*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
Por
isso mesmo, no coração da sociedade mineira deve vir, primeiro, o
comprometimento com o cuidado e a atenção para as minas de Minas. Assim,
impulsionados pelas dores e esperanças do povo, gravemente ferido pela tragédia
de Brumadinho, todos se unirão para fazer surgir nova etapa na organização
social, política e cultural do Estado. O momento exige cooperação sincera e
transparente dos diferentes segmentos sociais, desafiados a contribuir para a
construção de um tempo novo. É preciso
vencer, corajosamente, uma perigosa ‘barragem
de rejeitos’, que acumula a ganância sem limites, a burocracia perversa -
obstáculo para avanços necessários aos processos que merecem adequadas
avaliações e juízos, fundamentados no bem comum.
É
imprescindível que todos os cidadãos façam um exame de consciência para não se
dedicar apenas ao que leva a ganhos pessoais e egoístas. É fundamental cultivar
a sensibilidade diante da dor dos pobres, do luto de familiares. Minas Gerais
pode e merece ser diferente. A sua natureza há de ser preservada - um belo
jardim. É preciso que as posturas tenham o propósito do desenvolvimento
integral. Os agentes da destruição, que tratam com descaso a Casa Comum, não se
enganem : cedo ou tarde, tragédias similares às que ocorreram em Brumadinho, no
Vale do Paraopeba, e em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, podem dizimar
outros lugares, outras vidas.
É
preciso intervir com urgência na realidade para evitar outras manifestações
trágicas, com mudanças profundas em diferentes campos, da legislação ao convívio
social, valorizando mais a seriedade e a competência, o jeito mineiro de ser,
que conta muito neste momento. Ninguém pode se sentir distante da missão de
cuidar da Casa Comum nem se deixar manipular por interesses pouco nobres. Seja
um ponto de partida olhar as minas de Minas - reconhecendo que suas riquezas
podem ser fonte de desenvolvimento integral, progresso e geração de emprego,
fundamentados em parâmetros legais e técnico-científicos. Livre de
empreendimentos que simplesmente esburacam as montanhas e produzem barragens de
rejeitos - bombas-relógio que ao explodirem destroem vidas humanas e o meio
ambiente.
Olhai
as minas de Minas nas suas belezas e riquezas, para que o Estado se consolide
entre os maiores destinos turísticos do mundo. Particularmente, as regiões de
Minas Gerais sejam ainda mais reconhecidas como referência para o turismo
histórico e religioso. O tratamento dado ao território mineiro precisa mudar e,
para isso, muitas intervenções devem ser feitas. Importante destacar o papel essencial
da política nesse processo, recordando-se do que diz o Papa Francisco, em
mensagem para o Dia Mundial da Paz : a política é um meio fundamental para
construir a cidadania e as obras do homem. Nunca pode ser instrumento de
opressão, marginalização e destruição. A qualificação da política depende,
sobretudo, do respeito fundamental pela vida, a liberdade e a dignidade das
pessoas, uma forma eminente de caridade.
Os
olhos e os corações precisam ser fecundados para que surjam novos modos de ver
e de sentir, com percepções mais qualificadas da realidade. Um caminho que
levará Minas Gerais a ser devidamente reconhecida e ainda mais respeitada.
Todos enxergarão o verdadeiro jardim de infinitas belezas que é o território
mineiro, um tesouro com riquezas naturais e tradições - religiosas e culturais.
Minas tem um povo com a força para impulsionar a sociedade brasileira rumo a
novos tempos. Seja, cada mineiro, consciente de seu pertencimento ao Estado de
Minas Gerais, para exercer, com gosto, fecunda cidadania. Assim se constrói
novo marco civilizatório, começando pelo que é simples, mas altamente eficaz :
olhar as minas de Minas.’
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