Percebemos que o ser humano, filho do tempo pós-moderno,
está em busca de viver mais inteiro.
*Artigo
de Felipe Magalhães Francisco,
Mestre em Teologia, pela
Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia.
Coordena a Comissão
Arquidiocesana de Publicações,
da Arquidiocese de Belo
Horizonte.
A mística lança-nos diante da
experiência profunda do amor, que dá sentido e que plenifica.
‘Um dos maiores
teólogos católicos do séc. XX, o alemão Karl Rahner, escreveu que os cristãos do futuro
ou seriam místicos ou não seriam cristãos. Esse futuro já se fez
presente. Essa leitura crítica da realidade, feita por Rahner, ainda é difícil
de ser percebida em nosso país, quando está em ascensão, cada vez mais, um tipo
de religiosidade espiritualista, de cunho neopentecostal. Nos países
secularizados, no entanto, observa-se crescer as tendências místicas no
cristianismo. É uma questão de tempo até que chegue até nós, pois a efervescência
neopentecostal passará por um arrefecimento natural.
O crescimento de
uma religiosidade espiritualista, no Brasil, demonstra que, por muito tempo,
vivemos uma religiosidade marcadamente cristocêntrica, na qual a figura do
Espírito Santo não era abordada. Hoje, percebe-se que o acento cristológico
dessa religiosidade vigente aborda uma imagem de Cristo vitorioso, todo
poderoso. Ao mesmo tempo, vive-se como num tempo novo, inaugurado pelo Espírito
Santo : fala-se, muito, em batismo no Espírito Santo e em novo pentecostes.
Possíveis – e
devidas – críticas à parte, observamos que a atual insistência na Pessoa do
Espírito Santo revela que, de fato, é preciso que pensemos uma espiritualidade
trinitária. Caso
queiramos que as práticas religiosas alcancem a profundidade de uma autêntica
espiritualidade, precisamos resgatar o papel do Espírito Santo em nossas
tradições cristãs. Dessa maneira, viveremos uma verdadeira espiritualidade, sem
lugar para espiritualismos. Esse é o lugar da mística, da qual nos fala Rahner,
como característica de todo cristão e cristã de nossos tempos.
Se, nas tradições
religiosas cristãs, ainda não percebemos com tal clareza a dimensão mística,
por causa dessa religiosidade espiritualista, neopentecostal, secularmente
podemos perceber que o ser humano, filho deste tempo pós-moderno, está em busca
de viver mais inteiro, na completeza. Cresce o interesse pela leitura dos
místicos; as espiritualidades orientais começam a ganhar, cada vez mais,
expressão. Tudo isso revela que é preciso algo a mais, para que nos realizemos
como pessoa. Esse é o papel da mística e do exercício da espiritualidade que,
para a tradição cristã, encontra seu porto em Deus.
O que significa,
então, mística nesses nossos tempos? O artigo A mística
na encruzilhada da pós-modernidade, do Padre Paulo Sérgio
Carrara, CSSR, doutor em Teologia, ajuda-nos a compreender a mística como
experiência de revelação, pela qual podemos mergulhar em Deus, saboreando-o.
Hodiernamente, a mística é uma real possibilidade de encontro e experiência com
Deus que, revelando-se em Jesus, abre-nos a possibilidade para que conheçamos a
nós mesmos. Para além das conceituações dogmáticas, a mística, aproximando-nos
da experiência dos poetas, lança-nos diante da experiência profunda do amor,
que dá sentido e que plenifica.
A mística e a
espiritualidade são caminhos de integração. Já não basta que nos compreendamos
seres racionais, sem mais. É preciso que busquemos nos compreender na
complexidade do que somos, para que à nossa vida seja dado o sentido que tanto
almejamos. Nesse horizonte, é preciso ultrapassar o bipartidarismo do
corpo-alma, tão próprio de nossa cultura ocidental. Somos, também, seres
abertos à Transcendência e a busca do ser humano pós-moderno, em grande medida,
revela isso. Tudo isso demanda um conhecimento de nós mesmos. A mística e a
espiritualidade, além de nos colocar diante de Deus, colocam-nos dentro de nós
mesmos. Aprofundando essa reflexão, o artigo Psicologia e Espiritualidade : ‘irmãs’
que precisam caminhar unidas, do Padre Marcos Uchôa, mestre em Teologia pela
FAJE, ajuda-nos a pensar sobre a importância da busca de nossa integração, como
verdadeiro caminho espiritual.
Para o cristianismo, é o Espírito Santo o responsável por nos
colocar na dinâmica da configuração de nossa vida à vida de Jesus. É o Espírito
quem mantém viva, em nós, a memória do Ressuscitado, este que nos integra na
vida do Pai. Dessa maneira, observa-se que é próprio da espiritualidade – o
mover do Espírito, de Deus e também do nosso – colocar-nos diante do sentido
que, para o cristianismo, é Deus. Essa espiritualidade precisa tocar o
cotidiano da vida, pois ele é o lugar no qual acontece a irrupção de Deus que
vem ao nosso encontro. Para nos ajudar a compreender melhor a importância da
espiritualidade no cotidiano, como possibilidade de nossa integração pessoal, o
Padre Marcelo Silva, mestre em Psicologia, pela PUC-Minas, propõe-nos o artigo Espiritualidade
das pequenas coisas : um modo de viver a fé no cotidiano.
Com o desejo de
uma vida cada vez mais espiritual e mística, boa leitura!’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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