Papa Francisco durante missa na Basílica de São João de Latrão, em Roma.
*Artigo
de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista
e mestre em História da Igreja
Algumas reflexões
sobre as análises infundadas sobre o papado contemporâneo.
As
análises marginais que se fazem dos papas dá espaço para uma ‘ideologização pontifícia’ sem fim :
fizeram isso com João Paulo II, Bento XVI e o fazem com Francisco. As ‘massas’ acabam adotando o papa que mais
se adequa aos anseios e às orientações políticas dos pequenos grupos que as
manobram. De repente, aqueles que outrora se diziam fiéis ao papa, independente
de quem fosse, são os mesmos que, atualmente, fazem um jogo sujo para
desqualificar o pontificado de Francisco, desconsiderando a sua importância em
meio a essa tentativa de reaproximação entre igreja e sociedade. Para não citar
que, durante o caso Viganò, puseram sobre o papa toda a responsabilidade de uma
situação que, na verdade, deveria recair por primeiro sobre a conferência
episcopal americana, o atual berço ultramontanista do catolicismo, onde, como
podemos observar a partir dos últimos acontecimentos, o corporativismo
eclesiástico impera de maneira ostensiva e descarada.
Por
trás dessa tendência de contrapor papas está, na verdade, aquela velha
desonestidade intelectual ou uma falsa intelectualidade pautada pela lista de
constituições, encíclicas e documentos decorados que foram completamente
extraídos do contexto histórico. Não venha me dizer, por exemplo, que Pio XII,
durante todo o seu governo, se limitou a atacar o comunismo stalinista ou que
o Sillabo contra o modernismo de Pio IX pode integralmente se
adaptar ao que se vive no presente.
O
pontificado de Pio IX, o papa que presenciou a queda do estado pontifício e,
por conseguinte, o fim do poder temporal do papado, pode nos oferecer algumas
chaves de leitura para entendermos esses fenômenos do presente. O exílio de
quase um ano e meio desse papa o transformou em um herói e resgatou algo que o
renascimento dos ‘papas-príncipes’
tinham roubado : a devoção e o respeito ao sumo pontífice. Através de uma distribuição de ‘santinhos do papa prisioneiro’, entre os
anos 1849 e 1850, se estruturou em Roma um movimento que lutava em favor do
papa e promovia sua figura, algo que desde o século VIII não se observava. A partir
de então, sobre todos os papas que o sucederam recaiu novamente aquela aura de
santidade, que na visão escatológica do homem da baixa idade média, deveria
pairar sobre o homem escolhido por Deus para governar sua igreja. Porém, para
os neo-ultramontanistas das Américas é como se Francisco quebrasse esse ciclo.
Por
outro lado, assim como alguns atribuem a determinados ritos o título ‘missa de sempre’ sem qualquer
conhecimento de causa, fazem o mesmo com a figura do papa, transformando-o em
um semideus salvaguardado pelo dogma da infalibilidade e em uma figura
transcendente desprovida de um programa de governo pensado e bem estruturado. É
por isso que Francisco, ao se apresentar como bispo de Roma em sua primeira
aparição pública após o conclave, em 2013, assustou os mais ‘pios’. Se concentraram muito na ‘mozzetta’ vermelha que ele não utilizou
em vez de colherem a profundidade do gesto : o papa quis demonstrar que, desde
o primeiro dia de pontificado, trabalharia em prol da colegialidade.
Para
se entender um papado é necessário levar em consideração todo e qualquer
movimento do pontífice : das viagens apostólicas que ele escolhe realizar às
visitas privadas que ele recebe semanalmente na casa Santa Marta. Do contrário,
o papa vira meme, slogan e um personagem instrumentalizado para atender aos
interesses de grupos que não querem o bem da igreja nem de longe.’
Fonte
:
* Artigo na íntegra http://domtotal.com/noticia/1319398/2018/12/quem-critica-o-papa-entende-de-papado/
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