*Artigo
do Padre Inácio José do Vale
‘O primeiro e
maior mandamento ensinado por Nosso Senhor Jesus Cristo, é amar o Senhor Deus,
Pai eterno e todo-poderoso de todo o nosso coração, de toda nossa alma, de toda
nossa mente e de toda nossa força (Mc 12,30).
Se soubéssemos o
suficiente sobre Quem Deus é e o que Ele pode ser para nós, estaríamos
prostrados, suplicando que nos desse o privilégio de amá-Lo no abissal máximo
da nossa capacidade. Quando somos divinamente iluminados, amar ao Bom Deus de
todo o nosso coração é o mais sublime prazer da nossa existência.
Viver sem amar é
não viver. Ninguém pode viver uma vida de paz, e alegria e de felicidade sem
amar a Deus de toda sua alma.Disse Sigmund Freud : «O que se precisa para ser feliz? Trabalho e amor».
O amor é o
sentimento mais poderoso do universo. É o sentimento da vitória. Dele afirmou o
Padre José Kentenich : «Permaneçamos
fielmente unidos e não esqueçamos que o amor vence tudo».
Há duas palavras
no Novo Testamento grego que significam amor. A palavra philos se refere a todo
afeto humano natural, algo que todos os seres humanos possuem. A outra palavra
é ágape, fala do amor de Deus e seus atributos para humanidade. A maior
expressão desse amor está em João 3,16. «Deus
amou o mundo de tal maneira que deu o único filho, para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna».
O Papa Bento XVI,
na sua Carta Encíclica Deus Caritas Est, no final da introdução exorta : «O meu desejo é insistir sobre alguns
elementos fundamentais, para desse modo suscitar no mundo um renomado dinamismo
de empenhamento na resposta ao amor divino».
Ninguém melhor
respondeu ao amor divino do que a bendita Virgem Maria. Está escrito em Lucas
1,38 : «Disse então Maria : 'Eis aqui a
serva do Senhor : cumpra-se em mim segundo a tua palavra'». No versículo 37
está escrito : «E o meu espírito se
alegra em Deus meu Salvador».
Maria é o mais
belo exemplo do amor abissal ao nosso Deus. O amor de Maria é o amor que faz
cumprir a gloriosa palavra de Deus em sua vida. Todo esse amor está imbuído de
gratidão, alegria, pureza, submissão e sofrimento. Essa manifestação do amor
por Deus nos mostra mais claramente a ilusão, o engano, o valor passageiro de
tudo que parece ser bom neste mundo. A revelação desse poderoso amor é a arma
que «dissipou os soberbos no pensamento
de seus corações. Depôs dos tronos os poderosos, e elevou os humildes. Encheu
de bens os famintos, e despediu vazios os ricos». (Lc 1, 51-53).
O amor abissal
ignora tudo que queira ser intruso no nosso coração para tomar o santo lugar de
Deus ou que, no menor sentido possível, tenta dividir com ele o nosso coração.
É com a revelação desse amor que escolhemos o Deus da vida e rejeitamos todos
os deuses da morte, todos os falsos profetas, todos os ídolos e toda pregação
enganosa da teologia da prosperidade. Nossos corações ardem com indignação
contra tudo que tenta tomar o santíssimo espaço do Bom Deus ou tenta ocupar a
menor parte que seja da honra, da glória, do louvor e da adoração devidos
somente a Deus Pai Todo-Poderoso.
Com a graça do
amor, exaltamos a soberania de Deus. Com a fé e o amor, temos poder para orar.
Com a esperança temos confiança no amor de Deus para vida eterna. Com a bênção
do amor, deixamos de lado tudo que possa competir com a nossa salvação. Com
amor temos Jesus Cristo como Senhor de tudo. Com o amor de Deus que foi
derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5, 5), ficamos desprovidos
das coisas negativos do mundo e do inferno.
Temos certeza
absoluta do amor de Deus para a nossa alma. Chegaremos ao paraíso, com o perdão
dos nossos pecados, por meio da caridade divina (Pr 10,12; I Pd 4,8).
O amor abissal nos
leva a ter sede e fome de Deus. O rei Davi tinha esse amor, quando escreveu : «A minha alma tem sede de Deus do Deus vivo»
(Sl 42,1,2). Lindo é o seu clamor descrito no Salmo 63,1,2 : «Ó Deus , Tu és o meu Deus; de madrugada Te
buscarei. A minha alma tem sede de Ti; a minha carne Te deseja muito em uma
terra seca e cansada, onde não há água; para ver a Tua fortaleza e a tua
glória, como Te vi no santuário».
Ninguém pode
servir a Deus, sem amá-Lo ardentemente. Ninguém pode amar o próximo, sem amar a
Deus. Ninguém pode amar a Deus, sem amar a humanidade. Ninguém pode fazer a
obra do Senhor, sem ter fome e sede de Deus.
É o amor divino
que atrai o ser humano para conhecer e relacionar com a Santíssima Trindade.
Através do amor, temos comunhão com as três Pessoas Divinas. A nossa comunhão
eclesial, parte da comunhão trinitária. Nada em toda a nossa vida, poderá
satisfazer nossos desejos, a não ser o amor, faz-nos negligenciar tudo que é
terreno, relativo e insignificante, a fim de alcançar algo maior e eterno.
Diz o padre Vitor
Galdino Feller : «Deus é amor (1 Jo
4,8.16). Nesse sentido, Ele basta-se a Si mesmo, na inter-relação infinita de
transbordamento de amor entre as três Pessoas Divinas. Por ser assim, Deus-Amor
quer que compartilhemos de sua vida, criou-nos para a comunhão consigo e
chama-nos do egoísmo e de toda forma de pecado para a reconciliação com Ele e
com os nossos irmãos. O ser humano não se cansa de acreditar no amor e na
comunhão. Essa esperança se fundamenta em Deus que é amor e no amor de Deus por
nós».
Com categoria
afirmava o Doutor da Graça, Santo Agostinho : «Se vês a caridade, vês a Trindade».
É a dimensão desse
trinitário amor, que arde em nossos corações pelo Senhor Deus, pelo semelhante
e que arrebenta o mero espírito religioso rotineiro e o atrai para uma vida de
ardor, ousadia e poder. Com atração desse amor, as pessoas insistem pelo valor
da vida. Tem forças para lutar contra as injustiças e a cultura de morte.
Atravessam terra, mar, montanhas, vales, desertos, barreiras, caminhos
solitários, espinhosos e pontes.
Todas as coisas
sem o amor de Deus, mais cedo ou tarde acabam nos enfadando. Sem amor, nada é
feito para durar. Somente é renovado a cada dia, quando o coração apaixonado,
descobre o novo a cada momento, uma nova visão para aquecer o amor.
São Paulo Apóstolo
afirma que o amor de Cristo nos constrange e que somos edificados em amor (II
Cor 5,14; Ef 4,16).
«Se quiséssemos compendiar a mensagem cristã
em poucas palavras, encontraríamos a formulação exata em São João Apóstolo :
«Ele primeiro nos amou» (1 Jo 4,19). Mas não somente Ele ama. Há Mais : Ele
amou PRIMEIRO, isto é, teve a iniciativa de amar não somente ao criar o homem,
mas também ao recriá-lo; na verdade, o homem disse NÃO a Deus pelo pecado dos
primeiros pais; nessas condições o Pai enviou seu próprio Filho feito novo Adão
para redimir o primeiro Adão e sua linhagem. Deus Pai revelou assim a grandeza
do seu amor tal que jamais o homem a imaginaria», escreveu Dom Estevão
Bettencourt, OSB.
O amor abissal
para com Deus é uma oblação radical, é uma atitude de se dar sem reservas ao
bondoso Pai Celestial.’
Fonte :
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