*Artigo de Dom Adelar Baruffi,
Bispo de Cruz Alta
‘A atuação dos
leigos como sujeitos, como cristãos maduros na fé, se dá na Igreja e no mundo.
É fato que se precisa acentuar a formação dos cristãos para atuarem nos
diversos âmbitos da sociedade, pois esta é sua vocação específica. ‘A índole secular é própria e peculiar dos
leigos' (LG 31). Isto significa que o mundo, com toda sua complexidade, é o
lugar específico da missão dos leigos : ‘São
chamados por Deus para que aí, exercendo o seu próprio ofício, inspirados pelo
espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro,
como fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo
testemunho da própria vida, pela irradiação de sua fé, esperança e caridade’
(LG 31). Percebemos que este é um grande desafio. O Papa Francisco expressou
isso claramente : ‘apesar de se notar uma
maior participação de muitos nos ministérios laicais, esse compromisso não se
reflete na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e
econômico; limita-se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um
empenhamento real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade.’
(EG 102). Vê-se, que ainda é insuficiente a atuação em muitas estruturas
sociais : universidades, comunicação, empresas, trabalho, política, cultura,
medicina e tantos outros.
A motivação desta
presença cristã na sociedade é encontrada na lógica da Encarnação, no agir de
Deus, que vem ao encontro da humanidade. Deus ‘desce e entra em nosso mundo e em nossa história para assumir em tudo a
nossa existência. Desta forma, também os cristãos, para seguir e servir a Deus,
devem ‘descer’ e ‘entrar’ em tudo o que é humano, que constrói um mundo mais
humano e que nos humaniza.’ (Doc 105, n. 163). O evangelho de Jesus Cristo
deve penetrar e iluminar todas as realidades humanas e sociais, pois Jesus
Cristo, o Verbo Encarnado, ‘revela o
homem ao próprio homem.’ (GS 22). Entendemos que o compromisso sócio
transformador nasce e encontra seu critério em Jesus Cristo, seu evangelho e
seu Reino. O leigo presta um serviço cristão à humanidade, quando exerce sua
cidadania guiado pela Doutrina Social da Igreja, procurando uma coerência, nem
sempre de fácil discernimento, entre ser membro da Igreja e ser cidadão.
Expressa e
testemunha este modo de viver, como cristão e cidadão, em todos os âmbitos da
sociedade. O documento da CNBB ‘Cristãos
leigos e leigas na Igreja e na sociedade : sal da terra e luz do mundo’
(Doc. 105) apresenta alguns ‘modernos
areópagos’ onde a presença cristã dos leigos se faz necessária. A família é
vista como ‘areópago primordial’ (n.
255). Depois, a política, pois segundo S. João Paulo II, ‘os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na
política destinada a promover o bem comum.’ (CfL 42). Destaca ainda, o
mundo das políticas públicas, o mundo do trabalho, o mundo da cultura e da
educação, o mundo das comunicações e do cuidado com nossa casa comum. Outros
espaços são ‘as grandes cidades; as
migrações; os refugiados políticos ou de guerra ou de catástrofes naturais; a
pobreza; o empenho pela paz; o desenvolvimento e a libertação dos povos,
sobretudo o das minorias; a promoção da mulher e da criança; a força da
juventude; as escolas, as universidades; a pesquisa científica; as relações
internacionais; o turismo, os militares e outros.’ (Doc 105, n. 273). Não é
possível querer ser um cristão autêntico e maduro e fugir destas realidades,
como se nada tivessem a ver com nossa fé. ‘Jesus
quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros’,
nos disse o Papa (EG 270).’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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