*Artigo
de JOVENS EM MISSÃO
‘As obras de
Misericórdia são as ações caridosas pelas quais vamos em ajuda do nosso
próximo, nas suas necessidades corporais e espirituais. Instruir, aconselhar,
consolar, confortar, perdoar, suportar com paciência e rogar a Deus pelo
próximo são obras de misericórdia espirituais. As obras de misericórdia
corporais consistem em dar de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede,
albergar quem não tem teto, vestir os nus, visitar os doentes e os presos, e
sepultar os mortos.
Caridade fraterna e
justiça que agrada a Deus
Ser cristão é ser
como Jesus Cristo, é manifestar a fé em atos de caridade : «A fé se não tiver obras está completamente
morta» (ler Carta de Tiago 2,
14-26). Como pode um cristão dizer que tem fé, se esta não se manifesta nos
seus atos? Que sentido teria uma fé assim?
A transmissão oral da fé é fundamental, mas é preciso que esta fé se
torne vida em cada um de nós. Neste tempo, em que a fé celebrada na Igreja
corre o risco de apagar-se como uma chama que já não recebe alimento, a
prioridade é tornar Deus presente neste mundo através dos gestos que são
manifestação concreta de Deus que é Amor.
No Ano Santo da
Misericórdia, recordamos a tradição das Obras de Misericórdia. Não são ‘caridadezinha’, mas amor ao próximo como
arte do encontro, como arte da relação, como arte de viver em fraternidade e na
prática da justiça que agrada a Deus.
As obras de
misericórdia corporais
O evangelista São
Mateus apresenta no capítulo 25 uma narração do Juízo Final (Mt 25, 31-36). E
apresenta as obras de misericórdia corporais que dizem respeito às necessidades
materiais do outro.
Dar de comer a
quem tem fome e dar de beber a quem tem sede são duas obras que se complementam
e referem-se à ajuda que devemos disponibilizar em alimentos e outros bens aos
mais necessitados, àqueles que não têm o indispensável para comer em cada dia.
Jesus, segundo o
Evangelho de S. Lucas, recomenda : «Quem
tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça
o mesmo» (Lc 3, 11).
Dar pousada aos
peregrinos é uma obra que remonta aos tempos antigos, em que dar hospedagem aos
viajantes era um assunto de vida ou de morte, pelas dificuldades e riscos das
caminhadas e viagens. Não é o normal hoje em dia. Mas, mesmo assim, poderia
acontecer recebermos alguém em nossa casa, não por pura hospitalidade de
amizade ou família, mas por alguma, verdadeira, necessidade. O êxodo dos
refugiados que chega à Europa dá, atualmente, uma nova urgência à prática desta
obra de fraternidade e justiça social e cristã.
Vestir os nus é um apelo para aliviar outra necessidade básica : o vestuário.
Muitas vezes é-nos proporcionada com as recolhas de roupa que se fazem nas
paróquias e noutros centros. Ao entregar a nossa roupa é bom pensar que podemos
dar o que nos sobra ou já não nos serve, mas também podemos dar do que ainda
nos é útil. A carta de São Tiago propõe-nos sermos generosos : «Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e
precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser : ‘Ide em paz,
tratai de vos aquecer e de matar a fome», mas não lhes dais o que é necessário
ao corpo, de que lhes aproveitará?’» (Tg 2, 15-16).
Visitar os enfermos. Trata-se de uma
verdadeira atenção para com os doentes e idosos, tanto no auxílio físico, como
em lhes proporcionar um pouco de companhia. O melhor exemplo da Sagrada
Escritura é o da parábola do Bom Samaritano que curou o ferido e, ao não poder
continuar a cuidar dele diretamente, confiou os cuidados que necessitava a
outro em troca de pagamento (ver Lc 10, 30-37).
Visitar os presos é prestar-lhes não só ajuda material, mas
também assistência espiritual que lhes sirva para melhorarem como pessoas,
emendar-se, aprender a desenvolver um trabalho que lhes possa ser útil quando
terminarem o tempo que lhes foi imposto pela justiça, etc. Significa também
resgatar os inocentes e sequestrados. Em tempos antigos os cristãos pagavam
para libertar escravos ou se trocavam por prisioneiros inocentes.
Por fim, enterrar os mortos. Foi um amigo de
Jesus Cristo, José de Arimateia, que lhe cedeu o seu túmulo. Mas, não apenas
isso, teve a valentia para se apresentar ante Pilatos e pedir-lhe o corpo de
Jesus. Nicodemos também participou e ajudou a sepultá-lo (Jo 19, 38-42).
Enterrar os mortos parece um mandato supérfluo, porque, de fato, todos são
enterrados. Mas, por exemplo, em tempo de guerra, pode ser um mandato muito
exigente. Porque é importante dar sepultura
digna ao corpo humano? Porque o corpo humano foi morada do Espírito Santo.
Somos templos do Espírito Santo (1 Cor 6. 19).
A obra de misericórdia
mais pobre
Visitar os presos
é uma obra de misericórdia muito difícil de ser praticada nos tempos atuais.
Muitas são as razões que as pessoas afirmam para não o praticar : não dá jeito,
não têm tempo, não sabem como fazer, poderiam ser julgados, não conhecem as
pessoas de lado nenhum, não se devem meter em assuntos alheios…
É difícil
transformar os corações, os de dentro e os de fora. Uma sobressai : por causa
do aumento da violência e da sensação de impunidade, acabamos por desejar que as
pessoas que cometem crimes sejam condenadas para que desapareçam das nossas
vidas. Ou seja, estamos a deixar de acreditar no ser humano. Começamos a
acreditar mais no castigo do que na recuperação, mais na destruição do que na
conversão, mais na força do crime do que no amor de Deus e o amor humano.
Deixamo-nos levar por este mundo violento, um mundo que descarta as pessoas,
esquecendo-nos que também os encarcerados são filhos e filhas de Deus.
As prisões não
podem ser um ponto final na vida das pessoas, mas um ponto de passagem. Cair na
rua desamparado também não pode ser o ponto final de uma pessoa que passou pela
prisão.
A Igreja, seguindo
o exemplo de Jesus Cristo, é uma comunidade terapêutica, comunidade de irmãos
capaz de reconstruir pessoas com percursos de vida insensatos. O cristão
acredita que todas as pessoas possuem dignidade, conferida por Deus, devendo
ser valorizadas pelo que são, e não pelo que têm, fazem ou produzem. O cristão
crê na arte de visitar, levando para dentro da cadeia a ideia de liberdade com
responsabilidade, com palavras e gestos de conforto, carinho, companheirismo e
esperança.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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