*Artigo
de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano
‘As homilias das missas têm estado na ordem do dia nos círculos
Católicos da África do Sul. Em meados de abril, a irmã americana Sue Rakoczy
IHM, professora no Instituto Teológico de São José em Cedara (na Província do
KwaZulu-Natal), fez publicar no jornal católico nacional, The Southern Cross,
um texto em que se queixava do tom e do conteúdo da homilia que tinha ouvido no
Domingo de Ramos. Recordava ainda a sua experiência de outras homilias mal preparadas que são uma
penitência para os ouvintes. Sugeria uma moratória de um ano : «Não deve haver homilias – nem mesmo no Natal ou na Páscoa. Em seu
lugar, depois da leitura do Evangelho, todos devem ser convidados a refletir
sobre as leituras em silêncio durante cinco minutos. Durante este ano sem
homilias, cada bispo diocesano deve organizar seminários para treinar os padres
e diáconos a fazerem homilias.»
O diretor do
Instituto Jesuíta sul-africano, o Padre Russell Pollitt, que já por duas vezes
tinha escrito sobre a pouca qualidade de grande parte das homilias, publicou um
texto intitulado «Porque é que saí da
missa?». Dizia que tinha deixado uma missa a meio «porque já não aguentava mais permanecer indiferente enquanto sentia que
a sua inteligência e discernimento estavam a ser insultados por um pregador que
fazia uma leitura deturpada e moralista dos textos sagrados num sermão que
nunca mais acabava.» Justificava-se assim : «O pecado menor, pensei, era sair.»
Os atropelos que
se verificam nos atos de culto já andavam nas notícias desde o início do ano
sobretudo devido às práticas originais com que um pastor e «profeta» no Norte de Pretória, chamado
Penuel Mnguni, contempla os seus fiéis : fá-los comer cobras vivas, engolir
gasolina ou pastar na erva do campo à volta da tenda, lamber os seus sapatos...
por entre hinos e «aclamações a Deus».
Parece que a finalidade das humilhações infligidas aos devotos é provar a força
da sua fé.
O caso não escapou
à mídia – há fotografias e vídeos na Net – e levou inclusivamente à criação de
uma comissão de investigação. Para já, o pastor foi acusado de crueldade para
com os animais por usar espécies de cobras em vias de extinção e por isso
protegidas!
Os exemplos
acumulam-se. A verdadeira questão, por detrás do ridículo de certos cultos
evangélicos e de tantas homilias «sem
qualquer sumo espiritual», é simples : que alimento se dá aos fiéis que
procuram no ato de culto ajuda, alívio e inspiração? Há, infelizmente, muita
gente desesperada que se sujeita a todas as indignidades e esvazia a carteira
para ver os seus problemas milagrosamente resolvidos. Qual é o Deus da pregação
ou a imagem de Deus subjacente à pregação e práticas das Igrejas e seitas
religiosas? O Deus do nosso imaginário, feito «à nossa imagem e semelhança» ou o Deus da revelação bíblica?
Parece-me que nas
Igrejas evangélicas a tentação maior é a de apresentar um «Deus tapa-buracos»,
milagreiro, que atua a partir de fora, na medida do volume das ofertas dadas
aos pastores como sinal de fé. Na Igreja Católica,
por outro lado, a tentação é cair no moralismo doutrinal apresentando um Deus
que responde às nossas preces quando nós nos esforçamos por ser bons – e não
porque Ele é bom. Confundimos a
perfeição moral com a santificação e acabamos por não testemunhar o Deus da
misericórdia e do perdão, que é Graça abundante antes de ser exigência de
verdade e compromisso. Só podemos aprender quem Ele verdadeiramente é na escola
de Jesus.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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