Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
d0 Padre Luís Corrêa Lima, SJ
‘No dia 11 de outubro, a Igreja
Católica celebra São João XXIII, papa. Nesta data, em 1962, teve início o
Concílio Vaticano II, que foi um grande marco na relação entre a Igreja e o
mundo contemporâneo. O concílio iniciou neste dia porque então se celebrava a
maternidade divina de Maria, cujo título de Mãe de Deus foi proclamado pelo
Concílio de Éfeso em 431.
Antes de ser papa, João XXIII
viveu muitos anos em países de maioria não católica, como a Bulgária, ortodoxa,
e a Turquia, muçulmana. Neste tempo ocorreu a Segunda Guerra Mundial, quando
ele colaborou com a fuga de judeus do nazismo. Depois, como papa, enfrentou o
auge da Guerra Fria, clamando pela paz em meio a fortes tensões entre Estados
Unidos e União Soviética. Em seus ensinamentos, reconheceu a elevada
importância da Declaração Universal de Direitos Humanos, da ONU; prestigiou o
ingresso da mulher na vida pública, bem como sua reivindicação de direitos
iguais na vida familiar e social; e divulgou para toda a Igreja o método de
teologia e pastoral Ver-Julgar-Agir, oriundo da Ação Católica Operária da
Bélgica, que tanto marca até hoje as conferências dos bispos e as Campanhas da
Fraternidade.
O Concílio Vaticano II,
convocado e inaugurado por João XXIII, reconheceu a legitimidade do Estado
laico, onde há separação entre Igreja e Estado, algo já consolidado em muitos
países; reconheceu a autonomia da ciência e a liberdade religiosa e de
consciência, impulsionou o ecumenismo e o diálogo com as religiões não cristãs,
e fez a liturgia católica passar do latim às línguas modernas.
O concílio afirmou que as
alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje,
sobretudo dos pobres e dos que sofrem, são também as alegrias e as esperanças,
as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Toda a realidade humana
deve encontrar eco em seu coração, pois a Igreja está intimamente ligada à
humanidade e à sua história. Isto trouxe para a Igreja uma nova maneira de
olhar a realidade, sem o desprezo e a fuga do mundo que prevaleceram durante tantos
séculos na história do cristianismo.
O pontificado de Francisco, em
favor de um Igreja em saída que se dirija às periferias existenciais, está na
linha do concílio, bem como sua exortação aos teólogos para a releitura do
Evangelho na perspectiva da cultura contemporânea. No discurso de abertura do
concílio, João XXIII fez uma advertência enérgica contra os profetas da
catástrofe, que só veem prevaricação e ruína, sempre anunciando acontecimentos
infelizes como se o fim do mundo fosse iminente. Eles repetem que em nossa
época, em comparação com as passadas, as coisas só pioraram e se portam como
quem nada aprendeu da história.
Também hoje há profetas da
catástrofe, com diferentes matizes, que disseminam o pânico moral e
obstinadamente enxergam em tudo ameaças de destruição da família e da pátria.
Para eles, só resta à Igreja reiterar antigos dogmas, preceitos e proibições,
bem como manter-se longe das questões sociais e da vida terrestre.
O papa Francisco recordou a
célebre advertência de seu antecessor sobre tais profetas, e mostrou exatamente
o oposto deste catastrofismo, que é a perspectiva positiva : o olhar de quem
crê é capaz de reconhecer a luz do Espírito Santo irradiando na escuridão, de
entrever o vinho em que a água pode ser transformada, e de descobrir o trigo
que cresce no meio do joio (Evangelii gaudium, 84). Na missa, há uma
oração eucarística que muito bem expressa o espírito do Concílio, o maior
legado de São João XXIII :
‘Ó Pai [...] Fazei que todos
os membros da Igreja, à luz da fé, saibam reconhecer os sinais dos tempos e
empenhem-se, de verdade, no serviço do evangelho. Tornai-nos abertos e
disponíveis para todos, para que possamos partilhar as dores e as angústias, as
alegrias e as esperanças, e andar juntos no caminho do vosso reino.’’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://domtotal.com/noticia/1545654/2021/10/sao-joao-xxiii-igreja-e-mundo-contemporaneo/
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