Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Mirticeli Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa
da Santa Sé
‘Com certeza, você deve ter
ouvido o boato de que o papa Francisco, com o sínodo da sinodalidade, quer
acabar com a hierarquia. Ou que, daqui para frente, o próprio papado deixará de
existir. Esses e outros absurdos são compartilhados, em looping,
por grupos católicos que, como diz o próprio sumo pontífice, ‘acreditam
estar salvando a Igreja dela mesma’.
Começa, mais uma vez, uma
campanha difamatória contra o sínodo. Como fizeram com o Sínodo da Amazônia, em
2019, mais cedo ou mais tarde inventarão uma ‘pachamama’ como símbolo de
uma nova cruzada.
A ideia é confundir as pessoas,
convencendo-as de que, na verdade, tais interpretações apocalípticas não passam
de ‘esclarecimentos’, de um ‘alerta’ para os fieis. E é sob a
égide desse slogan que muitos influencers católicos conseguem
propagar suas fake news. Por causa do espaço de fala que conquistaram,
sobretudo nas arenas virtuais, sabem que até seus devaneios serão facilmente
absorvidos quase como verdades de fé. Eles se sentem os guardiães do depositum
fidei, por assim dizer.
Trava-se uma batalha não só
contra o papa, mas contra um modelo de Igreja, proposto por um concílio. É
ingênuo pensar que queiram atingir, simplesmente, o pontífice argentino. Como a
intenção é transformar o catolicismo numa religião que se limite a atender aos
interesses de certos grupos, Francisco se torna uma ameaça para eles. E nem
preciso dizer o quanto tem sido rentável promover um falso resgate da ‘tradição’,
com T minúsculo.
Sendo assim, o sínodo que está
curso coloca em risco esse projeto de poder. Com os lugares de fala ampliados,
a pastoralidade passa a ser o fio condutor dessa reforma a qual, iniciada na
cúria romana, agora se estende para o resto da instituição.
A nova Constituição de reforma
da Cúria Romana, que será publicada no fim do ano, prevê, justamente, que a
Congregação para a Evangelização dos Povos, dicastério vaticano responsável
pela atividade missionária da Igreja, passe a ser considerado o mais
importante, substituindo a Congregação para a Doutrina da Fé. O ex-Santo Ofício
antes estava no topo desse organograma. Com a mudança, ocupará o segundo lugar.
Fica evidente que a ideia é
tanto promover uma nova evangelização na Europa quanto motivar o ardor das
realidades mais novas, como no caso da América Latina. Porém, é bom salientar
que Francisco não quer ‘latinizar’ o resto da Igreja, embora considere a
grande contribuição que o novo continente pode oferecer ao resto da
instituição.
A ideia é colocar o catolicismo
numa nova dinâmica frente aos desafios do presente. Só que, para isso, todos os
católicos precisam se mobilizar. Dessa forma, o sínodo é visto como um meio
para se chegar à consolidação desse projeto. Como, a partir das mais distintas
realidades, é possível pensar numa confissão cristã que dialoga com os vários setores
da sociedade? Como fazer com que essa mensagem chegue aos areópagos da
atualidade?
Quem ler o Documento de
Aparecida (2007), a carta magna do atual pontificado, conseguirá
intuir a que se propõe esse sínodo. Tudo parte do ‘ver, julgar e agir’.
E tal método só será eficaz se forem criados espaços concretos de escuta.
Graças ao sínodo sobre a sinodalidade isso será possível.
Francisco é pragmático. E o seu
‘jesuitismo’ o impulsiona a ser cada vez mais assim. Seguindo a
pedagogia própria dos inacianos, ele sabe que o discernimento que se desvincula
da realidade é estéril. Há uma preocupação latente de que o cristianismo não
seja algo abstrato, mas algo encarnado na vida.
E é justamente isso que os
ritualistas, apegados a um modelo monárquico de Igreja, não conseguem entender.
Francisco não quer destruir o papado ou destituir o colégio de cardeais com
esse sínodo. Mas quer mostrar, também para os seus colaboradores, que os
títulos correspondem a um serviço, não a um privilégio. É ministério, não um
cargo com plano de carreira dentro de uma organização. E a ‘conversão
sinodal’ só poderá acontecer quando as autoridades, por primeiro, estiverem
dispostos a acompanhar, não simplesmente a delegar. E quando os leigos, nesse
processo, também sejam reconhecido como parte integrante de um corpo, não como
simples receptores da mensagem.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://domtotal.com/noticia/1548825/2021/11/as-mentiras-sobre-o-sinodo/
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