*Artigo
de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano
As redes sociais podem ser usadas
para o bem ou para o que é indigno.
‘O efeito do uso
da tecnologia informática e das novas mídias no comportamento humano é
indiscutível. Muitas pessoas já não conseguem viver sem estarem permanentemente
online, têm dificuldade em guardar silêncio e vivem numa realidade virtual. Já
é bastante conhecida a caricatura de pessoas que, apesar de estarem lado a
lado, preferem a comunicação virtual à pessoal e direta, mas nem por isso menos
verdadeira.
O sociólogo polaco
Zygmunt Bauman, numa entrevista ao El País, manifesta o seu pessimismo sobre
alguns comportamentos da era cibernética : «As
redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a
controvérsia… Muita gente usa-as não para unir, não para ampliar os seus
horizontes, mas, pelo contrário, para se fechar no que eu chamo zonas de
conforto, onde o único som que escutam é o eco das suas próprias vozes, onde a
única imagem que vêm são os reflexos das suas próprias caras. As redes são
muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.»
A revolução
digital em curso «está a alterar a nossa
noção sobre o que é ser humano», diz o filósofo italiano Luciano Floridi
numa entrevista concedida ao Observador no início deste ano. O professor de
Filosofia e Ética da Informação tem estudado o impacto que a respectiva
tecnologia tem nas nossas sociedades, nas nossas vidas, no modo como nós
percebemos, entendemos e interagimos com o mundo, para concluir que a
tecnologia digital está a transformar radicalmente a nossa percepção do ser
humano e o modo como conceitualizamos o mundo.
Segundo o
investigador, houve, antes desta, três revoluções em que o ser humano foi
sucessivamente «destronado» do «centro do Universo» (por Copérnico), do
«centro da Natureza» ou da vida biológica (por Darwin) e do «centro da vida
mental», como senhores dos nossos pensamentos (por Freud). Agora a revolução
digital, dos computadores ou da informação, como se lhe queira chamar, está a «destronar» os seres humanos como «únicos seres inteligentes» do planeta.
Até aqui pensávamos, diz ele, que éramos os únicos capazes «de jogar xadrez, estacionar um carro,
pilotar um avião e resolver problemas matemáticos», mas temos criado artefatos
com inteligência artificial que, não sendo de modo algum inteligentes como nós,
podem fazer certas coisas melhor do que nós.
Esta quarta
revolução está a mudar a ideia que temos de nós mesmos e do que significa ser
inteligente, autônomo e livre. Floridi pensa que se justifica alguma precaução
com a transformação que está a ocorrer e que compara à aterragem numa ilha ou
continente desconhecido. Depende de nós o que será este mundo da «info-esfera» – uma confusão ou algo
positivo, criativo que leve as gerações futuras a ficar-nos gratas pela
herança. O pior que nos pode acontecer, que ele define como o pior cenário
realista, é «usar as tecnologias para nos
entretermos até à morte, distrairmo-nos de tudo o resto no mundo (usá-las como
se fossem drogas digitais) e até usá-las para assegurar que aqueles que não são
privilegiados como nós fiquem fora da nossa sociedade», através da
vigilância e da guerra cibernética.
A realidade é
multifacetada. As redes sociais são seguramente «lugares» de encontro e partilha de informação. Podem ser usadas
para o bem – para criar redes de diálogo, partilha e compromisso – ou para o
que é indigno como denegrir outros, espalhar o ódio e o medo. Depende de nós
usá-las para crescer em humanidade, conhecimento e solidariedade.’
Fonte :
* Artigo na íntegra
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