Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
da Irmã Loreta Beccia,
Missionária Comboniana
‘Sou uma missionária comboniana
italiana e aterrei há poucas semanas na República Democrática do Congo, no
coração de um continente completamente desconhecido para mim. É a minha
primeira vez em África e estou ansiosa por descobrir o que esta terra guarda
para mim e as maravilhas que o Senhor me está a preparar.
Antes de pôr os pés neste abençoado
solo africano, e apesar de ter apenas 35 anos, o Senhor permitiu-me ter muitas
experiências interessantes, tanto na Europa como na América Latina. Em cada um
dos lugares onde estive, sempre descobri que o Senhor me tinha precedido e
preparado o caminho, porque Ele organiza sempre tudo para que os Seus filhos e
filhas possam crescer e amadurecer.
Na minha vida missionária estou
consciente de que a herança que São Daniel Comboni me deixou é preciosa e que,
como sua filha, tenho uma grande responsabilidade. É por isso que tento viver a
minha vida missionária com os olhos e o coração sempre abertos para deixar a
Palavra de Deus, encarnada nas realidades e nas pessoas que encontro,
transformar-me e ajudar-me a ser melhor, santa e capaz, como Comboni queria que
fossem os seus missionários.
Partilhar a vida
Agradeço a Deus pelos muitos
dons que recebi, especialmente pelas pessoas que conheci, pelas histórias que
ouvi e pelas vidas que partilhei. Sempre quis aprender com os mais pequenos,
por isso, lembro-me como de um tesouro os nomes e encontros com algumas das
crianças e jovens do meu tempo no Equador.
Por exemplo, Thiago, 6 anos de
idade, que me ensinou como o amor transforma tudo. Este menino, abandonado pelo
seu pai e sem experimentar o amor da sua mãe, era violento com as outras
crianças, de modo que todos o isolavam. Mas que culpa tem uma criança tão
pequena? Quando comecei a conhecer a sua história, a trabalhar com a sua
família e a transmitir-lhe o amor que eu tinha experimentado na minha família, ele
começou a mudar. Qual foi a principal mudança? A sua mãe, pouco a pouco,
descobriu que o Thiago era um presente de Deus e começou a amá-lo.
Outro nome na minha vida é
Marcelo. Este rapaz equatoriano de 17 anos viveu com raiva e violência em
resposta a uma existência cheia de dor, julgamentos, rejeição e abandono.
Conhecemo-nos e a sua vida mudou a minha. Queriam expulsá-lo da escola por ter
cometido um acto violento. Naquele momento lembrei-me de Comboni, que disse : «Temos
de estar do lado dos últimos, dos mais necessitados e abandonados, esta é a
nossa missão!» Por isso, defendi-o e disse aos responsáveis da escola que
se o expulsassem, teriam de me expulsar também como professora. Começamos,
então, a fazer uma viagem juntos; ele deixou-se ajudar, começou a acreditar em
si próprio e nas suas capacidades. Teve a força e a coragem de deixar o velho
Marcelo para que o Marcelo renovado pudesse ressuscitar. Queria jogar futebol
profissionalmente, mas hoje está a estudar para ser assistente social. Sabem
porquê? Um dia, disse-me : «Sei o que significa cair num buraco profundo,
mas também sei o que significa encontrar uma mão estendida para me ajudar a
sair. Hoje, graças a esta experiência, posso ajudar outros jovens!» As suas
palavras causaram-me arrepios. Tal como disse que era necessário «salvar a
África com a África», hoje Comboni não hesitaria em afirmar a necessidade
de «salvar os jovens com os jovens!». Nada é impossível para Deus.
Aprender com os
pequenos
Eu poderia continuar a
dizer-vos o que aprendi com Ariel, com Arlette... com as comunidades indígenas
e afro-descendentes, que lutam porque acreditam que o mundo pode ser melhor.
Quantas famílias vulneráveis, mães solteiras, crianças e jovens vítimas de
abusos e maltratados me ensinaram o valor de um sorriso, de um abraço, de uma
palavra de encorajamento, em suma, o valor da vida! Graças a eles, aprendi que
se é missionário quando se está ao seu lado, quando se caminha com os outros,
quando se ama e se deixa amar, quando há paixão e, apesar das dificuldades,
continuar a sonhar para realizar o grande projecto de Deus que é a felicidade e
a vida abundante para todos.
Passei a minha última etapa no
Equador com 2500 estudantes com idades compreendidas entre os 3 e 17 anos.
Àqueles que dizem que as crianças e os jovens não têm nada a ensinar aos
adultos e à sociedade, eu digo que estão enganados. Foram os meus grandes
professores, ensinaram-me que a vida é um dom precioso e que ninguém tem de a
desperdiçar ou espezinhar; que a vida vale a pena até ao fim, nas alegrias e
nas dificuldades, porque tudo nos ajuda a ser pessoa, a sentir o que os outros
sentem, e também a amar sem medida.
Sei que nesta etapa congolesa,
que estou a iniciar, o Senhor me dará mais do que posso oferecer : sorrisos,
abraços, amizade, confiança... Por isso não há nada a temer. Seja feita a Sua
vontade!’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://www.combonianos.pt/alem-mar/artigos/8/626/os-mais-pequenos-sao-mestres/
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