quinta-feira, 19 de novembro de 2015

'Os terroristas não têm religião'

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

A lua crescente, símbolo islâmico

‘Os ataques em Paris alimentaram de novo o fantasma do chamado ‘choque de civilizações’ e a tentação de identificar o islã com o fundamentalismo e o terrorismo. Diante disso, muitos imãs e fiéis muçulmanos de todo o mundo condenaram as ações dos militantes do Estado Islâmico, observando que esses comportamentos estão longe dos preceitos da sua religião.

Uma das mais veementes manifestações veio de Ahmed Al-Tayeb, imã da mesquita de Al-Azhar, no Cairo, uma das mais altas autoridades do islã sunita : ‘Nós condenamos com força este ataque hediondo e absurdo perpetrado em nome da religião. É hora de o mundo inteiro se unir contra o terrorismo’.

Palavras duras vieram também de Hocine Drouiche, imã de Nimes e vice-presidente do Conselho de Imames da França : ‘Condenamos fortemente esses ataques criminosos. O islã é a religião da fraternidade, da abertura, do respeito. Os muçulmanos vivem com dignidade na França, na Itália, na Grã-Bretanha e em todas as nações europeias. Este ataque não pode ser feito em nome do islã, que significa vida e esperança e não ódio e morte. Hoje não é só a França que é atacada e atingida, mas toda a humanidade. Todos os muçulmanos são convidados a condenar esses ataques com manifestações e declarações, para não deixar o islã refém de ignorantes e extremistas. A maioria dos muçulmanos é tolerante e aberta. Uma minoria de extremistas não pode interromper e arruinar a nossa convivência e fraternidade’.

A condenação mais forte veio de Shuja Shafi, secretário geral do Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha : ‘Meus pensamentos e minhas orações estão com as famílias das vítimas e dos feridos e com todos os franceses, nossos vizinhos. Este ataque foi reivindicado por um grupo autodenominado Estado Islâmico. Não há nada de islâmico nessas pessoas. As suas ações são o mal e se situam fora dos limites estabelecidos pela nossa fé’.

Queremos mostrar a nossa solidariedade a todos os franceses’, disse o presidente da União das Comunidades Islâmicas da Itália, Izzedin Elzir, em entrevista ao canal TV2000. ‘Esses ataques terroristas não são ataques contra os franceses, mas contra toda a humanidade. É um momento de raiva, dor e condenação total, sem rodeios, sem ‘se’ e sem ‘mas’. Estamos abertos ao diálogo com todos. Queremos deixar claro que o extremismo e o terrorismo não fazem parte do islã. Este é o papel da comunidade islâmica’.

Para Sami Salem, imã da mesquita da Via Magliana, em Roma, ‘isto não é islã, mas terrorismo. Chegou o momento de unir forças para enfrentar este monstro. É crucial explicar antes de mais que no islã não há nenhum apelo à violência nem se contempla a possibilidade de matar o próximo. Muçulmanos e cristãos têm raízes comuns. Estes são atos que nada têm a ver com a religião, que é explorada por pessoas que fazem interpretações erradas e fanáticos das escrituras sagradas’.

Nas redes sociais, milhares de muçulmanos de todo o mundo têm escrito contra a violência em Paris e compartilhado a hashtag #NotInMyName. Muitos citaram uma passagem do alcorão : ‘Matar um homem inocente é como matar a humanidade inteira’.

Há medo de que os ataques atinjam também o diálogo intercultural e alimente a intolerância religiosa, o racismo e o populismo.

Os terroristas não têm religião’ é um dos slogans mais frequentemente no Twitter. ‘Eu sou imã britânico e condeno estes ataques bárbaros. Rezo a Deus por todas as vítimas e pelas suas famílias’, escreveu Mansur Ahmad Clarke. ‘Atenção : antes de culpar os muçulmanos ou o islã pelos crimes em Paris, lembrem-se de que o Estado Islâmico já matou mais de 100 mil muçulmanos nos últimos dois anos’, escreveu um usuário chamado Ahmed.

As palavras de condenação também vêm de líderes de países muçulmanos. ‘Estes ataques são uma violação de todas as éticas, morais e religiões’, disse o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Adel Al-Jubeir.

O rei Abdallah, da Jordânia, expressou ‘profundo pesar e tristeza’ e sua solidariedade com a França. ‘Estes ataques não curvarão a vontade dos países que amam a liberdade’, disse o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi. O presidente iraniano, Hassan Rohani, definiu os ataques como ‘crimes contra a humanidade’.’  


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