*Artigo
do Padre António Rego,
Missionário Comboniano
‘Foram variando os
nomes ao longo dos tempos : o mais velho, ancião, idoso, patriarca, terceira
idade. Nenhuma expressão se atreveu a tornar-se única. Uma certa procura de
dignidade foi repescando sinônimos para tornar menos humilhante o tempo da vida
que falta viver. Com a subida da média etária, os mais velhos são cada vez mais
‘jovens’ e mais longamente idosos.
Mas, no barco da vida, eles vão chegando à proa, gerando desequilíbrio, fazendo
ondas que ameaçam os da retaguarda, a segurança social, olhando para trás sem
verem quem lhes siga o rasto porque faltam crianças e jovens. Não é só a
economia de um país que se ressente. Parece ser o equilíbrio do planeta que
está em risco. O ‘excesso’ de velhice
levou um indiano, não há muito, a exclamar : «A morte esqueceu-se de mim.»
É bom, entretanto,
recordar o valor do idoso, por exemplo, na tradição africana: «Quando morre um velho, é uma biblioteca que
arde.» Transmitem a cultura e a sabedoria. Estão no centro da roda da
família. Diz-se que em alguns lugares esse posto foi ameaçado e os jovens
passaram para o centro e não ouvem nem reconhecem a autoridade ‘do mais velho’.
A mudança é
inevitável, mas não exige a expulsão do seu lugar simbólico. Em boa parte,
estão mais ativos. Têm o tempo que nunca tiveram para olhar e acompanhar a
família, derramar afetos e atenções ao que lhes tinha passado de raspão nos
anos em que a vida voou. Ganham estatuto patriarcal, como avós, apoio de filhos
e netos, com um segundo olhar sobre os fatos, iluminado pela sabedoria que
recorta, no tempo e no espaço, os acontecimentos que se atropelam. Têm
disponibilidade e energia para os outros, para os ver e ouvir melhor, não
obstante o embaciado do olhar e a rigidez do ouvido.
Aqui chegados há
que exigir um novo olhar da sociedade que os expulsa por comodidade para os
lares, muitos sobrelotados de pessoas e vazios de afeto para com os idosos que
têm vida para viver e para dar. A Igreja tem integrado na sua missão a atenção
aos mais idosos para que se encontrem, reflitam, rezem e aprendam. E não tenham
medo de se integrar na comunidade com todas as fragilidades que o tempo
acarreta. Trata-se de respeitar um capital adquirido que se não deve expulsar
nem esconder. Têm beleza e esplendor as suas rugas. Podem, a partir da família,
ou do lar como recurso, alimentar os seus contatos na partilha e abertura a
outras culturas, continentes, ações de desenvolvimento e solidariedade,
envoltas no anúncio da vida e do Evangelho. E sentirem a importância da sua
vida na missão de mestres, na leitura serena dos sinais dos tempos. E na
permuta com outras gerações que lhes dão ânimo para prosseguirem na aula
continuada da vida. Como na oração que alavanca o mundo na sua grandeza e
miséria. O despojamento dos idosos, mais que uma fragilidade, é um estado de
alma que abre portas à passagem de Deus, reconta o rosário da experiência
espiritual, longe da ambição, do egoísmo, da corrida desenfreada para chegar ao
primeiro lugar.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EulllEukpEndMAfJfP
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