*Artigo
de Bernardino Frutuoso,
Jornalista
‘Celebramos o
mistério salvífico da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Tempo privilegiado
em que fazemos memória viva do amor incondicional e libertador de Jesus de
Nazaré. Ele é condenado à morte depois de um processo político-religioso e, na lógica
do dom, aceita morrer na cruz, como um excluído. Mas esse madeiro,
paradoxalmente, deixa de ser símbolo de derrota, fraqueza e morte e converte-se
num kairós, um sinal de vida que remete ao futuro. Deus, contrariando a vitória
fatal que a morte parece ter na História, em fidelidade à aliança de amor com a
humanidade, ressuscita o crucificado.
Na pessoa de Jesus
Cristo e na sua ressurreição triunfa o princípio da vida e todas as
virtualidades escondidas no ser humano explodiram e implodiram numa
surpreendente e absoluta realização. Como declara São Paulo (1Cor 15, 45),
Jesus é o «novo Adão», Senhor da
História, e a sua ressurreição toca tudo e todos. A humanidade, a Terra e o
próprio Universo são transfigurados. Assim, os crentes afirmamos com fé e
esperança cristãs que morremos para viver mais, melhor e para sempre,
percebendo que «a morte é a curva da
estrada, morrer é só não ser visto», como expressa belamente Fernando
Pessoa.
A ressurreição,
fundamento central da fé cristã, no entanto, não é só um assunto escatológico,
uma esperança futura; irrompe na nossa história e impele-nos a aceitar Jesus e
a configurar-nos com Ele no hoje do nosso quotidiano. É o
crucificado-ressuscitado quem nos indica esse caminho de metanóia. Apresenta-se
e convive com as mulheres e homens seus seguidores, aquece o seu coração com a
sua proximidade, palavras e gestos. Essa experiência de amor pós-pascal
confirma os discípulos na fé e dá-lhes força para assimilar a boa notícia de
Jesus. Partem, por isso, em missão, anunciando o Reino da Vida a todos os povos
da Terra e, por essa esperança invencível na ressurreição, sem a qual a nossa
fé seria vã, são perseguidos e martirizados.
Ser cristão é
acolher o Espírito do ressuscitado e peregrinar, no aqui e agora da História,
como audazes e alegres discípulos missionários. Se vivemos no coração de Deus,
estamos chamados como Jesus a entregar a vida como um dom e a continuar o seu
projeto, comprometendo-nos ativamente em favor do bem, a fraternidade, o amor,
a justiça, a misericórdia, a solidariedade, a dignidade, a verdade, o belo...
Ajudando Deus a construir um mundo melhor, defendendo a vida dos mais débeis,
os crucificados de hoje. Essa é a mística que mobiliza Etty Hillesum, jovem
holandesa de origem judaica, que durante o domínio nazi se oferece para
trabalhar no campo de trânsito dos judeus de Westerbork, nos Países Baixos – em
1943 é deportada para Auschwitz e morre nesse ano com 29 anos. Essa mulher, de
espiritualidade profunda, que descobre Deus no mais íntimo do seu ser e assume
a sua causa : «E, quase a cada batida do
coração, torna-se isto mais nítido : que tu não nos podes ajudar, que nós
devemos ajudar-te» (12 de Julho de 1942). Ser cristão é ser testemunha da
ressurreição, assumindo o estilo de Jesus, percebendo a humanidade como lugar
de exigência de amor, e em cada pessoa – como afirmava Etty em 15 de Setembro de
1942 – amar um pedaço de Deus.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuAEkAuZlufsauOPdw
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