*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
A
verdadeira política é arte que se vale do diálogo para encontrar as soluções
mais adequadas ao bem comum, a partir da argumentação, de compreensões lúcidas
sobre a realidade. Oportuno lembrar que a arte tem força para elevar a
compreensão humana a novos patamares. Por isso mesmo, o exercício da política,
enquanto arte, deve contribuir para que a sociedade avance rumo a novas
conquistas civilizatórias. O interesse tem que ser o bem comum. É isso o que se
espera dos representantes eleitos pelo povo. E que não percam a clareza de que
o parlamento, em nível federal, estadual ou municipal, é a casa do povo, onde
seus representantes estão reunidos, para servi-lo. Assim, a configuração de ‘bancadas’, para a defesa de interesses
muito particulares de alguns segmentos, não raramente contrários ao bem, à
justiça e à verdade, é algo incompatível com a boa política.
O
exercício do poder exige qualificado debate sobre os diferentes anseios dos
diversos segmentos da sociedade, processo indispensável para a construção de
entendimentos acertados. É fundamental dialogar no contexto político, com a
imprescindível capacidade para reconhecer os clamores do cidadão comum,
particularmente dos mais pobres. Compreende-se que ser parlamentar é tornar-se
porta-voz, principalmente, dos que sofrem. Na contramão desse sentido, o
exercício da representação é de duvidosa qualidade e incapaz de promover
melhorias, pois, quando a política é exercida de modo equivocado, contribui
para que as riquezas sejam dilapidadas a partir de crimes ambientais e
humanitários, em vez de convertidas em benefícios para a vida no planeta. Seja
meta dos que ocupam cargos nas instâncias do poder a promoção do
desenvolvimento integral, com respeito à natureza, aos valores culturais e
religiosos, dentre tantos outros.
Não
é tarefa fácil exercer a boa política. Por isso, ante às complexidades e
exigências, muitos se afastam dessa responsabilidade. Os estreitamentos
ideológicos, por exemplo, também agravam a aversão ao universo político. Mas
essas distorções só podem ser corrigidas a partir da arte de dialogar. Assim é
que se vencem barreiras e se constroem entendimentos, criando novos marcos regulatórios
capazes de revisar legislações inadequadas, que atendem somente a interesses
pouco nobres, fontes de crimes ambientais e humanitários.
A
política como arte do diálogo é capaz de elevar o exercício da cidadania,
reconhecendo que o bem coletivo é a meta central a ser buscada por todos.
Dialogar é dinâmica que promove correções, possibilitando aos representantes do
povo atuar, cada vez mais, de modo coerente com os anseios de seus
representados. Estejam todos abertos ao diálogo, sem medos, preconceitos, para
que ocorram os intercâmbios necessários de ideias. Particularmente, os
políticos possam ouvir instituições que mereçam respeito, por terem
credibilidade e, assim, desenvolver trabalhos comprovadamente importantes para
a população, especialmente para os mais pobres.
Fazer com que a política se torne, cada vez
mais, a arte do diálogo, exige dos representantes do povo disposição para o
exercício da humildade e da generosidade. Abertura para a escuta, sem se apegar
a interesses egoístas e cartoriais. Que os políticos renovem a disposição para
dialogar, evitando descompassos e, assim, permaneçam firmes na busca pelo bem
de todos.’
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