Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte, MG
Obviamente,
ser fiel aos princípios cristãos, diante das mais diversas ideologias, não
significa isolar-se ou distanciar-se do mundo. Os discípulos de Jesus têm o
compromisso insubstituível de testemunhar, com a vida, a sua fé. Vale retomar o
que ensina o Sermão da Montanha. Jesus, na sua maestria, define e convoca seus
discípulos a serem ‘sal da terra e luz do
mundo’. Conforme orienta o Mestre, a luz, referência a comportamentos e
condutas, não pode ser colocada debaixo de um caixote, por ter a propriedade de
iluminar todos os que estão na casa. No que se refere ao sal - referência à sabedoria
- não pode perder o seu sabor, tornando-se insosso.
Sal
e luz, alusões diretas e instigantes ao comportamento cristão, no contexto de
sombras e dissabores próprios do mundo. Por isso, a tarefa missionária de todos
é cultivar um jeito de ser que esteja em sintonia com a condição humana de
filhos de Deus. Dessa forma, cada pessoa torna-se instrumento para alcançar o
que se antevê pela fé: a consumação do Reino de Deus. Jesus, no capítulo 17 do
Evangelho de São João, ora pelos discípulos e pede a Deus que não os retire do
mundo, mas, ao mesmo tempo, não os deixe ‘ser
do mundo’. Permaneçam fiéis e íntimos do Pai, a exemplo de Jesus, para
alcançar a audaciosa meta : que ‘todos
sejam um’.
O
Evangelho, no conjunto da revelação que a Palavra de Deus apresenta, é um
arcabouço espiritual e moral insubstituível, páginas que configuram a
identidade do discipulado em Jesus Cristo. Dedicar-se às Sagradas Escrituras
revela uma certeza : a Palavra de Deus é maior que ideologias, sempre marcadas
por limitações. Os cristãos não podem permitir que o Evangelho de Jesus,
límpido e cristalino ensinamento, seja confundido, misturado, substituído ou
negociado, para se adequar a qualquer tipo de ideologia - seja política, de
gênero, cultural ou qualquer outra. Ora, distorcer o que ensina o Evangelho é,
justamente, estar na contramão do que diz a Palavra de Deus. Trata-se de um
grande risco, pois todos podem ser arrastados pelos estereótipos de ‘esquerda’ ou de ‘direita’ que empunham bandeiras incontestavelmente opostas às lições
de Cristo.
A
complexidade desse risco se agrava no momento em que certas ideologias
disseminam características aparentemente similares às do Evangelho, mas, na
verdade, promovem a mistura ‘do joio com
trigo’. Existem, ainda, os que dizem defender os ensinamentos cristãos,
mas, na prática, agem na contramão do Evangelho. Deve-se, pois, ter clareza
sobre os valores e princípios que nascem da Palavra de Deus, para não
misturá-los com o emaranhado de ideologias que permeiam o caminho sociocultural
e político da sociedade.
Os
panoramas históricos e tipológicos de ideologias comprovam as suas
complexidades, demonstradas pelas relativizações ou defesa de certas situações
compreendidas como ‘verdades absolutas’.
Isso é bem diferente do Evangelho, origem de uma antropologia e uma
espiritualidade que não permitem adaptações. Sabe-se que é impossível para uma
sociedade ser distante ou isenta em relação a ideologias. Por isso mesmo, é
muito necessário reconhecê-las como uma circunscrita visão de mundo. Uma
perspectiva, entre tantas, que se torna ponto de partida para ações de pessoas
ou grupos. A partir dessa realidade, pede-se a cada cristão, diante da
ideologia de gênero, de ideologias político-partidárias ou culturais, para
resistir, na força do testemunho de fé. Uma postura necessária para fazer valer
a ética e a moral do Evangelho de Jesus, no conjunto de sua Palavra, que é de
Deus, desdobrada na Doutrina da fé e nos seus ensinamentos.
Oportuno
e qualificado exercício é ler, meditar e orar o Sermão da Montanha, capítulos
cinco a sete do Evangelho de Mateus, para uma avaliação pessoal e de grupos
sociais. Quem se dedicar a esse exercício, diariamente, viverá um processo
contínuo de purificação, livre de ideologias, acima delas. Testemunhará com
fidelidade o Evangelho.’
Fonte
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