*Artigo
de Fabrício Veliq,
protestante,
é mestre e doutorando em
teologia
pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando
em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado
em matemática e graduando em filosofia pela UFMG
‘É comum que ao
serem perguntadas a respeito do lugar da teologia na vida pública, as pessoas
respondam que esse lugar se refere às igrejas, comunidades e associações
religiosas e filantrópicas. Já está, de alguma forma, estereotipado em nossa
sociedade o papel e o lugar dos teólogos.
Curiosamente, se
se pergunta em um ambiente acadêmico a respeito desse mesmo lugar, a resposta
tende a ser diferente e se referirá à questão da reflexão a respeito da
sociedade e seu olhar na transformação dela, partindo do pressuposto da fé
cristã. Dessa forma, o estudo teológico tem um papel fundamental na construção
de uma sociedade mais justa, tendo na relação entre Deus e a humanidade sua
força e esperança de luta. Nesse pano de fundo, o teólogo ou teóloga é aquele
que pode trabalhar tanto nas igrejas e comunidades, como também em todas as
esferas da vida pública, ou seja, academia, política, economia, e por aí vai.
Não precisa ter um
olhar muito atento para se perceber que a visão que predomina no país é a
primeira, a de que o lugar da teologia se limita aos ambientes filantrópicos e
eclesiais. Assim, a pergunta a respeito da responsabilidade se faz necessário.
Quem seriam os responsáveis para que a teologia ocupasse essa visão no meio
popular?
A resposta, assim
como todas as respostas às questões difíceis, não é tão simples como se queira
imaginar. Ao mesmo tempo que se tem o fator histórico em que a ciência
desenvolvida no país, desde sua origem, tenha tido um forte aspecto positivista
e, assim, a exclusão da teologia dos ambientes acadêmicos como algo de caráter
meramente eclesial se fez de forma necessária por parte de legisladores que
temiam a ausência de laicidade no Estado, também se tem a responsabilidade da
própria teologia que, em sua zona de conforto, optou durante muito tempo por
não lutar em prol de seu caráter público em meios universitários do país. Uma
vez restrita somente ao seu próprio gueto, a teologia ao mesmo tempo que foi
colocada do lado de fora, também se colocou nessa posição e, por causa disso,
esteve ausente de grandes decisões em diversas esferas do país.
Hoje, por sua vez,
cresce-se a influência de um setor evangélico pentecostal e neo-pentecostal no
país. Esse movimento, grandemente liderado pela Igreja Universal do Reino de
Deus e seus pastores que, na maioria das vezes, não são teólogos, possui pautas
conservadoras que, em muitos aspectos, vão contra o aspecto da laicidade do
Estado Brasileiro, o que é um grande risco no cenário de instabilidade política
e econômica em que se vive atualmente.
Mas, diante desse
novo cenário que se abre, como pode uma teologia séria e comprometida com Deus
e com a humanidade ocupar espaços na sociedade e o que se falta para isso?
Uma possível
resposta é que temos, muitas vezes, teólogos e teólogas covardes. Falta-nos, em
muitos aspectos, coragem e organização para tomarmos posição, assumir um lado
de luta, denunciar atrocidades feitas em nome de Deus, ser voz profética contra
aqueles que exercem autoridade tanto no país quanto nas igrejas.
Em muitas
situações, falta-nos coragem para repensar a própria fé a partir das questões
do cotidiano que tanto afligem diversas pessoas em nosso país, tais como a
homofobia, a pluralidade religiosa, o aborto, o tráfico de drogas, a pobreza, a
intolerância, o capitalismo predatório, a questão indígena, quilombola,
ecológica, dentre tantas outras.
Para se repensar a
fé em seus diversos contextos é preciso coragem para sair da zona de conforto
ao mesmo tempo que se precisa criatividade para falar o que se crê de uma
maneira nova. E tudo isso, na força do Espírito de Deus que renova todas as
coisas e traz vidas nos lugares em que se impera a morte.
Assim, teólogos e
teólogas de nosso país são chamados a serem corajosos e assumir o exemplo de
Cristo de denúncia das estruturas de morte em todos os ambientes da vida
pública e caminhada com os marginalizados de nossa sociedade, em prol de um
mundo mais justo. Somente assim, ela estará apta a figurar na esfera pública
como voz demandada e ouvida pela nossa sociedade.
Será que teremos
essa coragem?’
Fonte :
Nenhum comentário:
Postar um comentário