Se a pessoa no final da vida não estiver demonstrando abertura ou não quiser conversar, você pode sugerir (sempre com grande sensibilidade) a leitura de um salmo ao lado dela.

Os salmos têm grande força porque expressam emoções humanas e as confiam a Deus. Assim, eles acabam representando nossos sofrimentos diante da morte’, explica o reitor de Montligeon.

Quando meu pai estava vivendo seus últimos dias, ele queria que eu recitasse para ele salmos como ‘De profundis’ (Das profundezas eu clamo a Ti, ó Senhor) ou ‘O Senhor é meu pastor’.

7. Diga ‘Eu te amo’

Para os católicos, há muitas orações (como o Terço ou ladainhas à Virgem Maria e aos santos) e sacramentos (confissão, comunhão, unção dos enfermos), bem como bênçãos que podem ajudar quem está no leito de morte. Se a pessoa no final da vida não é católica, podemos simplesmente dizer-lhe : ‘Eu te amo’.

Podemos até simplesmente dizer isso em nossos pensamentos, olhando para a pessoa, segurando sua mão ou acariciando seu rosto. Diante da morte, o que mais importa é que a pessoa se sinta amada.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/11/17/o-que-dizer-a-uma-pessoa-que-esta-morrendo/

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Como falar da morte com os filhos?

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Felipe Aquino,

professor


‘Fé não é insensibilidade e dureza de coração. Você pode chorar, até diante dos filhos, mas chore como quem tem fé na ressurreição. Veremos os mortos na eternidade.

Diante da dor da morte, gosto de me lembrar de Nossa Senhora aos pés da cruz do seu Amado. Ela perdeu o Filho Único, Deus, morto de uma maneira tão cruel como nenhum de nós o será. Ela perdeu muito mais do que nós e não se desesperou. Certamente chorou muito… mas nunca se desesperou e nunca perdeu a fé. Aos pés da cruz de Jesus estava de pé (stabat!). Podemos chorar os mortos; as lágrimas são o tributo da natureza, mas sem desespero e sem desilusão.

Até o céu : lá nos voltaremos a ver, ensinam os santos. Que grande felicidade será para nós poder encontrá-los, depois de ter chorado tanto a sua ausência! Não nos deixemos levar ao desespero quando alguém parte; não somos pagãos. Lá não haverá mais pranto, nem lágrimas e nem luto.

No Céu

São Francisco de Sales disse : ‘Meu Deus, se a boa amizade humana é tão agradavelmente amável, que não será ver a suavidade sagrada do amor recíproco dos bem-aventurados… Como essa amizade é preciosa e como é preciso amar na terra, como se ama no Céu!

São Tomás de Aquino garante que no Céu conheceremos nossos parentes e amigos. Diz o santo doutor :

A contemplação da Essência Divina não absorve os santos de maneira a impedir-lhes a percepção das coisas sensíveis, a contemplação das criaturas e a sua própria ação.

Reciprocamente, essa percepção, essa contemplação e essa ação não os podem distrair da visão beatífica de Deus’ (S. Teológica, 30, p. 84).

A morte não é o aniquilamento que pregam os materialistas sem Deus, mas o renascimento da pessoa. A Igreja reza na Liturgia que ‘a vida não é tirada mas transformada’.

Felicidade eterna

Só o cristão valoriza a morte e é capaz de ficar de pé diante dela. Deus não nos criou para o aniquilamento, mas para a sua glória e para o seu amor. Fomos criados para participar da felicidade eterna de Deus.

Santa Teresinha disse ao morrer : ‘não morro, entro para a vida’.

A árvore cai sempre do lado em que viveu inclinada; se vivermos inclinados ao Coração de Jesus, nele cairemos.

É preciso saber educar os filhos também diante da morte. A psicologia recomenda, por exemplo, que os pais deixem os filhos verem os mortos, se assim eles desejarem, embora não devam forçá-los.

Fale da morte com naturalidade aos filhos, e aproveite o momento para ensinar sobre o céu e sobre a ressurreição. Não se pode permitir que as crianças assistam cenas de desespero diante da morte, mesmo que se possa manifestar a dor e sofrimento diante delas.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/11/15/como-falar-da-morte-com-os-filhos/