*Artigo
de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista
e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras
credenciadas
como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé
A
assembleia, cuja proposta é debater o problema a partir de duas diretrizes
apresentadas por Papa Francisco - ‘responsabilidade e transparência’ -, admite
ao mundo a enorme contradição que existe quando em uma instituição que diz
prezar pela dignidade humana e cuja matriz é, por essência, educadora, se
manifeste esse tipo de crime hediondo. E Francisco tem consciência disso.
Em
3 anos, não foram poucas as denúncias de abusos contra menores e adultos
envolvendo padres, religiosos e até um cardeal, o americano Theodore Edgar
McCarrick, recentemente demitido do estado clerical por Francisco. A maioria
dos casos, ocorridos entre as décadas de 70 e 80, só vieram à tona agora. Os
acobertamentos e as falhas na deliberação de medidas concretas estão entre as
principais causas desse ‘boom’ que
aconteceu do dia para a noite.
Em
meio a esses escândalos que abalam as estruturas da Igreja Católica, o papel da
imprensa tem sido fundamental. É tanto que, na coletiva de imprensa realizada
esta semana, os membros da comissão responsável pela assembleia surpreenderam a
todos ao elogiar o trabalho realizado pelos jornalistas, com destaque para os
profissionais do The Boston Globe que integraram a famosa rede de investigação
Spotlight. No caso do Chile, foi graças à apuração da jornalista chilena
Paulina de Allende que o ex-sacerdote Fernando Karadima foi a julgamento.
Enquanto
dentro dos ‘sagrados palácios’ os 190
membros da hierarquia católica discutem como lidar com essa crise, do lado de
fora os membros de associações formadas por vítimas de abusos, que vieram a
Roma, protestam em locais públicos, em frente à praça de São Pedro e no centro
da cidade. É a voz do povo que clama por justiça e denuncia o abuso de poder
presente em parte de uma estrutura marcada pelo clericalismo e pelo
carreirismo, duas chagas que Francisco pretende combater e que, na visão dele,
estariam por trás de todos esses crimes.
Um
dia antes do início da reunião, 12 vítimas de abusos cometidos por religiosos
encontraram os membros da comissão de combate à pedofilia na Igreja. O evento,
cujo encerramento acontecerá no domingo (24), gera esperança porque é a
primeira vez na história que um pontífice coloca nas mãos da Igreja universal a
responsabilidade pelo ocorrido e, juntamente com ela, tenta achar uma saída
para que tais situações dramáticas não se repitam.
É
certo que, com a iniciativa, a expectativa é que a vigilância nas dioceses se
intensifique, do contrário, tudo continuará do jeito que está. Os bispos
bolivianos, representados pelo presidente da conferência episcopal, pretendem
apresentar ao Papa Francisco a proposta de um ‘protoloco de atuação’ contra padres pedófilos. Da mesma forma,
outros líderes católicos terão a liberdade de propor linhas de ação no decorrer
do evento. Agora é esperar para ver se, além dos documentos e boas intenções,
esse mal seja erradicado de vez do seio da Igreja Católica.
‘Nossa falta de resposta diante do sofrimento
das vítimas, ao ponto de rechaçá-las e de acobertar o escândalo para proteger
os autores e as instituições, acabou com o nosso povo’, disse o cardeal
filipino Luís Antonio Tagle, um dos 9 relatores escolhidos para discursar
durante a assembleia.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/noticia/1334963/2019/02/papa-sobre-pedofilia-responsabilidade-e-transparencia/
Nenhum comentário:
Postar um comentário