*Artigo
do Padre Jacques Goettmann,
teólogo e sacerdote cristão ortodoxo
(1921 – 2002)
‘A Grande Semana
ou a Semana Santa, ressonância e réplica dos sete dias da Criação se aproxima.
Se, durante estes sete dias concentrarmos nosso olhar sobre o Filho do Homem,
sobre cada um dos seus gestos e palavras, de sua Paixão, e se ao mesmo temos
descobrirmos em nós mesmos as atitudes contraditórias de Pedro que O negou, dos
discípulos que tiveram medo, dos sacerdotes que O condenaram, dos soldados que
O torturaram sem nada entender e também, de João que O seguia em silêncio, de
Maria e das outras mulheres que Lhe davam sua amorosa presença, então vamos
penetrar e permanecer em um espaço e em um tempo novos. Tempo e espaço do
Mistério deslumbrante da Vida Nova que sai da morte amarga e velha : Mistério
da transfiguração do homem e da criação.
«Destruís este Templo e em três dias eu o
reconstruirei», dizia Jesus. São João comenta em seu Evangelho : «Ele falava do
templo do seu Corpo... e, quando se levantou dentre os mortos, seus discípulos
se recordaram de suas palavras» (Jo 2, 19-22). O templo do homem, nosso
corpo, nossa alma, nosso espírito, nossa pessoa, tantas vezes «desumanizado», freqüentemente é
transformado em casa de comércio ou em covas de ladrões; a arquitetura da
Criação, a sinfonia do Universo, tão arruinada, tão desafinada, tão corrompida.
É este o templo que Jesus Cristo está levantando conosco, seus discípulos, em
três dias que são os dias mais longos e decisivos da história de nossa vida.
A Sexta Feira Santa
Cristo se enfrenta
voluntariamente com a morte. Não morre por acidente ou enfermidade, por velhice
ou desespero, mas por uma força maior, a força do amor. Manifestou-a algumas
horas antes em sua última Ceia com palavras jamais ouvidas (Jo 13-17) e pelo
dom de seu Corpo e Sangue. Não suprime nossa morte física, mas por sua vitória
na Árvore da Cruz, nos dá poder sobre a morte : podemos agora encará-la de
maneira nova e concebê-la como porta de um novo nascimento que já começou,
abrindo-nos o caminho para uma nova vida. É o «dia das dores do parto».
O Sábado Santo
Cristo desce aos
Infernos, à região dos mortos que esperam nas trevas, ao inferno de nossos
terrores inconscientes, ao inferno de nosso mundo violento, angustiado e
frustrado. Seu Corpo descansa silencioso no sepulcro e seu Espírito se abandona
às mãos do Pai. Deste silêncio nos grita : «Venci
o mundo, derrotei o Inferno e venho ressuscitar-vos comigo». É o dia da
espera e da esperança.
A Noite Pascal
A Noite Pascal
inaugura o Terceiro Dia, o Domingo da Páscoa. Entre todas as noites, é a noite
mais misteriosa, deslumbrante e criadora : «Cristo
ressuscitou! Em verdade ressuscitou!». Este grito se multiplica e repercute
mil vezes entre os que se dão o beijo pascal. Tudo é perdoado, tudo é renovado,
tudo é possível, pois nossa carne humana venceu a morte e recebeu já o gérmen
da transfiguração na Luz Incriada. Se queremos seguir o caminho do Cristo e lhe
dar nossa fé pessoal, não seremos enganados, mas transformados, e não
morreremos jamais de uma morte sem saída. O Cristo volta a seu Pai e junto a
Ele nos envia o Espírito Santo para nos comunicar as energias divinas, a Vida
Nova.
Que esta Páscoa,
estes dias de Morte e Ressurreição, esta Festa única entre todas as festas,
seja para todos nós um tempo novo e novo espaço. «Este é o dia que o Senhor nos fez, dia de Alegria e de júbilo».’
Fonte :
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