sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Piedade de Minas


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

O sentimento a ser cultivado é o de piedade, para superar a indiferença causada pela ganância sem limites. 
O sentimento a ser cultivado é o de piedade, para superar
a indiferença causada pela ganância sem limites.

*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG



Piedade de Minas! Seja esse grito um clamor por compaixão, pela indignação sagrada que gera a coragem necessária à concretização de um sonho : fazer surgir um Estado diferente, livre de crimes praticados contra seus próprios filhos e o meio ambiente. É a partir desse clamor que cada pessoa poderá enxergar melhor o que acontece em tantos lugares, especialmente no Coração de Minas, a Serra da Piedade, com quase 1700 metros de altitude, reunindo incontestável beleza arquitetônica, cultural, religiosa, paisagística e ambiental, e inadmitir qualquer pretensão gananciosa de mineradoras, com a devida oposição técnico-científica e legal.

Equipes de resgate recuperam o corpo de uma das vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho 

No entorno desse lugar sagrado, está ocorrendo o que não poderia acontecer, com perdas e prejuízos incalculáveis para todo o povo mineiro. Essa situação precisa ser mudada, o que requer corajosa lucidez das competências judiciárias, ação destemida de instâncias governamentais e legislativas. A audaciosa determinação para corrigir descompassos, iluminada pelo clamor ‘Piedade de Minas’, pode conduzir o Estado a novos horizontes. O passo primeiro rumo à mudança é identificar, responsabilizar e punir quem provoca tragédias humanas e ambientais, fazendo valer a lei. Urgente também é uma configuração sócio-política e econômica voltada para a promoção do bem de toda a sociedade, com atenção especial aos que já sofreram graves perdas provocadas pela agressiva exploração da natureza.

Para isso, todos os segmentos da sociedade devem se unir e formar única voz, exigindo mudanças nos procedimentos da atividade minerária. No Brasil e, particularmente, em Minas Gerais, é preciso parar tudo o que está comprovadamente errado e promover recomeços, a partir de um horizonte humanitário. Esse parâmetro garante a salvaguarda do meio ambiente, o indispensável equilíbrio que assegura bem-estar social e a proteção do planeta – a Casa Comum. A referência central deve ser, em todos os campos – ciência, técnica, economia – o respeito irrestrito ao ser humano e às demais criaturas.

A complexa crise na relação entre ser humano e meio ambiente deve ser superada. Minas Gerais clama pelo fim da exploração cega de seus recursos, na voz de todos. Essa mudança é a única possibilidade capaz de reverter o acelerado processo que está fazendo o ‘Estado Diamante’ tornar-se um mar de lamas que destrói vidas, mata belezas, enlutando o povo.

Combater a idolatria do dinheiro, que cega pessoas diante das reais necessidades humanas e naturais, seduzindo mentes e corações, é um desafio a ser assumido por todos. Essa idolatria sustenta atitudes patológicas que transformam contextos sociais em verdadeiras sucursais do inferno. O Papa Francisco, constantemente, alerta sobre a configuração de uma economia ‘sem rosto’, descompromissada com objetivos verdadeiramente humanos. A religiosidade mineira, na força da fé cristã, não cederá espaço a esses novos ídolos que têm desconsiderado o valor da vida.

O sentimento a ser cultivado é o de piedade, para superar a indiferença causada pela ganância sem limites. O luto do povo mineiro cobre todos, indicando que é hora de ousar e efetivar mudanças para que não ocorram novas tragédias. Minas não pode ser a mesma. Sobre os alicerces de sua rica história, a partir do exercício da cidadania, de modo condizente com os nobres valores de seu povo, o Estado deve iniciar um novo ciclo para a sua história. Tenham todos Piedade de Minas!’


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