Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Você já deve saber : a
Facebook Company (empresa que controla a rede social homônima, além do
Instagram e WhatsApp) mudou de nome, passando a se chamar ‘Meta’. A nova marca
é uma clara referência ao metaverso.
O próprio CEO da empresa, Mark
Zuckerberg, já havia se referido ao termo e à estratégia em entrevista ao site ‘The
Verge’. Ele também já adquiriu uma empresa de produção de óculos de
realidade virtual, uma tecnologia que pode ser primordial para o
desenvolvimento do que será o futuro da internet.
O que é
metaverso?
Embora a ideia não seja nova
(já esteve presente em filmes e livros de ficção científica dos anos 1990), o
conceito de metaverso é um tanto quanto abstrato e ainda está em
construção.
O que se sabe, entretanto, é
que será um ambiente virtual marcado por uma nova forma de relacionamento com
os mundos real e virtual. Tudo passará a ser ‘ainda mais real’, embora
virtualmente.
Por exemplo : antigamente, para
assistir à Missa, as pessoas precisavam ir a uma igreja e permanecer lá
fisicamente. Depois, tiveram a oportunidade de acompanhar a celebração pelo
rádio. Mais tarde, pela TV. E, agora, podem assistir por streaming. O próximo
passo é o metaverso.
Assim, ao que tudo indica,
assistiremos à Missa, nos relacionaremos com as pessoas (próximas ou distantes),
faremos compras, estudaremos, jogaremos videogames e veremos filmes não mais
através de uma simples tela. O metaverso será uma fusão das telas com outros
softwares, aplicativos e devices, como óculos de realidade virtual, realidade
aumentada e dispositivos ‘vestíveis’, como relógios, roupas, avatares.
E de que forma essa revolução
na maneira como interagimos como o mundo vai impactar na nossa relação com o
sagrado? Será que o metaverso também vai mudar o modo como praticamos a nossa
fé em Deus?
Metaverso e religião
Para o jornalista Moisés
Sbardelotto, que é mestre e doutor em Comunicação, além de professor e
pesquisador do Núcleo de Estudos em Comunicação e Teologia da PUC Minas, o
espaço religioso já é uma espécie de metaverso. A a prática da fé é capaz de
nos levar a um outro espaço, embora permaneçamos fisicamente no nosso. Com as
devidas proporções, essa é a promessa do metarvervso.
Em entrevista ao site do Instituto Humanitas Unisinos, Sbarbdelotto
afirma :
‘Poderíamos dizer até que o
próprio rito religioso, por exemplo, é um metaverso avant la lettre.
Historicamente, os fiéis – independentemente da tradição religiosa – se dirigem
a um lugar geolocalizado específico e, por meio de gestos, objetos e palavras
ritualizados, fazem a experiência de um universo transcendente, em uma dimensão
espaço-temporal sagrada que ressignifica o recinto físico do templo e a duração
cronológica do rito. Nessa dimensão ritual e cúltica, comunicam-se com seres
divinos ou mesmo pessoas que já se encontram no ‘além da vida’, tudo por meio
de técnicas e tecnologias próprias para isso (discursos, sons, músicas, artes,
textos, livros, símbolos, objetos cúlticos etc.). Seja no templo ou à beira de
um rio sagrado, esse lugar se transforma no ‘centro do mundo’ (Mircea
Eliade), um espaço sagrado por excelência, onde os diversos níveis cósmicos se
comunicam.’
Sacramentos e
liturgia
O autor ainda alerta que, a
exemplo do que acontece hoje no mundo digital, na era do metaverso continuará
sendo impossível a vivência efetiva dos sacramentos :
‘Do ponto de vista da
‘comunicação sacramental’, o que está em jogo é a ideia do hic et nunc, do
‘aqui e agora’ necessários para a celebração e a vivência de um sacramento. E
esse ‘aqui e agora’ é entendido pela teologia tradicional como um mesmo tempo
cronológico e um mesmo espaço geográfico.’
Por outro lado, o pesquisador
considera que a liturgia é uma experiência condizente com a ideia do metaverso :
‘Como afirma a Sacrosanctum
concilium, a liturgia terrena nos permite degustar (praegustando) e
participar, aqui e agora, da Liturgia celeste celebrada na cidade santa de
Jerusalém, glorificando ao Senhor junto com todos os seres celestiais e os
Santos (SC 8). Com nossa corporeidade físico-biológica, comunicamo-nos no e com
o universo ‘metaterreno’. Para isso, recorremos a ‘sinais
sensíveis’ que significam (signa sensibilia significatur) tais realidades
sagradas (SC 7). No metaverso, continuaremos recorrendo a ‘sinais
sensíveis audiovisuais e talvez até de outras ordens para significar a
realidade, que, por sua vez, nos permitirão fazer experiência de outros
universos terrenos e – por que não? – ‘metaterrenos’.’
Evangelização nos
novos tempos
Enfim, o pesquisador ainda
relata oportunidades e desafios que a Igreja deverá enfrentar com o advento do
metaverso. Além disso, alerta para a necessidade de encontrar formas ainda mais
eficazes de evangelização na realidade que está por vir :
‘O metaverso poderá gerar
uma realidade ainda mais complexa e heterogênea do ponto de vista social,
cultural e religioso, o que demandará de cada cristão e cristã uma coerência de
vida ainda maior e um testemunho ainda mais consistente dos valores do
Evangelho, independentemente dos ambientes (digitais ou não) em que se
encontrar.
E a educação
para a fé passa principalmente pelo exemplo, pela atração, e não pelo
proselitismo, como o Papa Francisco reitera continuamente. Por
isso, onde quer que um cristão esteja – seja neste universo que já conhecemos
ou em um possível metaverso – ele será reconhecido pelo amor que tiver ao
próximo (cf. Jo 13,35).’’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/11/01/o-que-e-metaverso-e-quais-os-seus-possiveis-impactos-na-pratica-da-fe/
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