*Artigo
de Felipe Magalhães Francisco,
Mestre
em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia.
Coordena
a Comissão Arquidiocesana de Publicações,
da
Arquidiocese de Belo Horizonte.
‘Não. Este não é
um artigo piegas, do estilo clichê, que faz reflexões sobre a força de um homem
idoso que dá a volta por cima, nas adversidades da vida. Tampouco tem a
pretensão de explorar uma não-notícia, como o fato de alguém cair, sem maiores
danos, como acontece todos os dias, no mundo inteiro, com pessoas comuns ou
não. Chama a atenção como muita coisa envolvendo Francisco vira notícia : tanto
na mídia tradicional, quanto nas redes sociais. Esse é o novo Papa Pop. Um Papa
Pop que cai. E, assim, uma não-notícia vira notícia.
O mundo está de
olho em Francisco nos últimos dias, por ocasião da Jornada Mundial da
Juventude, que está a acontecer em Cracóvia, na Polônia. O evento marca duas
situações fortes : a presença alegre, afetuosa e contagiante de Francisco e o
fato de o evento ocorrer na terra natal de João Paulo II, o papa de um carisma
ímpar e idealizador da Jornada Mundial da Juventude, e que foi elevado à
categoria de Santo. Esse evento é uma grande realização : jovens do mundo
inteiro se reúnem para celebrar. Mas, celebrar o quê?
O tema da Jornada
deste ano é a misericórdia, em consonância com o tempo jubilar vivido pela
Igreja, nesse Ano Santo. Essa é uma das insistências pastorais de Francisco : o
papel da Igreja na promoção da misericórdia divina. O lema retoma o exigente
Evangelho de Mateus : ‘Bem-aventurados os
misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia’ (5,7). Quando nos
perguntamos quais os frutos trazidos por esse evento é que retomamos aquela
pergunta : o que se celebra com a Jornada Mundial da Juventude? Talvez não
tenhamos resposta para a questão, dado que, pelo que percebemos, trata-se de um
evento de grande dimensão afetiva, a ponto de milhares e milhares de jovens
gritarem, emocionados, ser a ‘juventude
do Papa’.
Dizer que esse
afeto é provocado pelo olhar acalentador e pelos gestos amorosos de Francisco
talvez seja uma conclusão rápida. Afinal, o mesmo afeto e a mesma motivação de
reconhecerem-se como a juventude do Papa também se davam com o emérito Bento
XVI, que não tem o carisma como a melhor de suas qualidades. É certo que a
postura humana de Francisco provoca muita comoção por onde ele passa. Francisco
realmente aparenta buscar viver a misericórdia, que tanto insiste, para a qual
a Igreja se converta. Mas, será que Francisco tem sido um testemunho vivo para
as juventudes, bem como para toda a porção do povo católico? Que ele tem sido
sinal – e um feliz sinal –, não temos dúvida. No entanto, para que ele seja um
vivo testemunho é preciso que arraste pessoas, não as multidões pelas
multidões, mas que seja inspiração de comportamento.
Vejam os caros
leitores e caras leitoras que isso diz mais das pessoas que se propõem a
observar Francisco, do que dele mesmo. É preciso passar do puro encantamento
por ter o privilégio de ser a juventude do Papa, num mundo tão desigual e de
poucas oportunidades para poucos, quando viajar para outros países é sonho
irrealizável para tantos e tantas, e deixar-se afectar pelo que Francisco
evangelicamente faz e diz. Por exemplo, foca-se
muito no que ele diz e faz, mas pouco se percebe do peso simbólico e
comprometedor disso tudo. Muitos se admiraram pelo fato de ele fazer memória do
jovem Maciek Cieśla, jovem que trabalhou para que a Jornada acontecesse e que
dela não pôde participar, por ter falecido. Francisco não foi só gentil e atencioso, ao lembrar-se do jovem, mas
propôs uma pastoral personalizada, que valoriza a pessoa, num tempo em que
prevalece a pastoral das massas : a multidão pela multidão nada diz; é preciso
alcançar pessoas. Para que Francisco seja um testemunho vivo do Evangelho é
preciso que nos deixemos ser mobilizados por esse testemunho : não apenas nos
encantando, mas nos inspirando a agir de modo semelhante, pois revela o agir do
próprio Jesus. Isso vale bem mais que ser a juventude do Papa e que dar
importância ao fato de que o Papa cai. Viver a misericórdia como
bem-aventurança é a celebração que precisamos fazer. No mais, são
apenas fotos para o Facebook.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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