quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

A importância do diálogo inter-religioso para o cristianismo


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante



Todavia, como sabemos, essa convivência nem sempre se deu de forma tranquila na história cristã. A Idade Média nos mostra claramente o quanto as outras religiões não eram aceitas e a possibilidade de diálogo era, em grande parte, algo que não deveria nem ser considerado por um cristianismo verdadeiro. Muito pelo contrário, as outras religiões e outras formas de culto que eram contrários ao ensinamento oficial da Igreja eram perseguidas e seus seguidores e seguidoras, não raramente, mortos pelos movimentos inquisitórios.

Somente com o Concílio Vaticano II começa-se uma abertura oficial, pelo menos no catolicismo, para o diálogo inter-religioso. Ainda que os documentos do Vaticano II tenham grandes limitações no que tange a essa temática, não se pode negar o grande avanço que trouxe para a esta questão.

Diversos têm sido os teólogos e teólogas que debruçam sobre a temática do diálogo inter-religioso na atualidade, propondo novas formas de fazer com que ele amadureça e gere frutos para a paz e uma melhor vida em sociedade.

No entanto, infelizmente, ele ainda se mostra como algo que é vítima de muito preconceito no meio cristão. Dois tipos são muito comuns de serem vistos. Primeiramente, aqueles e aquelas que têm medo de ouvir o que as outras religiões têm a dizer a respeito de sua forma de ver o mundo e a realidade, porque acreditam que serão desvirtuados/as do caminho em que sentem mais confiança de seguirem. Em segundo, aqueles e aquelas que, partindo de uma visão exclusivista, consideram-se como os únicos/as detentores/as da verdade e insistem em lutar contra todo discurso que foge a certa cartilha de certo e errado, ancorando-se em leituras literais e fundamentalistas a respeito de diversos textos bíblicos.

Nesses dois tipos é possível perceber o famoso medo do desconhecido que todas as pessoas carregam consigo. Tememos o que não conhecemos e a ignorância é a mãe de grande parte dos preconceitos que perpetuamos em nossas vidas. Assim, não é difícil de perceber, quando se fala de diálogo inter-religioso em meio cristão, certo desconforto, ou certa discriminação para com aquele e aquela que o propõe.

Nesse sentido, é grande o trabalho de teólogos e teólogas para trazer esse diálogo para o meio da sociedade e da própria comunidade de fé com uma linguagem que fuja o quanto possível dos academicismos, de maneira que possa ser compreensível para pessoas cristãs e não cristãs de nosso tempo.

Diante disso, é de grande importância a visita feita pelo papa Francisco com o Grão Imã de Al-Azhar, líder mundial do islã sunita, demonstrando uma abertura para que haja um entendimento dialogal entre islã e cristianismo, bem como ressaltando a importância que o próprio diálogo entre as religiões tem para a promoção da paz na sociedade contemporânea.

Somente a partir do reconhecimento de que as outras religiões não são inimigas do cristianismo e de que elas podem cooperar para que o mundo seja um lugar melhor de se viver é que toda e qualquer discriminação religiosa pode deixar de existir por parte dos movimentos cristãos.

Por mais difícil que seja essa tarefa, uma vez que para realizá-la deve-se pressupor que o cristianismo aceite que ele não é o detentor absoluto da verdade, necessitando, assim, de outras vozes que dialoguem com ele, não se pode deixar de insistir no fato de que dialogar é próprio do ser cristão, estando também no cerne de um de seus dogmas principais que é a Trindade, cuja característica principal é a mútua relação entre Pai, Filho e Espírito Santo.

 A Trindade é dialógica. Todo cristianismo que compreende isso será um cristianismo aberto ao diálogo. Se não o é, é bem possível que seja um cristianismo que ainda não se tornou cristão.’


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