*Artigo de Cardeal Dom Orani João Tempesta, O.
Cist.,
Arcebispo Metropolitano de
São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
‘O texto base do
XVII Congresso Eucarístico Nacional está dividido em cinco capítulos. A divisão
foi a seguinte : 1 – Jerusalém e o mistério pascal, 2 – Emaús – eles o
reconheceram na fração do Pão, 3 – Eucaristia, fonte de comunhão e partilha na
Amazônia missionária, 4 – Nazaré – Ele vai à frente, na Galiléia e 5 – Maria,
mulher Eucarística.
Quanto o primeiro
capitulo : Jerusalém e o mistério Pascal, este por sua vez faz uma explanação
geral sobre o significado e a importância de Jerusalém para o contexto
Eucarístico e depois fala sobre os nomes da Eucaristia : memória, sacrifício,
comunhão, presença real e Eucaristia e iniciação cristã.
A iniciação cristã
encontra seu ápice no Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Com efeito, as ações
litúrgicas da iniciação vão ordenadas a significar e produzir a união íntima do
cristão com Cristo e com a sua missão. A destinação para essa missão, que se
recebe no batismo, no qual o batizado fica marcado indelevelmente com o sinal
de Cristo, reforça-se na plenitude do Espírito Santo, que nos é dada no
sacramento da confirmação. Mas a Eucaristia, ao estabelecer a comunhão entre a
pessoa do cristão e o seu Senhor, morto e ressuscitado, coloca-o diretamente no
seio da vida divina. A Eucaristia não é só participação na graça, mas na
própria fonte da graça.
Comer e beber,
atividades naturais do ser humano, conservam e fortalecem a vida e são, ao
mesmo tempo, o contato primário com o mundo. A maioria dos povos desenvolveu
uma cultura em torno do cear, por meio de comer e beber em conjunto se
representa e estabelece comunhão. Também no Antigo Testamento a ceia é um sinal
de realizador de comunhão. No atendimento solícito realiza-se a hospitalidade
(cf. Gn 18,1-8), tratados de paz e alianças são selados em meio à ceia (cf. Gn
14,18; 26,30; 31,54; Ex 18,12).
Na aliança feita
no Sinai o sacrifício está em primeiro plano : Moisés toma a metade do sangue
dos bezerros sacrificados e o asperge sobre o altar dos sacrifícios; depois lê
o documento da aliança, e o povo concorda com os termos do documento; em
seguida, Moisés asperge a outra metade do sangue sobre o povo (cf. Ex 24,8).
Desse modo, nessa efetivação da aliança o sacrifício se associa com a ceia.
Ambas as coisas unem com Deus : o sangue do sacrifício aspergido sobre o altar e
o povo e a ceia dos anciãos, que por essa ocasião puderam ver a Deus.
Toda refeição
começa com o louvor no partir do pão e termina com a oração de agradecimento.
Isso é associado muitas vezes com a anamnese dos feitos salvíficos de Deus.
A festa do pesah é
o memorial central da ação salvífica libertadora de Deus. Ela se desenvolveu a
partir de duas festas pré-israelitas : a festa da primavera, os nômades que
celebravam a partida para novas pastagens com o abate de um animal pequeno e
uma refeição comunitária e, a festa dos pães ázimos, por ocasião da qual eram
sacrificadas as primeiras espigas da cevada, seguindo com uma refeição com pão
não levedado, cozido com o cereal da nova colheita. Em Israel a festa foi
relacionada com o evento do êxodo. Novamente estão interligados ceia,
sacrifício e memória.
No Novo
Testamento, a comunhão de mesa é o ato simbólico de Jesus, por várias vezes
referido nos Evangelhos. Ele é entendido por amigos e inimigos. Para uns é um
ato convidativo, para outros é motivo de escândalo e inimizade por causa dos
comensais com os quais Jesus se envolve. Com a parábola do pai misericordioso
(cf. Lc 15,11-32), Jesus justifica sua comunhão de mesa com os pecadores, e com
o convite para o banquete, com a qual termina a parábola, tenta convencer os
justos a se alegrarem com o retorno do perdido. No relato da última ceia, por
um lado, é ceia de despedida : resumo da vida e, ao mesmo tempo, testamento
comprometedor para os discípulos; por outro lado, ela aponta, como todas as
comunhões de mesa de Jesus, para o futuro escatológico. A última ceia é,
portanto, ceia de despedida em perspectiva escatológica, sinal de esperança em
face da ruína.
A Eucaristia é
sacrifical, sacramento da morte e da ressurreição, porque ela é o corpo de
Cristo, ‘corpo entregue’, ele se torna presente no instante da realização da
salvação, corpo entregue e glorificado, a fim de que a Igreja se torne um só
corpo com ele na realização da salvação. A Eucaristia é o sacramento da
presença de Cristo, e é sacrifical em razão dessa presença. A Eucaristia é o
sacramento do sacrifício de Cristo, porque, por ela, Cristo se doa à Igreja em
seu único sacrifício, em sua morte e sua ressurreição, nas quais foi
eternizado. Ele se doa a ela, a fim de que ela celebre com ele o único
sacrifício.
Contudo, a
Eucaristia é o corpo de Cristo no ato redentor, dado à Igreja para que se torne
aquilo que ela recebe do corpo de Cristo no ato redentor. Assim, salva em Cristo
e com ele, ela participa na salvação do mundo.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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