Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
d0 Padre Washington Paranhos, SJ
‘A palavra ‘advento’ é
de origem latina e significa ‘chegada’, ‘aproximação’, ‘vinda’.
No Ano Litúrgico, o Advento é um tempo de preparação para a segunda maior festa
cristã : o Natal do Senhor. Este tempo é marcado por uma vivência mais profunda
da vida de oração. A leitura orante deste período nos coloca em contato com as
profecias de salvação do Antigo Testamento, com a expectativa que os cristãos
da Igreja primitiva tinham da Parusia e com os eventos principais que
antecederam o nascimento de Jesus.
A liturgia do tempo do advento
contém uma autêntica espiritualidade litúrgica, centrada na vinda do Senhor e
sua espera; a vinda do Senhor na carne e no fim dos tempos, assim como sua
constante presença na Igreja que é prefigurada de modo particular em Maria, virgem,
mãe da esperança. Três figuras bíblicas nos são apresentadas e ganham destaque
na celebração do Advento : todos os personagens do Antigo Testamento que
expressam o anseio pela vinda do Messias, especialmente o livro de Isaías e os
Salmos 79 e 84; João Batista, porque foi vocacionado a ser o precursor do
Messias; Maria, porque foi escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador.
A espiritualidade do Advento
também é marcada por algumas atitudes básicas : a preparação para receber o
Cristo; a oração e a vivência da esperança cristã. A preparação para receber o
Senhor se dá na vivência da conversão e da ascese. Precisamos ter um olhar
atento sobre nós e a realidade que nos cerca e nos empenharmos para
correspondermos com a ação do Espírito de Deus que quer restaurar todas as
coisas.
Para John Henry Newman o nome
do cristão é ‘aquele que espera o Senhor’. Porém, devemos reconhecer que
durante séculos, no Ocidente, a expectativa da vinda do Senhor tem sido uma
dimensão ausente na vida de fé dos cristãos. Alguém já escreveu : ‘Estou
cansado de ver os cristãos que esperam a vinda de seu Senhor com a mesma
indiferença com que esperam a chegada do ônibus’.
O revelador dessa realidade é a
maneira habitual de compreensão e vivência do Advento. Estou convencido de que
o Advento hoje, é o tempo litúrgico menos compreendido em seu valor e
significado. Foi reduzido apenas ao tempo de preparação para a festa de Natal.
Que triste! Não se entende que o Advento é a chave de todo o ano litúrgico : a
escatologia é a verdade esquecida de todo o ano litúrgico.
O Advento é a chave para
entender a celebração das festas da manifestação do Senhor em carne e osso : os
fatos que imediatamente precederam o nascimento de Jesus Cristo, seu nascimento
em Belém, a demonstração aos Magos, o batismo no Jordão…. Compreendidos em sua
inteligência espiritual, os textos litúrgicos do Advento não expressam apenas a
expectativa de um nascimento já ocorrido na história de uma vez por todas, mas
sim a expectativa da vinda definitiva de Cristo em sua glória.
O modo de viver o Advento é
símbolo da perda generalizada da dimensão escatológica que é uma das
características distintas do cristianismo ocidental moderno e contemporâneo. A
espiritualização progressiva da escatologia levou a existência cristã a sofrer
de um grave mal : a amnésia da Parusia. Observamos como a doença
do nosso tempo é a vontade de esquecer o advento de Deus, mas devemos recordar
que somos homens e mulheres do Advento, que têm em seus corações a urgência da
vinda de Cristo, e com olhos que espiam, buscando nos horizontes de suas vidas
seu rosto amanhecendo.
Hoje, devemos reconhecer, que
há uma patologia no modo de viver o Advento. Na realidade, o Advento é o único
e específico tempo cristão, isto porque um tempo de jejum e penitência como a Quaresma
compartilhamos com o Islã, o tempo da Páscoa com o judaísmo, mas a expectativa
da vinda do Kyrios é apenas cristã. Só nós cristãos aguardamos o retorno de
Cristo prometido : ‘Sim, eu venho em breve. Amém!’ (Ap 22,20). Por essa
razão, privar o ano litúrgico de sua dimensão escatológica constitutiva
significa subtrair da fé cristã a dimensão da esperança.
Assim compreendido e vivido, o
Advento seria um momento muito mais eloquente no ano litúrgico para os fiéis de
hoje. Homens e mulheres que lutam para ter esperança porque são privados de
toda a esperança, às vezes até incapazes de esperar. Por essa razão, é
necessário prestar atenção às liturgias que são muito festivas chegando ao
limite do superficial, excessiva em tons e acentos, como se devemos sempre e a
qualquer custo fazer festa.
Precisamos de liturgias capazes
de dar razões para esperançar corações cansados e fatigados, capazes de
reerguer todos que, como os discípulos de Emaús, param ‘com um rosto triste’.
Sabemos que a dificuldade em acreditar e em confiar nos outros, na vida, no
futuro, é um dos traços que caracterizam os homens e as mulheres do nossos dias
e isso não pode deixar de impactar e marcar a fé do crente contemporâneo.
Entendendo o ano litúrgico não
apenas como um ciclo, um anel fechado em si mesmo, mas como um movimento
helicoidal que coloca a fé no caminho, no preciso contexto antropológico,
cultural e social em que vivemos, para entender que nossas liturgias, e mais
geralmente as celebrações dos sacramentos, são hoje chamadas a hospedar uma
maneira de viver a fé, mesmo entre os crentes mais assíduos, que não é mais,
como no passado, a soma de certezas inabalável, mas a expressão de um desejo
por algo e de alguém em quem se pode esperar, de modo que acreditar signifique
abrir-se e apegar-se a uma esperança.
De fato, hoje a fé precisa ser
vivida principalmente como abertura à esperança. Nutrir a esperança, essa é
hoje a primeira tarefa do ano litúrgico, dando razões para alimentar e
exercitar-se no crer que não se é realidade visível, e essas realidades são
nossa salvação. Sair da precariedade em que se encontra para entrar um dia na
condição de beatitude em Deus. ‘Só a esperança na vida eterna nos torna
devidamente cristãos’, escreveu Agostinho.
Hoje é muito difícil falar de
esperança, dar razões da esperança, mas essa é a tarefa atual do ano litúrgico,
porque a falta de esperança torna o homem estranho ao tempo, irremediavelmente
ausente deste tempo presente. A esperança é exatamente esta : querer
infinitamente o finito, é viver eternamente o tempo. Como Emmanuel Mounier
escreveu em um ensaio dedicado a Péguy, a esperança ‘recria o que o hábito
desfaz. É a fonte de todos os nascimentos espirituais, de toda liberdade, de
toda a novidade. Precisamos semear começos onde o hábito leva à morte’.
O tempo do Advento é um tempo
propício para animar a virtude da esperança, com a consciência de que somente
Deus é o Salvador do mundo e que n’Ele reside o sentido de toda a existência. A
virtude da esperança, suscitada pela vinda de Cristo, encontra no tempo do
Advento um complemento necessário : a vigilância.
Maranatha, Vem Senhor Jesus!’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://domtotal.com/noticia/1552492/2021/11/o-verdadeiro-significado-do-advento/
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