*Artigo
de Padre Rodrigo Ferreira da Costa, SDN
‘Jesus não quis
ser um missionário solitário. Desde o início do seu ministério público, ele
escolheu homens e mulheres para que ficassem com Ele, experimentassem o seu
jeito de ser, compartilhassem de sua ação missionária, a fim de que os mesmos
fossem por Ele enviados a pregar a novidade do Reino de Deus (cf. Mc 3, 13-14).
Ficar com Jesus e
sair a pregar. Eis a dinâmica fundamental da catequese de Jesus presente no
evangelho segundo Marcos. Não são dois momentos distintos, no qual o
catequizando possa optar por um e abandonar o outro, nem tampouco, fazer um
primeiro e depois o outro. O discípulo chamado à convivência com o Mestre,
precisa estar pronto para sair em missão, do mesmo modo que, aquele que sai em
missão, precisa estar sempre ligado à pessoa e vida do seu Senhor.
Na pedagogia
catequética de Jesus aparece sempre este duplo movimento: discipulado e missão.
Oração e trabalho. Mística missionária. Por isso a sua catequese não se dá no
banco de uma escola, e sim, no caminho da cruz. Não se faz uma catequese
isolada, mas em comunidade. Numa relação de amizade, entre irmãos. Discípulos
missionários, eis o eixo principal da catequese de Jesus. Pois, ‘sem momentos prolongados de adoração, de
encontro orante com a Palavra, de diálogo sincero com o Senhor, as tarefas
facilmente se esvaziam de significado, quebrantamo-nos com o cansaço e as
dificuldades, e o ardor apaga-se. Ao mesmo tempo, há que rejeitar a tentação de
uma espiritualidade intimista e individualista, que dificilmente se coaduna com
as exigências da caridade, com a lógica da Encarnação’ (Papa Francisco. EG,
262).
O grande desafio
encontrado por Jesus na formação dos seus discípulos foi a tentação humana de
querermos ser mestres. Na escola de Jesus não há lugar para o ‘carreirismo’. Os discípulos sempre serão
discípulos, mesmo após serem enviados a pregar. Por isso Jesus terá na
pedagogia da cruz o grande farol de todo o seu ensinamento. Só pode ser
realmente seguidor de Jesus, o Messias servo sofredor, aquele que aprende da
cruz a doação e o serviço gratuito aos outros. Somente ao pé da cruz, podemos
reconhecer que ‘este homem [Jesus] era
verdadeiramente o Filho de Deus’ (Mc 15,39). Como afirma o Papa Francisco, ‘quando
caminhamos sem a Cruz, construímos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem a
Cruz, não somos discípulos do Senhor : somos mundanos, somos bispos, padres,
cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor’.
Neste sentido, a
catequese de Jesus não estava pautada em doutrinas ou teorias sobre Deus. Nem
tampouco num catálogo de regras e leis desvinculadas da vida do discípulo. Sua
catequese falava da vida. Do cotidiano da vida do povo e do mistério de Deus
escondido em nós. Jesus ensinava com palavras e gestos. E os seus discípulos
aprendiam ouvindo, vendo as ações de Jesus em favor dos outros, mas aprendiam
também fazendo, participando ativamente da missão do Mestre. Por exemplo, numa tarde de deserto, enquanto
Jesus ensinava sobre o valor da partilha, ele desafia os seus discípulos a
darem de comer àquela multidão, ensinando-os na prática, o valor da
solidariedade (cf. Mc 6, 30-42). Jesus fala do poder serviçal, e Ele mesmo se
coloca como o grande servidor da humanidade : ‘o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate por muitos’ (Mc 10, 45). Certamente quando os seus
discípulos viveram a experiência traumática da morte na cruz do seu Mestre,
essas palavras de Jesus foram sendo compreendidas com muito mais nitidez. Pois
a cruz concretiza todo o seu ensinamento.
Chamou-os para que
ficassem com Ele e para enviá-los a pregar com autoridade (cf. Mc 3,13). Jesus
é um catequista que confia responsabilidades aos seus catequizandos. Ele dá aos
discípulos a mesma autoridade (exousia) que recebeu do Pai (cf. Mc 1, 9-11). O
envio missionário, no entanto, não significa superação da etapa formativa. O
enviado aprende com a missão. Quando a realiza com sucesso, o Mestre ensina a
não se prender aos aplausos : ‘Vamos a
outros lugares, às aldeias da vizinhança, a fim de pregar também ali, pois foi
para isso que eu saí’ (Mc 1, 38); e quando algo não dá certo, o Mestre
retoma a conversa e mostra-lhes que sozinhos eles não poderão enfrentar os
desafios da missão (cf. Mc 9, 14-29).
Olhando a
pedagogia catequética de Jesus apresentada por Marcos, percebemos que Jesus se
preocupava em formar o coração dos seus discípulos a partir da vida, a fim de
que aqueles simples pescadores pudessem compreender o mistério do Reino
revelado em Cristo Jesus e fossem seus anunciadores para o mundo. Pois, para
Jesus, não basta saber quem é Deus e quais são os seus decretos. Ele quer que o
seu discípulo expresse na vida o Deus que este acredita. Desta forma, podemos
afirmar que a cruz é o grande livro da catequese de Jesus, do qual desabrocha
todo o seu ensinamento.
Percebe-se que o
messianismo de Jesus ainda continua mal compreendido por muitos que se dizem
cristãos. A busca por um Messias triunfalista, milagreiro, cheio de glória e
poder é constante em nossos dias. Marcos apresenta Jesus como um Messias
servidor, empenhado na realização do Reino de Deus. Nem mesmo os discípulos de
Jesus compreenderam o seu messianismo, por isso o abandonaram na hora da cruz.
As autoridades sentiram-se desafiadas. Os poderes religioso e político o
julgaram falsamente e o condenaram à morte. Mas o Filho do Homem que sofreu e
deu a vida por amor foi confirmado na sua missão pelo Pai.
Novamente
precisamos voltar a nossa atenção para a pedagogia catequética de Jesus.
Primeiro, porque ela nos desafia a fazermos também uma catequese mais próxima e
‘em saída’. Uma catequese menos
escolar e mais inserida na vida e na realidade concreta das nossas comunidades
cristãs. Outro aspecto importante é a sua dinâmica discipular. Nossa missão
enquanto catequistas é formar discípulos missionários do Reino, e não apenas
transmitir um amontoado de doutrinas e decretos, muitas vezes, desvinculados da
vida de nossos catequizandos.
Oxalá as nossas
comunidades fossem esse espaço de convivência e fraternidade, no qual, cada um
que chega se sentisse acolhido como irmão e irmã, e, a partir da experiência de
fé vivida em comunidade, pudesse se tornar também um evangelizador,
comprometido com a causa do reino. Pois somente uma catequese que ajuda os
catequizandos a tocarem a carne sofredora de Cristo nos pobres e sofredores,
que inicia os catequizandos na pedagogia da cruz, poderá formar verdadeiros
discípulos missionários do reino.’
Fonte :
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