*Artigo
do Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
‘Omar esperava-nos
à entrada da mesquita. Tinha um sorriso cordial, e uma barba branca curta.
Devia andar mais ou menos pela minha idade, e apresentou-se como o guia que ia
acompanhar o nosso grupo na visita. Para mim, como para a maior parte dos
membros do nosso grupo, todos cristãos empenhados na vida da Igreja, era a
primeira vez que tínhamos esta oportunidade.
Guiando a nossa
visita, falou-nos da arquitetura daquele lugar de culto : erguida já quase no
fim do século XX, é uma tentativa bonita e elegante de criar um lugar de
encontro e oração para a comunidade muçulmana de maneira tal que pudesse ser
fiel à sua tradição religiosa usando elementos e materiais da tradição romana.
Tudo somado, uma obra grandiosa e impressionante para todos nós.
Lá dentro, tendo
deixado os sapatos à entrada em sinal de respeito, e também para não estragar a
belíssima tapeçaria que cobre por inteiro o chão daquele lugar de oração, escutamos
com atenção aquele homem que nos contava algo da vida da sua comunidade nesta
cidade de Roma e arredores.
«Naturalmente», dizia ele, «não é fácil acolher e harmonizar as
necessidades e a sensibilidade de todos os fiéis que aqui vêm para o ensino e
para a oração : esta religião é praticada com uma grande variedade de formas
nos muitos países de onde provêm os nossos irmãos na fé. Mas procuramos vir ao
encontro de todos, na medida do possível.» Explicou-nos como rezam, cinco
vezes por dia, e como procuram seguir aquilo que crêm ser a vontade de Deus nos
vários aspectos da vida, desde a educação dos filhos, à vida de família, à
maneira como tentam ajudar quem precisa, etc.
Fez-nos a todos
uma impressão bonita, escutar este homem que nos falava da sua vida de fé de
maneira muito realista, com a simplicidade de alguém que fala da luz que guia
toda a sua vida em direção a Deus. Sabia muito bem que os que ali tínhamos
vindo a escutá-lo éramos todos cristãos, mas partilhava a sua fé com aquela
serenidade profunda de quem encontrou o seu caminho na vida sem pretender ser
superior ou inferior aos outros.
Ao fim do encontro
todos lhe agradecemos sinceramente pela prenda que nos deu : poder conhecer um
pouco mais a religião islâmica num ambiente de partilha serena e fraterna, só
com a vontade de nos conhecermos melhor para nos podermos respeitar e estimar
mais uns aos outros.
Ao sair da
mesquita corremos para os carros porque começavam a cair uns pingos grossos de
chuva. Encontramo-nos de novo dali a meia hora num restaurante perto da
Basílica de São Pedro, à volta de uma mesa grande em forma de ferradura, na
parte mais alta da sala. Quando estávamos já todos sentados, um dos presentes
ergueu a voz e disse para todos ouvirem : «Padre
Fernando, em nossa casa costumamos rezar antes de comer. Podemos dizer uma
oração todos juntos?» «Claro que sim!»,
disse eu. E todos à nossa mesa se levantaram, dissemos uma oração juntos em voz
alta e terminamos com o sinal da cruz. Nas outras mesas ali à volta, olhares de
curiosidade e sorrisos de aprovação. Pela nossa parte, um ar de satisfação por
termos dado um pequenino sinal da nossa fé, depois de termos passado a manhã escutando
e aprendendo algo de uma fé diferente da nossa. Não sei se era do espírito de
amizade e de fé que se vivia àquela mesa, mas o prato de espaguete nunca me pareceu
tão bom.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EulllEuyuFtJMfDhXn
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