segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Cardeal africano recorda missionário falecido que o incentivou a entrar no seminário

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 


‘O Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, recordou de maneira especial o sacerdote missionário que o incentivou a entrar no seminário.

Em memória do Pe. Marcel Bracquemond, missionário espiritano do povoado da minha infância que voltou para Deus ontem. Sempre será o sacerdote que me propôs entrar no seminário menor. Desejo confiá-lo às suas orações’...

Em seu livro ‘Deus ou nada’, o Cardeal Sarah conta como surgiu a sua vocação no povoado de Ourous, na Guiné, na África.

Foi na Eucaristia diária que o padre Bracquemond, descobrindo o meu grande desejo de conhecer a Deus e talvez impressionado com o meu amor pela oração e a minha fidelidade à Missa diária, me perguntou se eu queria entrar no seminário. Com a surpresa e a espontaneidade que caracterizam as crianças, respondi que adoraria, embora não soubesse exatamente com o que estava me comprometendo, porque nunca tinha saído do meu povoado nem conhecia como era a vida em um seminário’.

O Cardeal conta que o sacerdote, falecido aos 93 anos no dia 28 de novembro, explicou que o seminário ‘era uma casa sustentada pela oração e pelo amor de toda a Igreja. Este lugar, disse-me, nos prepararia para ser sacerdotes assim como ele. Com esta pequena explicação, a alegria de tornar-me sacerdote algum dia encheu ainda mais o meu coração de admiração e ‘loucura’’.

Quando Robert Sarah, com apenas 11 anos, conversou com os seus pais Alexandre e Claire, que o sacerdote conhecia bem, nenhum dos dois acreditaram nele e decidiram conversar com o padre Bracquemond para perguntá-lo.

Minha mãe, abrindo os olhos, me disse que havia perdido a cabeça ou que não havia entendido o que o sacerdote me disse. Para ela e para os habitantes do povoado, todos os sacerdotes eram necessariamente brancos. De fato, ela achava impossível que um negro pudesse ser sacerdote! Por isso, era óbvio que havia interpretado mal as palavras do padre Marcel Bracquemond’.

O Cardeal comenta no livro que o sacerdote ‘confirmou aos seus pais que isso não era mentira, que foi ele quem tinha me sugerido a ideia : ser sacerdote, não sem antes entrar no seminário menor para me formar! Meus pais ficaram impressionados’.

Eu tinha apenas onze anos e tinha acabado de terminar o ensino fundamental. Naquela época, os seminaristas guineenses tinham que estudar na Costa do Marfim. Eu estava entusiasmado, feliz, orgulhoso e não sabia nada de como seria a vida no seminário de Santo Agostinho de Bingerville’, escreve o Cardeal.

Robert Sarah nasceu em 15 de junho de 1945, na cidade de Ourous, na Guiné Francesa. Em 1957, aos 12 anos, entrou no Seminário Menor de Santo Agostinho, em Bingerville, na Costa do Marfim, onde estudou durante três anos.

Como em 1960 as relações entre a recém-independente Guiné e a Costa do Marfim ficaram tensas, ele voltou a estudar em Conakri, na Guiné, no Seminário de Dixinn, até que o governo expropriou as propriedades da Igreja em agosto de 1961.

Depois de estudar por um curto tempo em sua casa, a Igreja procurou um lugar para Robert Sarah e outros seminaristas em uma escola pública em Kindia, em março de 1962. Após algumas negociações, conseguiram abrir um seminário, onde Sarah obteve seu bacharelado em 1964.

Em setembro daquele ano, foi enviado ao Seminário Maior de Nancy, na França. E novamente, devido às relações tensas, desta vez entre Guiné e França, Sarah teve que interromper a sua formação. Continuou os seus estudos de Teologia em Sébikotane, Senegal, onde estudou entre outubro de 1967 e junho de 1969.

Foi ordenado sacerdote em 20 de julho de 1969, aos 24 anos. Foi nomeado Arcebispo de Conakri em 13 de agosto de 1979, com apenas 34 anos. Recebeu a ordenação episcopal em 8 de dezembro do mesmo ano.

Em 1º de outubro de 2001, São João Paulo II o nomeou Secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos. Em 7 de outubro de 2010, foi nomeado Presidente do Pontifício Conselho ‘Cor Unum’. Um mês depois, o Papa Bento XVI o criou Cardeal.

Em 23 de novembro de 2014, foi nomeado Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

O Cardeal Sarah é um dos purpurados mais importantes da África e da Igreja universal. Ele é grande defensor da liturgia, do direito à vida, da família e da liberdade religiosa.

Criticou a ideologia de gênero, uma abordagem que considera que o sexo é uma construção sociocultural em vez de ser algo natural.

Participou do último Sínodo dos Bispos sobre os Jovens por ser chefe de Dicastério da Cúria do Vaticano, onde assinalou que ‘diluir’ a doutrina moral católica no campo da sexualidade não atrairá os jovens.’


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