quinta-feira, 7 de julho de 2016

O Deus dos pregadores

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano

  
‘As homilias das missas têm estado na ordem do dia nos círculos Católicos da África do Sul. Em meados de abril, a irmã americana Sue Rakoczy IHM, professora no Instituto Teológico de São José em Cedara (na Província do KwaZulu-Natal), fez publicar no jornal católico nacional, The Southern Cross, um texto em que se queixava do tom e do conteúdo da homilia que tinha ouvido no Domingo de Ramos. Recordava ainda a sua experiência de outras homilias mal preparadas que são uma penitência para os ouvintes. Sugeria uma moratória de um ano : «Não deve haver homilias – nem mesmo no Natal ou na Páscoa. Em seu lugar, depois da leitura do Evangelho, todos devem ser convidados a refletir sobre as leituras em silêncio durante cinco minutos. Durante este ano sem homilias, cada bispo diocesano deve organizar seminários para treinar os padres e diáconos a fazerem homilias.»

O diretor do Instituto Jesuíta sul-africano, o Padre Russell Pollitt, que já por duas vezes tinha escrito sobre a pouca qualidade de grande parte das homilias, publicou um texto intitulado «Porque é que saí da missa?». Dizia que tinha deixado uma missa a meio «porque já não aguentava mais permanecer indiferente enquanto sentia que a sua inteligência e discernimento estavam a ser insultados por um pregador que fazia uma leitura deturpada e moralista dos textos sagrados num sermão que nunca mais acabava.» Justificava-se assim : «O pecado menor, pensei, era sair

Os atropelos que se verificam nos atos de culto já andavam nas notícias desde o início do ano sobretudo devido às práticas originais com que um pastor e «profeta» no Norte de Pretória, chamado Penuel Mnguni, contempla os seus fiéis : fá-los comer cobras vivas, engolir gasolina ou pastar na erva do campo à volta da tenda, lamber os seus sapatos... por entre hinos e «aclamações a Deus». Parece que a finalidade das humilhações infligidas aos devotos é provar a força da sua fé.

O caso não escapou à mídia – há fotografias e vídeos na Net – e levou inclusivamente à criação de uma comissão de investigação. Para já, o pastor foi acusado de crueldade para com os animais por usar espécies de cobras em vias de extinção e por isso protegidas!

Os exemplos acumulam-se. A verdadeira questão, por detrás do ridículo de certos cultos evangélicos e de tantas homilias «sem qualquer sumo espiritual», é simples : que alimento se dá aos fiéis que procuram no ato de culto ajuda, alívio e inspiração? Há, infelizmente, muita gente desesperada que se sujeita a todas as indignidades e esvazia a carteira para ver os seus problemas milagrosamente resolvidos. Qual é o Deus da pregação ou a imagem de Deus subjacente à pregação e práticas das Igrejas e seitas religiosas? O Deus do nosso imaginário, feito «à nossa imagem e semelhança» ou o Deus da revelação bíblica?

Parece-me que nas Igrejas evangélicas a tentação maior é a de apresentar um «Deus tapa-buracos», milagreiro, que atua a partir de fora, na medida do volume das ofertas dadas aos pastores como sinal de fé. Na Igreja Católica, por outro lado, a tentação é cair no moralismo doutrinal apresentando um Deus que responde às nossas preces quando nós nos esforçamos por ser bons – e não porque Ele é bom. Confundimos a perfeição moral com a santificação e acabamos por não testemunhar o Deus da misericórdia e do perdão, que é Graça abundante antes de ser exigência de verdade e compromisso. Só podemos aprender quem Ele verdadeiramente é na escola de Jesus.’


Fonte :
* Artigo na íntegra

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