quinta-feira, 17 de março de 2016

Drogas digitais?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano


 As redes sociais podem ser usadas para o bem ou para o que é indigno.


‘O efeito do uso da tecnologia informática e das novas mídias no comportamento humano é indiscutível. Muitas pessoas já não conseguem viver sem estarem permanentemente online, têm dificuldade em guardar silêncio e vivem numa realidade virtual. Já é bastante conhecida a caricatura de pessoas que, apesar de estarem lado a lado, preferem a comunicação virtual à pessoal e direta, mas nem por isso menos verdadeira.

O sociólogo polaco Zygmunt Bauman, numa entrevista ao El País, manifesta o seu pessimismo sobre alguns comportamentos da era cibernética : «As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente usa-as não para unir, não para ampliar os seus horizontes, mas, pelo contrário, para se fechar no que eu chamo zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco das suas próprias vozes, onde a única imagem que vêm são os reflexos das suas próprias caras. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.»

A revolução digital em curso «está a alterar a nossa noção sobre o que é ser humano», diz o filósofo italiano Luciano Floridi numa entrevista concedida ao Observador no início deste ano. O professor de Filosofia e Ética da Informação tem estudado o impacto que a respectiva tecnologia tem nas nossas sociedades, nas nossas vidas, no modo como nós percebemos, entendemos e interagimos com o mundo, para concluir que a tecnologia digital está a transformar radicalmente a nossa percepção do ser humano e o modo como conceitualizamos o mundo.

Segundo o investigador, houve, antes desta, três revoluções em que o ser humano foi sucessivamente «destronado» do «centro do Universo» (por Copérnico), do «centro da Natureza» ou da vida biológica (por Darwin) e do «centro da vida mental», como senhores dos nossos pensamentos (por Freud). Agora a revolução digital, dos computadores ou da informação, como se lhe queira chamar, está a «destronar» os seres humanos como «únicos seres inteligentes» do planeta. Até aqui pensávamos, diz ele, que éramos os únicos capazes «de jogar xadrez, estacionar um carro, pilotar um avião e resolver problemas matemáticos», mas temos criado artefatos com inteligência artificial que, não sendo de modo algum inteligentes como nós, podem fazer certas coisas melhor do que nós.

Esta quarta revolução está a mudar a ideia que temos de nós mesmos e do que significa ser inteligente, autônomo e livre. Floridi pensa que se justifica alguma precaução com a transformação que está a ocorrer e que compara à aterragem numa ilha ou continente desconhecido. Depende de nós o que será este mundo da «info-esfera» – uma confusão ou algo positivo, criativo que leve as gerações futuras a ficar-nos gratas pela herança. O pior que nos pode acontecer, que ele define como o pior cenário realista, é «usar as tecnologias para nos entretermos até à morte, distrairmo-nos de tudo o resto no mundo (usá-las como se fossem drogas digitais) e até usá-las para assegurar que aqueles que não são privilegiados como nós fiquem fora da nossa sociedade», através da vigilância e da guerra cibernética.

A realidade é multifacetada. As redes sociais são seguramente «lugares» de encontro e partilha de informação. Podem ser usadas para o bem – para criar redes de diálogo, partilha e compromisso – ou para o que é indigno como denegrir outros, espalhar o ódio e o medo. Depende de nós usá-las para crescer em humanidade, conhecimento e solidariedade.’


Fonte :
* Artigo na íntegra


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