*Artigo de Pe. Dr.
Brendan Coleman Mc Donald,
Redentorista
e Assessor da CNBB Reg. NE1
‘O dia 2 de novembro é o Dia de Finados, quando
recordamos com saudades a memória de nossos mortos. Visitamos respeitosamente
nos cemitérios, os túmulos de nossos parentes e amigos já falecidos. O encontro
da cultura cristã com a cultura celta deu origem à comemoração do Dia de
Finados. Os celtas – povos que habitavam a região da atual Irlanda – tinham no
seu calendário a festa conhecida como ‘Samhain’.
Nesse dia os celtas acreditavam que os dois mundos – o dos vivos e dos mortos –
ficavam muito próximos e eles celebravam essa comunhão. Desde o século l, os
cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires para rezar
pelos que morreram. No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por
todos os mortos, aqueles aos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava.
O abade do Mosteiro de Cluny, Santo Odilon, em 998 pedia aos monges que orassem
pelos mortos. E os papas Silvestre ll (996) e João XVll (1012) convidaram a
comunidade cristã a dedicar um dia cada ano aos mortos. No século Xl, o
calendário litúrgico cristão incorporou o Dia de Finados, que deveria cair no
dia 2 de novembro para não se sobrepor ao Dia de Todos os Santos, comemorado no
dia 1º. naquela época.
Nossa sociedade de consumo e tecnologicamente avançada faz tudo para que se
esqueça da morte. Freqüentemente um amigo morto já é sepultado antes que as
notícias de seu falecimento cheguem a nós. Para muitos, participar na Missa de
7º. Dia é uma mera formalidade social sem qualquer significado religioso. A
morte não é o simples fato biológico da cessação do nosso existir. É o ponto
culminante do viver e vem coroar as boas opções que fizemos durante a vida.
Neste dia os fiéis católicos têm o secular e piedoso costume de rezar pelas
almas que ainda podem estar num estado de purificação antes de gozar da Visão
de Deus. Em nossos dias, em certos ambientes católicos se propagam dúvidas com
relação à católica devoção pelas ‘almas
no estado de purificação’. Obviamente nossa atitude neste assunto não pode
e nem deve ser determinada pelo parecer do último livro de um teólogo. Em nossa
vida cristã somos orientados por uma instância superior. No caso, esta
autoridade é o próprio Concílio Vaticano ll. Na Constituição Dogmática ‘Lumen Gentium’ (cf. Nos. 49-50) recorda
o Concílio que a Igreja sempre venerou com grande piedade a memória dos
defuntos e ofereceu sufrágios por eles; cito o texto bíblico de 2 Mac 12, 46 : ‘É um pensamento santo e salutar rezar pelos
defuntos para que sejam livres de seus pecados’. Depois, no No. 51, o mesmo
Concílio Vaticano ll torna a referir-se à nossa ‘comunhão vital com os irmãos
que ainda se purificam depois da morte’, e decide propor de novo os
decretos dos Concílios de Florença e de Trento acerca desta doutrina.
É importante lembrar que depois da morte não há mais tempo nem espaço, e
falar sobre a ‘duração’ deste estado
de purificação não faz sentido. Não há nenhuma doutrina da Igreja relação ao
tipo de purificação dispensada depois da morte. Portanto, precisamos tomar
muito cuidado com os exageros nas fantasias populares. O estado de purificação
possível nada tem a ver com as imagens medievais de um lugar de castigo e de
penas. Também falando sobre ‘tempo’
no estado de purificação não faz sentido. Obviamente nem todos os falecidos
devem passar por este estado de purificação antes de serem admitidos à Visão
Beatífica. A recepção do sacramento da Unção dos Enfermos deve ter salvado
inúmeras pessoas desta purificação. O Catecismo da Igreja Católica ensinoa: ‘Aqueles que morrem na graça e amizade de
Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenha garantida a sua
salvação eterna, passam, após a morte, por uma purificação, a fim de obter a
santidade necessária para entrar na alegria do céu’ (No. 1.030). Para o
católico, então, o Dia de Finados não é um dia de tristeza ou lamúrias, mas é
um dia de saudosa recordação, confortada pela fé que nos garante que nosso
relacionamento com os finados não está interrompido pela morte, mas é sempre
vivo e atuante pela oração do sufrágio. O Catecismo da Igreja Católica afirma :
‘A morte é o fim da peregrinação
terrestre do homem, do tempo e da graça e de misericórdia que Deus lhe oferece
para realizar a sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir o
seu destino último’ (CIC, 1013). Quando tiver terminado ‘o único curso de nossa vida terrestre’
(L.G. No. 48), não voltaremos mais a outras vidas terrestres. A Bíblia afirma :
‘Os homens devem morrer uma só vez’
(cf. Hb 9, 27). Portanto, para os católicos não existe ‘reencarnação’ depois da morte. Somos salvos pelos méritos de Cristo
e não pelos nossos próprios méritos. Sem dúvida, a visão cristã da morte é
expressa de forma privilegiada na liturgia da Igreja que reza : ‘Senhor, para os que crêem em vós, a vida não
é tirada, mas transformada. E desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos
céus, um corpo imperecível’. O Dia de Finados deve ser para nós vivos, um
eficaz ensejo para refletirmos sobre o sentido e a brevidade da vida presente,
ajudando-nos assim a preparar-nos para o inevitável momento da morte.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.arquidiocesedefortaleza.org.br/atualidades/artigos/dia-de-finados/
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