‘O primeiro aos
quais fez anunciar pelos anjos a boa nova da sua vinda, foram alguns humildes
pastores de Belém. Quando escolheu seus doze apóstolos, ou doze enviados, para
espalharem a boa nova a todos os povos da terra, escolheu-os entre os humildes
e os pequenos. Primeiramente foram dois irmãos, Pedro e André, que viviam da
pesca, assim como dois outros, Tiago e João.
Mais
extraordinário ainda é não ter Jesus escolhido seus apóstolos precisamente
entre os santos, nem no interior do templo, mas nas praças públicas, entre a
classe operária e mesmo entre os empregados da alfândega. Saía da cidade de
Cafarnaum e dirigia-se para o mar da Galiléia, onde costumava pregar à multidão,
quando ao passar, avistou um publicano, Levi, filho de Alfeu, também chamado
Mateus, sentado à mesa de cobrança de impostos, e disse-lhe : Segue-me. E
aquele, tudo abandonando, levantou-se e seguiu-o. E Levi ofereceu a Jesus um
grande banquete em sua casa. Estando este à mesa, chegaram muitos publicanos e
pecadores que se sentaram à mesa com ele e com os discípulos, que em grande
número o tinham acompanhado.
Mas os fariseus e
os escribas, vendo que Jesus comia com os publicanos e os pecadores, murmuraram
e disseram aos discípulos : Por que motivo come o vosso Mestre com os
publicanos e os pecadores e vós com ele? Malgrado a aparente piedade, de que se
jactavam, aqueles homens estavam cheios de desprezo pelos outros.
Respondeu-lhes Jesus : Os sãos não tem necessidade de médico, mas sim os
enfermos. Ide, e aprendei o que vos digo: quero misericórdia e não sacrifício;
porque não vim chamar os justos e sim os pecadores.
Quão grande é a
bondade de Jesus Salvador! Quem ainda poderá desesperar, seja por causa de seus
pecados, seja por causa de suas más inclinações? Aí está um médico capaz, não
apenas de curar os doentes, mas de ressuscitar os mortos; um médico caridoso,
que se sobrecarregará com as nossas doenças e as nossas iniqüidades; um médico
tão bom que se transmuda em remédio para os nossos males.
Mas o publicano
Mateus também não merecerá que o amemos e imitemos? Era um homem de negócios e
de dinheiro, um burocrata, um financista. Contudo, mal Jesus o chama,
levanta-se, tudo abandona e segue-o, testemunha-lhe publicamente a gratidão com
um grande banquete. E nós, que talvez nos julguemos muito melhores do que os
publicanos, o Senhor chama-nos, o Senhor diz-nos há muito tempo : Vinde e
segui-me! E ficamos surdos ao seu apelo. Ah! Roguemos ao bem-aventurado
publicano, cuja festa celebramos, que nos seja dado seguir o Senhor, tal como o
fez.
De publicano
transformado em apóstolo. São Mateus perseverou até o fim. Depois de receber o
Espírito Santo com a abundância de suas graças, no dia de Pentecostes, pregou
durante vários anos na Judéia às ovelhas perdidas da casa de Israel : em
seguida, levou o Evangelho às nações longínquas, Pérsia e à Etiópia, e
confirmou com o sangue as verdades que pregava.
Além de um dos
doze apóstolos, escolhidos para pregarem o Evangelho por toda a terra, São
Mateus também foi um dos homens inspirados para gravá-lo por escrito. Há quatro
evangelistas : São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João; assim como há
quatro grandes profetas : Isaías, Ezequiel, Jeremias e Daniel; e quatro grandes
impérios : Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma e quatro querubins acima dos quais
se eleva o trono de Deus, no qual está sentado o Filho do homem.
O conjunto dos
quatro querubins com o trono de Deus suspenso acima deles, não tem a sua
representação na terra no conjunto dos quatro grandes impérios, Babilônia,
Pérsia, Grécia e Roma, a cujas lutos e a cujos destinos vemos outros tantos
espíritos celestes presidir; espíritos que serviram de carro do Filho de Deus
para que descesse à terra e nela estabelecesse seu império espiritual, e dos
quais tirou seus instrumentos de vingança, pois no capítulo X, de Ezequiel, não
vemos um dos querubins apanhar os carvões ardentes, que seriam espalhados sobre
a criminosa Jerusalém?
Na Igreja Cristã,
não viram os Padres os quatro evangelistas? Na face do homem, São Mateus, que
inicia seu evangelho pela genealogia de Cristo enquanto homem; na face do leão,
São Marcos, que inicia o seu pela voz de deus clamando no deserto; na face do
touro, vítima principal dos antigos sacrifícios, São Lucas, que começa pelo
sacerdote Zacarias no ato de desempenhar as funções do sacerdócio num templo;
na face da águia, São João que. De início, eleva-se como uma águia acima das
nuvens até o seio de Deus. São quatro, mas cada um deles é encontrado nos três
outros, e os quatro são encontrados em cada um em particular; há quatro
evangelhos, e só há um Evangelho. É o mesmo espírito que os inspira, que os
alenta, que os inspira, que os alenta, que os dirige. São cheios de olhos; em
tudo, até num ponto e vírgula, cintila a verdade. Contém como que um fogo
divino de onde saem as fagulhas, as correntes elétricas da graça, que iluminam
os espíritos, toam os corações e renovam a face da terra.
No Evangelho de
São Mateus há um belo consumo de todo o Evangelho : é o Sermão da Montanha de
todo o Evangelho, que reproduz inteiramente, enquanto os outros evangelistas só
citam alguns trechos. É o sermão que se inicia com as oito bem-aventuranças.
O único objetivo
do homem é a felicidade. Jesus Cristo veio unicamente proporcionar-nos os meios
de realizá-lo. Colocar a felicidade onde deve estar é a fonte de todo bem; e a
fonte de todo mal é colocá-la onde não deve estar. Digamos, pois : Quero ser
feliz. Vejamos, porém, de que maneira; vejamos em que consiste a felicidade;
vejamos quais são os meios para alcançá-la.
A felicidade está
em cada uma das oito bem-aventuranças; pois, em todas, sob várias designações,
é sempre da felicidade eterna que se trata. Na primeira bem-aventurança, como
um reino; na segunda, como a terra prometida; na terceira, como a verdadeira e
perfeita consolação; na quarta, como a satisfação de todos os nossos desejos;
na quinta, como a última misericórdia que suprime todos os males e concede
todos os bens; na sexta, sob seu legítimo nome, que é a visão de deus; na
sétima, como a perfeição da nossa divina adoração; na oitava, mais uma vez como
o reino dos céus. Eis, pois a felicidade em todas; mas há vários meios de
alcançá-la e casa bem-aventurança assinala um; juntos, completarão a felicidade
do homem.
Se o Sermão da
Montanha é o resumo de toda a doutrina cristã, as oito bem-aventuranças são o
resumo de todo o Sermão da Montanha.
Se Jesus Cristo
ensina que a nossa justiça deve sobrepujar a dos escribas e fariseus, o
ensinamento está contido na seguinte sentença : Bem-aventurados os que tem fome
e sede de justiça. Pois se a desejarem como único alimento, se dela estiverem
verdadeiramente famintos, com que abundância a receberão, pois que de todos os
lados se apresentará para saciar-nos? Então também seguiremos os seus mínimos
preceitos, como homens famintos que nada deixam, nem mesmo, por assim dizer,
uma migalha de pão.
Se vos recomendam
não maltratardes com palavras o vosso próximo é por efeito da brandura, do
espírito pacífico ao qual foi prometido o reino e qualidade de filho de Deus.
Não olhareis uma mulher com más intenções : Bem-aventurados os puros de
coração; e o vosso coração só será inteiramente puro, depois que o tiverdes
purificado de todos os desejos sensuais. São mais felizes os que passam a vida
em lutas e numa tristeza salutar do que no meio de prazeres que embriagam. Não
jureis; digais : É verdade, não é verdade. É ainda um efeito da brandura : quem
é mando e humilde não se apega excessivamente aos sentidos, o que faz o homem
afirmar com muita facilidade; diz simplesmente o que pensa, dentro do espírito
de sinceridade e de mansidão. Perdoaremos facilmente todas as ofensas se
estivermos possuídos por esse espírito de misericórdia, que atrai para nós numa
misericórdia bem mais ampla. Mansos e pacíficos, não resistiremos à violência,
deixar-nos-emos mesmo levar além do que prometemos. Amamos nossos amigos e
inimigos, não apenas porque somos mansos, misericordiosos, pacíficos, mas
também porque somos famintos de justiça e queremos vê-la reinar dentro de nós
mesmos, melhor do quo reina no coração dos fariseus e dos gentios. Essa fome de
justiça também nos leva a desejá-la por necessidade e não por ostentação.
Amamos o jejum
quando encontramos nosso principal alimento na verdade e na justiça. Por meio
de jejum, nosso coração se purifica e nos livramos dos desejos dos sentidos,
Temos o coração puro quando reservamos para os olhos de Deus o bem que
praticamos; quando nos contentamos em ser vistos apenas por ele; e quando não
nos servimos da virtude como de uma máscara para iludir o mundo e atrair os
olhares e o amor das criaturas. Quando nosso coração é puro, temos o olhar
luminoso e a intenção reta. Evitamos a avareza e a busca dos bens, quando somos
verdadeiramente pobres de espírito, não julgamos, quando somos mansos e
pacíficos; porque a mansidão expulsa o orgulho. A pureza de coração faz com que
nos tornemos dignos da Eucaristia, e que nunca recebamos sem unção o pão
celestial.
Quando temos fome
e sede de justiça, rezamos, imploramos, suplicamos: pedimos a Deus os
verdadeiros bens e confiamos em que nos atenda, quando só aspiramos ao seu
reino e à mansão dos vivos. De boa vontade entramos pela porta estreita quando
nos consideramos felizes na pobreza, no pranto, nas tribulações que sofremos
pela justiça. Quando temos fome de justiça, não nos contentamos de dizer a boca
: Senhor, Senhor! Mas nos alimentamos intimamente com a sua verdade. Então
edificamos sobre o rochedo e o achamos suficientemente firme para servir de
apoio à nossa construção.
As
bem-aventuranças constituem, pois o resumo do sermão inteiro, mas um resumo
aprazível, porque a recompensa está ligada ao preceito; o reino dos céus, sob
vários nomes admiráveis, à justiça; a felicidade, à prática.
No ano de 1080,
Santo Alfano, arcebispo de Salerna, lá descobriu as relíquias de São Mateus,
apóstolo e evangelista. Apressou-se em comunicar o achado ao Papa Gregório VII,
que o felicitou, e com ele a toda a Igreja Católica, numa carta datada do dia
18 de Setembro, na qual recomenda ao bispo as preciosas relíquias sejam
dignamente veneradas.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://revistacatolica.com.br/ensinamentos/historia-dos-santos/sao-mateus-apostolo/
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