sexta-feira, 14 de abril de 2017

Deus amou tanto o mundo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG

‘O silêncio desta Sexta-feira da Paixão não é apenas uma inquietação para uma sociedade que não costuma silenciar. Trata-se de possibilidade única para fixar o olhar em um momento fundamental capaz de corrigir dinâmicas equivocadas da sociedade, de cultivar no coração humano a sensatez e a sensibilidade necessárias para condutas solidárias. No centro desse momento principal está Cristo Crucificado: a escolha de Deus para revelar ao mundo o seu supremo amor, ensinando a cada pessoa que o caminho é amar o próximo. Deus deu o seu Filho Único por amor à humanidade, para a salvação do mundo.

O amor é, pois, o único parâmetro de toda medida, de toda meta, de todo o sentido a ser dado à vida, de toda a razão para se viver. Ultrapassa o limite de normas e leis. Oportuno é lembrar que Jesus desafia a compreensão reduzida à norma de um mestre da lei, instigando-o a compreender que o horizonte maior e verdadeiro é o amor. E a paixão, morte e ressurreição de Cristo, acontecimento insubstituível e inigualável, a sua condição de Filho de Deus – Deus e homem -, o tornam fonte inesgotável do amor.

O horizonte religioso e confessional ensina que Cristo Crucificado, morto e ressuscitado é a referência para que o ser humano defina seus caminhos. Perder esse fundamento central oferecido no silêncio da Sexta-feira Santa é um risco perigoso, pois esse momento é a possibilidade de reencontrar rumos perdidos e de superar dinâmicas que provocam descompassos no coração da humanidade. É justamente o distanciamento da reverência a Cristo Crucificado, a indiferença em relação à paixão e morte de Jesus, que explicam as dificuldades da sociedade para articular-se em novos padrões civilizatórios, à altura de outros avanços e conquistas.

Diferentemente de reconhecer o ensinamento de Jesus, que entrega sua vida para salvar a humanidade, o mundo insiste nas escolhas mesquinhas, nas interpretações das leis que estão muito aquém do alcance do amor. Com entendimentos estreitos, não são conseguidas as respostas urgentes esperadas. A quebra do silêncio meditativo na Sexta-feira Santa, que qualifica o coração a partir do misericordioso gesto de Jesus Cristo, Deus e Homem, comprova o preço alto que se paga numa sociedade em que outras pessoas – e não Jesus – são compreendidas como parâmetro para juízos.

A pretensão humana de ser em si o parâmetro ético de decisões e escolhas, com subjetivismos destruidores, é um equívoco. Há uma referência maior que pode oferecer fundamentos adequados para normatizações e escolhas acertadas. Essa referência é o amor, que tem como fonte Cristo Crucificado. Na oferta que faz de si, Jesus manifesta a sua autoridade, alicerce que sustenta a vida humana no amor de Deus. Reconhecer que Deus amou tanto o mundo a ponto de oferecer o seu Filho Único para a salvação da humanidade é necessidade urgente para evitar situações que são terríveis: os envolvidos em corrupção, os terroristas que atentam contra a vida, os juízes e os representantes do povo que também a ameaçam quando consideram legalizar o aborto, cidadãos que não se comprometem com as práticas que objetivam a ética, o bem, a paz e a justiça.

O silêncio da Sexta-feira Santa, a coragem de fixar o olhar n’Ele, o crucificado, fecunde em cada coração uma instigante interpelação para se orientar a partir do amor, do amor em Cristo Jesus revelado. Desse modo, ecoe nos corações a lógica inigualável e convincente de Deus, que amou tanto o mundo e por isso deu o seu Filho Único para que todo aquele que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.’


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