Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
Piedade
de Minas! Seja esse grito um clamor por compaixão, pela indignação sagrada que
gera a coragem necessária à concretização de um sonho : fazer surgir um Estado
diferente, livre de crimes praticados contra seus próprios filhos e o meio
ambiente. É a partir desse clamor que cada pessoa poderá enxergar melhor o que
acontece em tantos lugares, especialmente no Coração de Minas, a Serra da
Piedade, com quase 1700 metros de altitude, reunindo incontestável beleza
arquitetônica, cultural, religiosa, paisagística e ambiental, e inadmitir
qualquer pretensão gananciosa de mineradoras, com a devida oposição
técnico-científica e legal.
Equipes de resgate recuperam o corpo de uma das vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho
No
entorno desse lugar sagrado, está ocorrendo o que não poderia acontecer, com
perdas e prejuízos incalculáveis para todo o povo mineiro. Essa situação
precisa ser mudada, o que requer corajosa lucidez das competências judiciárias,
ação destemida de instâncias governamentais e legislativas. A audaciosa
determinação para corrigir descompassos, iluminada pelo clamor ‘Piedade de Minas’, pode conduzir o
Estado a novos horizontes. O passo
primeiro rumo à mudança é identificar, responsabilizar e punir quem provoca
tragédias humanas e ambientais, fazendo valer a lei. Urgente também é uma
configuração sócio-política e econômica voltada para a promoção do bem de toda
a sociedade, com atenção especial aos que já sofreram graves perdas provocadas
pela agressiva exploração da natureza.
Para
isso, todos os segmentos da sociedade devem se unir e formar única voz,
exigindo mudanças nos procedimentos da atividade minerária. No Brasil e,
particularmente, em Minas Gerais, é preciso parar tudo o que está
comprovadamente errado e promover recomeços, a partir de um horizonte
humanitário. Esse parâmetro garante a salvaguarda do meio ambiente, o
indispensável equilíbrio que assegura bem-estar social e a proteção do planeta
– a Casa Comum. A referência central deve ser, em todos os campos – ciência,
técnica, economia – o respeito irrestrito ao ser humano e às demais criaturas.
A
complexa crise na relação entre ser humano e meio ambiente deve ser superada.
Minas Gerais clama pelo fim da exploração cega de seus recursos, na voz de
todos. Essa mudança é a única possibilidade capaz de reverter o acelerado processo
que está fazendo o ‘Estado Diamante’
tornar-se um mar de lamas que destrói vidas, mata belezas, enlutando o povo.
Combater
a idolatria do dinheiro, que cega pessoas diante das reais necessidades humanas
e naturais, seduzindo mentes e corações, é um desafio a ser assumido por todos.
Essa idolatria sustenta atitudes patológicas que transformam contextos sociais
em verdadeiras sucursais do inferno. O Papa Francisco, constantemente, alerta
sobre a configuração de uma economia ‘sem
rosto’, descompromissada com objetivos verdadeiramente humanos. A
religiosidade mineira, na força da fé cristã, não cederá espaço a esses novos ídolos
que têm desconsiderado o valor da vida.
O
sentimento a ser cultivado é o de piedade, para superar a indiferença causada
pela ganância sem limites. O luto do povo mineiro cobre todos, indicando que é
hora de ousar e efetivar mudanças para que não ocorram novas tragédias. Minas
não pode ser a mesma. Sobre os alicerces de sua rica história, a partir do
exercício da cidadania, de modo condizente com os nobres valores de seu povo, o
Estado deve iniciar um novo ciclo para a sua história. Tenham todos Piedade de
Minas!’
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