*Artigo
de Margarida Gaspar de Matos,
Professora Catedrática e Psicóloga
Professora Catedrática e Psicóloga
‘As crianças e adolescentes são muito afetados pela pobreza. A pobreza por
um lado limita-lhes o acesso a bens materiais, mas priva-os também da
disponibilidade dos pais, que se encontram mais frequentemente em situações de
exclusão sociolaboral ou em situações de doença física ou mental; priva-os da
disponibilidade dos professores, eles próprios inseridos num contexto precário;
priva-os do acesso (e da motivação ao acesso) à saúde e à educação; priva-os da
vivência da sua infância e adolescência onde é tão importante manter a
segurança, os afetos, a saúde, a motivação e a curiosidade para aprender e para
participar na vida social, priva-os ainda de um espaço físico e social de
vizinhança onde seja bom viver, conviver e partilhar; priva-os finalmente da
expectativa de um futuro com esperança. Sem oportunidades, instala-se a apatia
e o desinteresse, que por seu lado continuam a gerar precariedade.
Em situações de precariedade, se os governos não apoiam políticas públicas
de solidariedade social (não no sentido assistencialista, mas no sentido da
criação de competências e oportunidades e na manutenção de motivações), alguns
mais aflitos virar-se-ão uns contra os outros : homens contra mulheres;
crianças contra adultos; adultos contra idosos; nacionais contra estrangeiros….
Cada um destes subgrupos ‘culpando’ o
outro do mal-estar que se vive, e da incapacidade que se sente de melhorar as
coisas. A ‘culpa’ é sempre dos
outros, dos que são ‘estranhos’ e
esta xenofobia promove uma segmentação social que como que sabota a cooperação
e impede um desenvolvimento plural.
Na União Europeia, um em cada 20 habitantes tem menos que 18 anos e mais do
que uma em cada quatro crianças está em risco de pobreza ou exclusão social As
políticas macroeconomicas não encaram a proteção das crianças e das suas
famílias como uma prioridade política. Por vezes, afirmam-no, mas um básico ‘estudo de caso’ das vidas das crianças e
adolescentes mostra que num número exagerado de vezes, ou não há cuidadores, ou
os cuidadores não têm meios economicos ou outros, ou os cuidadores não têm
tempo, ou os cuidadores não conseguem manter a saúde, a energia ou a vontade.
Em síntese os cuidadores não têm, nem conseguem criar e manter condições
individuais ou sociais. A verdade é que as crianças e os adolescentes são pouco
(ou deficientemente) acompanhados, justamente quando (em precariedade) mais
necessitavam deste apoio. Este fato inverte para ‘negativos’ a tendência a um maior bem-estar e uma maior proximidade
entre pais e filhos, que se vinha notando desde 2002, na Europa Ocidental.
Pede-se hoje à Comissão Europeia que considere a inclusão de indicadores
sobre o número de crianças em risco de pobreza ou de exclusão social e que
solicite a todos os Estados-membros que apresentem subobjetivos específicos a
nível nacional para a redução da pobreza infantil e da exclusão social.
Incentivam-se os Estados-membros a utilizar o financiamento da UE e quaisquer
outros instrumentos disponíveis para implementar uma recomendação da Comissão
Europeia intitulada investir nas crianças para quebrar o círculo vicioso da
desigualdade.
Partilhamos estas preocupações alertando ainda para a necessidade de
crianças e adolescentes serem ouvidos e considerados (como seu direito
fundamental) em todas as políticas públicas que lhes dizem respeito. Este foi o
objetivo do nosso mais recente projeto Dream Teens (http://www.dreamteensaventurasocial.blogspot.pt/) Durante os dois anos do projeto crianças e
adolescentes desenvolveram uma voz motivada, competente e oportuna na
identificação de necessidades e na definição de soluções, em questões que lhes
digam respeito.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuuyVVFkkkdjDMtvLw
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