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sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Dia de Finados

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Cláudio Fernandes

 

‘Em toda cultura ou civilização houve uma atenção especial dirigida aos mortos, quer essa atenção (ou esse ‘cuidado’) esteja relacionada a alguma religião, quer não. Observam-se ao longo da história diversos ritos de sepultamentos, como a cremação, a mumificação, o enterro em covas e em urnas de cerâmica ou de pedra, bem como a deposição do corpo dos mortos em mausoléus.

Grandes monumentos como as pirâmides de Gizé e o Taj Mahal foram erguidos para acomodar os restos mortais de pessoas ilustres. No mundo ocidental, o dia 02 de novembro é dedicado à memória dos mortos. Esse dia, popularizado pela tradição católica, foi instituído no período da Baixa Idade Média.

Como surgiu o Dia de Finados?

O Dia de Finados, como é conhecido, foi instituído inicialmente no século X, na abadia beneditina de Cluny, na França, pelo abade Odilo (ou Santo Odilon [962-1049], como chamado entre os católicos). Odilo de Cluny sugeriu, no dia 02 de novembro de 998, aos membros de sua abadia que, todo ano, naquele dia, dedicariam suas orações à alma daqueles que já se foram. A ação de Odilo resgatava um dos elementos principais da cosmovisão católica : a perspectiva de que boa parte das almas dos mortos está no Purgatório, passando por um processo de purificação para que possam ascender ao Paraíso.

No estado de purgação, as almas necessitam, segundo a doutrina católica, de orações dos vivos, que podem pedir para elas a misericórdia divina e a intercessão dos santos, da Virgem Maria e do principal mediador, o Deus FilhoJesus Cristo. Nos séculos da Baixa Idade Média (X ao XV), a prática de orações pelas almas dos mortos tornou-se bastante popular na Europa, ficando conhecida pela alcunha de ‘Dia de todas as Almas’. Essa prática remonta ao período do cristianismo primitivo, dos séculos II e III, quando os cristãos perseguido pelo Império Romano enterravam e rezavam por seus mortos nas catacumbas subterrâneas da cidade de Roma.

Com a descoberta da América e o processo de colonização, o dia escolhido por Odilo de Cluny tornou-se ainda mais popular. Nos dias atuais, apesar do grande processo de secularização que a civilização ocidental sofreu ao longo da modernidade, o Dia de Finados continua a ser uma data especial, na qual a memória dos entes queridos que já se foram nos vem à mente e na qual, também, milhões de pessoas vão aos cemitérios levar suas flores, velas, sentimentos e orações.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://mundoeducacao.uol.com.br/datas-comemorativas/dia-finados.htm

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Tolkien e a morte: uma reflexão a propósito do dia de Finados

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Francisco Borba Ribeiro Neto


Hoje em dia, é fato relativamente bem reconhecido que a literatura de fantasia do século XX deve muito ao imaginário cristão – particularmente pela contribuição que J.R.R. Tolkien deu ao gênero. Católico fervoroso, suas obras não têm intenção catequética, mas estão impregnadas por uma mentalidade cristã. Seu maior herói, Frodo, o pequeno hobbit, nascido numa terra perdida e depreciada, como a Nazaré bíblica, aparentemente fraco e impotente, irá carregar o mal do mundo (o Anel) e ser, com seu sofrimento, o instrumento para a salvação. A associação a Cristo é inescapável. Sam Gamgee, o fiel companheiro trapalhão de Frodo, por sua vez, representa claramente a figura do santo pecador.

Em seus textos, Tolkien projetou, igualmente, suas inquietações existenciais e reflexões ‘teológicas’ (mesmo que sem nenhuma pretensão de fazer teologia, bom frisar). Viveu um tempo particularmente angustiante, lutou na Primeira Grande Guerra e viu seus filhos lutarem na Segunda, atravessando um entreguerras no qual a experiência de um confronto não deu à humanidade a sabedoria de evitar um outro. O conjunto de sua obra (na qual O hobbit e O Senhor dos Anéis são os textos mais conhecidos) narra a dramática história desse mundo imaginário onde os mais belos e mais poderosos irão sendo continuamente vencidos pelo mal, vítimas de sua própria arrogância e cobiça. Só a pureza do pequeno hobbit e a sabedoria do mago Galdalf, que reconhece na fragilidade a força de um Outro, trarão a vitória definitiva sobre o Mal.

O Dia de Finados e o lançamento mundial de uma nova série de streaming, Os anéis do poder, a mais cara já filmada, baseada na obra de Tolkien, sugerem uma reflexão sobre um dos pontos mais interessantes da ‘teologia’ desse autor : o grande dom de Ilúvatar.

O mundo criado por Tolkien

No imaginário tolkieniano, mitos de outros povos, em particular os nórdicos, são revistos e reinterpretados numa chave de leitura católica. Os textos nos quais essa mitologia é constituída são apresentados em obras não publicadas em vida pelo autor, como O Silmarillion e Contos inacabados. Nessas obras, Ilúvatar é o deus criador, onipotente e aparentemente (mas só aparentemente) distante de tudo que acontece no mundo. Os Valar, deuses menores que frequentemente se confundem com a imagem dos anjos cristãos, são seus representantes para a guarda da Criação. O mal entrou no mundo por obra de um Valar decaído, Melkor ou Morgoth – imagem evidente de Lúcifer, que será substituído por Sauron, o grande antagonista de O Senhor dos Anéis. Duas raças, ambas criadas por Ilúvatar, disputam entre si a hegemonia no mundo (a chamada Terra Média) : os elfos, os primogênitos, belos, poderosos e imortais, e os homens, os filhos ‘mais novos’, fracos, contraditórios e destinados a morrer.

Ao longo das eras dessa Terra Média, vamos conhecendo o destino cruel dos elfos. Por mais belos e sábios que sejam, acabam sempre sendo vencidos por se tornarem arrogantes e cobiçosos. Os homens, por sua vez, seres ignóbeis que raras vezes demonstram honra e dignidade, em sua fraqueza e contradição são frequentemente arrastados para o mal. Contudo, e aqui está o centro desse artigo, Ilúvatar lhes concedeu um presente paradoxal, que desperta simultaneamente desprezo e inveja de seus irmãos elfos. Aos homens foi concedido o dom maravilhoso da morte.

Como a morte pode ser um dom maravilhoso? Não seriam os seres mortais que deveriam invejar a imortalidade dos elfos? De fato, a morte na mitologia de Tolkien ocupa esse lugar contraditório e escandaloso. Os mortais invejam a vida eterna dos imortais, mas também os imortais invejam o dom da morte dado aos mortais. Vivendo num tempo marcado pela morte aparentemente injusta e sem sentido nos campos da guerra, compreende-se que Tolkien tenha tido que dar uma resposta à grande pergunta : pode existir um Deus bom que permita a morte indevida de tantos seres humanos?

O dom do qual se tem medo

A resposta de Tolkien para o drama da morte é, sem dúvida, fascinante e totalmente cristã : a morte é um dom, pois por meio dela os seres humanos poderão encontrar ao Criador, que os ama tanto e pelo qual eles tanto anseiam. Nesta perspectiva, os homens têm medo de morrer porque, para os vivos, a convivência com Ilúvatar, após a morte, é inevitavelmente um mistério. Nem mesmo os Valar sabem exatamente como se dará… O Tentador, sabendo disso, insinuou-se na mente dos seres humanos, aproveitando-se de seu medo diante do desconhecido, para fazer com que temessem a morte – e assim se afastassem de Deus e de seu grande dom de amor.

A maior função das religiões – e isso vale para todas – é nos ajudar a superar o medo da morte. A grande maioria delas apresenta, de uma forma ou de outra, essa grande intuição que a morte é a possibilidade de encontrarmo-nos com a divindade. Nem todas, contudo, pensam essa divindade como um Deus de amor. Muitas, mesmo reconhecendo o amor de Deus, consideram a possibilidade de encontrá-lo muito difícil, exigindo uma série de esforços e sacrifícios nessa vida. No próprio cristianismo muitas vezes o medo do inferno parece maior do que a esperança na salvação.

Um sacerdote italiano, que foi missionário no Brasil por muito tempo, padre Luigi Valentini, já idoso, falando sobre a própria morte, dizia que agora se aproximava o momento em que finalmente iria encontrar o grande amor ao qual havia dedicado toda sua vida. Essa deveria ser a maneira, cheia de esperança, pela qual todos nós deveríamos nos aproximar do momento da própria morte. Também deveria ser o sentimento com o qual pensamos em nossos falecidos.

Oxalá o dom maravilhoso do encontro com o Pai ilumine a nossa vida e nos ajude a viver com alegria e comprometidos com o bem.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2022/11/06/tolkien-e-a-morte-uma-reflexao-a-proposito-do-dia-de-finados/

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

O fim dos tempos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

*Artigo de Dom Demétrio Valentini


O assunto pode parecer sem sentido. Ou inadequado. Ou ao menos inoportuno. Mas não faz mal colocar algumas ponderações, que encontram fácil justificativa no contexto de mais um dia de finados, seguido do dia de todos os santos.

Com estas duas celebrações, a intenção da liturgia é franca e sem rodeios. Ela nos convida a pensar no final da vida, e no destino que nos aguarda após a morte. E de uma maneira mais ampla, no presumível ‘fim do mundo’, que a finitude da natureza nos garante como certo!

Dependendo de circunstâncias aleatórias, com frequência volta às manchetes a previsão de que o fim do mundo está próximo, às vezes até com data marcada.

Se olhamos com atenção o depoimento dos Evangelhos, percebemos que no tempo de Cristo havia um forte movimento escatológico. Ele se conectava facilmente com as grandes expectativas do povo de Isael, forjadas todas elas na esperança de uma manifestação divina em seu favor.

Podemos perceber a presença desta visão escatológica, na breve síntese da pregação inicial de Jesus, que Marcos nos apresenta : ‘Completou-se o tempo, o Reino de Deus está próximo, convertei-vos, e crede no Evangelho.’

Assim fazendo, Cristo valorizava as expectativas do movimento escatológico, canalizando-as para a mensagem que ele tinha a transmitir. Como precisava alertar a todos para que se dessem conta do que estava por acontecer, ele aproveitava o clima de expectativa escatológica, que servia para alertar o povo.

Enquanto o povo era motivado pelos presságios de grandes acontecimentos, Jesus aproveitava para confirmar que, de fato, estavam próximos eventos importantes, onde ele mesmo seria o protagonista principal., no contexto do ‘mistério pascal’, que incluía sua paixão, morte e ressurreição.

Com esta finalidade Jesus assimilava o linguajar escatológico dos profetas,valendo-se dele para armar o cenário em que ele iria cumprir a missão recebida de Deus.

Ao mesmo tempo que utilizava o gênero literário apocalíptico, Jesus se empenhava em explicar que as expectativas dele eram bem diferentes das expectativas do movimento escatológico. Estas facilmente estreitavam as esperanças do povo dentro da visão acanhada de derrotas a infligir a vizinhos e inimigos.

Algumas passagens do Evangelho trazem com tanta ênfase as expectativas escatológicas de Jesus, que pareceria ter-se equivocado. Pois ele chegou a afirmar : ‘esta geração não passará, até que tudo isto tenha se cumprido’ (Mc 13,30).

Sua vontade de cumprir por inteiro sua missão, o levava a diluir as fronteiras entre o presente e o futuro.

Do ponto de vista da fé cristã, podemos olhar o futuro de nossa vida e do próprio mundo com serenidade. Pois o grande evento se realizou, na pessoa de Cristo que, ‘uma vez por todas’, ofereceu sua vida ‘em resgate pela multidão’. Este é o grande fato, que Jesus predizia, e que a Igreja vive nas três dimensões do tempo : o passado, que é recuperado pela memória e se torna presente pela celebração, que por sua vez aponta o futuro, antecipando sua plenitude que um dia se manifestará.

Como Cristo, nós também vivemos as três dimensões do tempo, até o dia em que se tornará eternidade.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2013/11/01/o-fim-dos-tempos/

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Com o olhar dirigido ao céu

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Dom Jaume Pujol

‘São muitos os artistas que representaram, com seus pincéis, a maior das esperanças cristãs : habitar um dia na glória de Deus, por toda a eternidade.

Lembro do impacto produzido em mim ao contemplar a Glória de Bernini, em São Pedro, e, certamente, a pintura de Michelangelo no teto da Capela Sistina. Também na Basílica del Pilar, de Zaragoza (Espanha), ao levantar os olhos, encontrei-me diante do afresco de Goya, intitulado ‘A adoração do nome de Deus’, mas conhecido como ‘A Glória’.

Pensar na vida eterna, para um cristão, não é um exercício de espiritismo, nem entregar-se à ilusão do irreal em busca de um consolo fácil. É meditar nas palavras de Jesus Cristo sobre a vida futura de cada pessoa. É levar em consideração que, junto à nossa realidade visível e finita, há outra invisível, mas não por isso menos certa.

Não temos a experiência deste momento, mas temos a palavra de Deus, Criador e Redentor, que não pode falhar; e esta palavra é mais verdadeira que todas as nossas certezas, que, sem Ele, não seriam.

Nos próximos dias, de forma consecutiva, a Igreja dedicará duas celebrações a esta crença na imortalidade da alma : a festa de Todos os Santos e o dia de Finados. A comemoração desta última festividade começou há mais de mil anos.

Naquela época, a abadia de Cluny tinha uma importância enorme. Encontrava-se à cabeça de mais de 1.100 mosteiros beneditinos estabelecidos sobretudo na Europa Ocidental. Ela recebia tantas petições de sufrágios pelos defuntos – costume de sempre da Igreja –, que decidiu estabelecer um ‘dia dos defuntos’, no qual as Missas e orações seriam oferecidas por todos eles em conjunto. Em 2 de novembro de 998, começou a celebração que depois se estendeu a toda a Igreja.

Nesse dia, rezamos e oferecemos sufrágios pelos nossos familiares falecidos, pelas pessoas por quem temos sentimentos de amor e gratidão. E também elevamos orações, unindo-nos ao sacrifício de Cristo, que se renova em cada Missa, por todos – inclusive por aqueles de quem ninguém se lembra –, para que estejam logo no céu, desfrutando da presença de Deus.

Antes disso, celebraremos a festa de Todos os Santos. Nela, dirigimos nosso pensamento aos que já desfrutam da glória celestial. Alguns deles são honrados publicamente pela Igreja como beatos ou santos.

A imensa maioria é composta por santos anônimos, crianças, jovens, adultos e idosos, leigos, padres ou religiosos que morreram e viveram na graça de Deus, fiéis à sua vontade e fazendo das suas vidas um serviço aos outros.

É uma boa oportunidade para que nos perguntemos se pensamos com frequência no céu, no sentido mais profundo da vida, na grande esperança de uma felicidade que não terá fim.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2013/10/25/com-o-olhar-dirigido-ao-ceu/


segunda-feira, 1 de novembro de 2021

O sentido liturgico do Dia de Finados

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo d0 Padre Adenildo Godoy Barbosa

 

Enxugará as lágrimas de seus olhos e a morte já não existirá. Não haverá mais luto, nem pranto, nem dor, porque tudo isso já passou· (Ap 21,4). 

‘Por que então a liturgia cristã interessou-se pelos mortos também fora da missa? Por que a Igreja dedicou um dia exclusivo à lembrança dos finados? Você acha válido rezar pelos falecidos? Como você se prepara para viver o momento de sua morte? Por que o ser humano preocupa-se tanto em marcar com sinais exteriores a morte de pessoas queridas?

1. História

O Cristianismo nasceu embebido pela vida, morte e ressurreição de Jesus, o Cristo Senhor. O ápice da vida do filho de Deus foi sentir em sua carne a frieza da morte. Sem dúvida, ao doar amorosamente sua vida na cruz, Jesus viveu em sua própria carne a experiência da morte. Ele morreu realmente. Mas a Graça de Deus, confirmando a mensagem e o testemunho de vida de Jesus, o ressuscitou dos mortos e garantiu assim, a todos os fiéis que nele depositam suas esperanças, a possibilidade de transcender também a fase finita da vida e alcançar a plenitude da personalidade e potencialidades humanas, na realidade de fé que chamamos de Vida Eterna.

Desde muito cedo o Cristianismo celebrou os fiéis que morreram unidos à sua comunidade de fé. Os mártires eram venerados nos locais de seu martírio e as primeiras construções genuinamente cristãs foram monumentos em homenagem a estes heróis da fé. Além disso, as perseguições imperiais obrigavam os cristãos a refugiarem em catacumbas para celebração dos exercícios litúrgicos. E as catacumbas nada mais eram que os primeiros cemitérios cristãos.

Os mais antigos sacramentários romanos atestam o uso de missas pelos defuntos. O costume de rezar pelos mortos em celebrações específicas parece ter surgido pelo fato de que não era possível realizar exéquias dos cristãos no momento da morte, tamanho o medo da perseguição pagã. Assim, dias depois do fato, geralmente uma semana ou mesmo trinta dias, a comunidade reunia-se para as devidas homenagens ao falecido e aos familiares.

Nos mosteiros irlandeses, no século VII, já encontramos rolos com os nomes de monges falecidos, que circulavam entre as comunidades, numa rústica forma de comunicação orante entre os religiosos. Para estes falecidos era sempre dedicado algum ofício religioso solene. Dessa tradição surgiram as necrologias, lista de nomes lidas nos ofícios e os obtuários, lembrando serviços fundados ou obras de misericórdia dos defuntos em suas datas. Passou-se claramente das menções globais aos nomes individuais.

Nos séculos IX e X, no auge do período carolíngio, já é possível encontrar o costume de anotar nomes de falecidos para oferecimento de missas, mas ainda mantém-se a vinculação com o nome de vivos, que faziam suas ofertas generosas para a comunidade cristã. Os ‘libri memoriales’ (Livros Memoriais) carolingianos continham de 15.000 a 40.000 nomes a serem lembrados. Durante as Eucaristias chegava-se a enumerar de 40 a 50 nomes por dia!

Mas foi em Cluny, o renomado Mosteiro francês, que começou a surgir uma explicação da oração pelos mortos. À Igreja Peregrina nos caminhos da história unia-se a Igreja Triunfante (os santos e santas) e à igreja Padecente (aqueles que mesmo mortos ainda não tinham alcançado a plenitude da Ressurreição). Esta união entre santos e pecadores, chamada de comunhão dos santos, já fazia parte da tradição cristã e foi teologicamente elaborada pelo mestre da escolástica, Santo Tomás de Aquino, nos seguintes termos :

Assim como no corpo natural a atividade de um membro se subordina ao bem estar de todo o corpo, também no corpo espiritual que é a Igreja, acontece o mesmo. E porque todos os fiéis são um só corpo, o bem de um comunica-se ao outro.

Tudo indica que foi no século X que, a partir do mosteiro do Cluny, instituiu-se a comemoração dos mortos para o dia 2 de novembro, em íntimo contato com a festa de todos os santos. A Festa dos Mortos será rapidamente celebrada em todo mundo cristão. Trata-se hoje de um dos feriados mais universais do nosso planeta.

2. Sentido da celebração de Finados

No dia de Finados, não festejamos a morte. Seria uma ignorância e uma contradição. Celebramos sim, nossa fé na ressurreição e a esperança do encontro na morada que Jesus nos preparou, no seio amoroso de Deus. A comemoração dos fiéis defuntos é uma oportunidade ímpar para agradecer a Deus pela existência daqueles que nos precederam e, de certa forma, participaram da construção de nossa própria história.

O gesto mais comum em Finados é a visita ao cemitério, a participação na Eucaristia e as devoções próprias de cada cultura, como acender velas, oferecer flores e enfeitar os túmulos dos falecidos. Em todos estes gestos antropologicamente enraizados no ser humano transparece a consciência que temos de nossa finitude e da necessidade absoluta de apego ao Divino para a manutenção da esperança em glorificação da existência.

Acendemos velas para lembrar que essa luz segue iluminando-nos, em nossos corações. Veneramos seus exemplos e imitamos sua fé (Hb 13,7). Enfeitamos as sepulturas com flores, símbolo da ressurreição. Nossos mortos são plantados como sementes, regadas com nossas lágrimas, e florescem ressuscitados no jardim do Senhor.

Além disso, ao recordar a vida de um ente querido, nós próprios deparamo-nos com a realidade da morte em nossa vida e pesamos nossos comportamentos pessoais e sociais. A presença da limitação e fraqueza da vida permite-nos ser mais humildes na consideração da validade de nossa vida. Não há como ficar insensível diante da finitude da carne humana!

3. Sentido Teológico de Finados : a certeza da Ressurreição

Nossa fé cristã é a fé no Ressuscitado. Esta certeza de fé elimina de nós toda e qualquer idéia de renascimento ou reencarnação. Somos únicos desde a concepção, durante a vida e após a morte. A razão de nossa fé na Ressurreição é a experiência radical de Jesus. Ele foi Ressuscitado pelo Pai (At 2, 22s), numa atitude amorosa que confirmou toda a obra realizada pelo homem de Nazaré em favor dos mais oprimidos e marginalizados.

O fundamento teológico para a nossa compreensão de fé em torno da vida que começa na morte está na Ressurreição de Jesus Cristo. É São Paulo que diz : ‘Se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé, e nós ainda estaríamos em nossos pecados’ (1Cor 15, 17).

Nós cremos na ressurreição como um momento de transcedência de nossa realidade finita para uma realidade infinita ao lado de Deus. Na Ressurreição nossa vida é transformada. Assim como acontece com a semente que, ao ser lançada na terra, morre e desta morte nasce a nova vida, cremos que também nós vamos ressuscitar e assumir uma nova vida. Nós cremos que a nossa vida terrestre é uma preparação para a verdadeira e definitiva vida. Temos uma única oportunidade de viver no mundo e nos preparar para a eternidade.

O próprio Jesus viveu apenas uma única vida humana, iniciada no momento de sua concepção no seio virginal de Maria e consumada na cruz, quando exausto e sem forças, Jesus entrega sua vida nas mãos do Pai (Jo 19,30). Mas, como já dissemos, Deus não permitiu ao Cristo permanecer preso nas cadeias da morte, mas o fez receber vida nova, ressuscitando-o e reafirmando assim o valor da vida justa sobre os poderes nefastos de uma sociedade marcada pela cultura de morte.

Mas, Ele ressuscitou. O corpo físico de Jesus foi transformado em um corpo glorioso, que não ocupa mais espaço, não envelhece mais com o tempo e não morre mais. Este Cristo vivo e ressuscitado está na Eucaristia, está nos sacrários de nossas igrejas e está também na comunidade cristã, já que Ele disse : ‘Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei presente’ (Mt 18,20) ou então : ‘Eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos’ (Mt 28, 20). Nada pode nos separar do amor de Cristo.

Já a teologia de oração pelos mortos alicerça-se na noção tradicional de purgatório, momento de expiação dos erros passados e de contemplação da face gloriosa de Deus. A teologia atual não aboliu, com se pensa, a noção de purgatório. Obviamente, a idéia de um fogo devorador que aflige atemporalmente os homens e mulheres que falecem afastados de Deus recebe hoje um tratamento mais aceitável. O purgatório seria a própria percepção de não realização da missão confiada por Deus a cada um de nós. Ao deparar-nos com a imensa distância entre o ideal sonhado por Deus e o real vivido, o ser humano sofre por ter sido tão leniente. Imediatamente, entretanto, contempla a glória de Deus e nela mergulha. Rezar pelos mortos significa ajudá-los a tomar consciência de que estão afastados do ideal de Deus.

4. Celebrando o dia de Finados

As celebrações litúrgicas do dia de hoje são comedidas e cercadas de um clima de saudade e tristeza. São comuns as missas rezadas nos cemitérios, onde um ou outro grupo pastoral pode estar presente para acolher as pessoas mais sensibilizadas.

Nas igrejas e capelas reze-se pelos fiéis defuntos que participaram da história da comunidade, mas evite-se enumerar nomes ou dar destaques a algum falecido. Mantenha a sobriedade dos cantos e respeite-se o silêncio com marca da celebração.

Entretanto, evite-se o clima de luto nas celebrações. Vale a pena recordar que a celebração de Finados marca a esperança cristã na Ressurreição e deve ser iluminada por aquela alegria que marca a fé cristã.

Para os celebrantes, atenção nas homilias. O Mistério da Ressurreição deve ser o centro da reflexão, aproveitando para refletir bem as palavras do Evangelho e esclarecendo o real sentido da morte para o cristão, numa catequese que contemple toda a eliminação de idéias estranhas tão espalhadas pela mentalidade do povo católico brasileiro.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://comshalom.org/o-sentido-liturgico-do-dia-de-finados/

domingo, 1 de novembro de 2020

Decálogo para honrar aqueles que nunca foram esquecidos

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)        

 
Artigo do Padre Javier Leoz 


Algumas sugestões para a vivência espiritual do Dia de Finados

 

‘Sugerimos um bom decálogo para viver de maneira proveitosa o Dia de Finados ou Fiéis Defuntos, aqueles entes queridos que nos precederam na vida e na morte, e cuja lembrança pode ser muito oportuna.

É uma maneira de agradecer pelo dom da vida (que nos chega por meio das gerações que nos precederam) e de pensar em seu sentido último. Uma pausa no caminho, muito necessária.

1. Reze (não só amanhã, mas todos os dias) por aqueles que precederam você no caminho da vida. O que você é, e talvez o que você tem, também deve a eles. Que tal rezar pelos que lhe aguardam no final do caminho?

2. Saboreie, sempre que puder, a paz e a calma de um cemitério. Isso o ajudará a relativizar o gosto excessivo pelo que é superficial e, sobretudo, o levará a viver lembrando do que é realmente necessário. Você tem esse senso de transcendência?

3. Tenha respeito pelos defuntos. Se forem incinerados, guarde suas cinzas no cemitério. Por que elevamos monumentos aos animais de estimação, enquanto jogamos no mar ou na montanha, sem escrúpulo algum, os restos mortais dos nossos entes queridos?

4. Não se esqueça de que a Missa é sufrágio – pela Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo –pelos fiéis defuntos. Uma Missa, além de ter um valor infinito, é oferenda e comunhão, é súplica por aqueles que precisam de um último empurrão para o encontro com o Pai. Você oferece Missas pelos defuntos, de vez em quando?

5. Seja respeitoso diante da morte de um ente querido. Evite os exageros de antigamente (tudo e todos de preto) e os de agora (todo mundo indo para a balada depois do enterro). A virtude está no equilíbrio e a morte é morte, ainda que queiramos enfeitá-la.

6. No aniversário de falecimento de um ente querido, a melhor forma de honrá-lo é a nossa presença na comunidade cristã. Por que tanta empolgação para uma festa e tanta preguiça para uma Missa de sufrágio pelos nossos defuntos?

7. O cemitério, entre outras coisas, é a cidade dos que dormem com a esperança de ressuscitar. A cruz, uma imagem de Maria ou dos santos nos sugerem que, por trás de um túmulo, há lábios que professaram a fé em Cristo até o último dia. Não permitamos que o secularismo invada tudo. Você cuida dos sinais visíveis da sua identidade cristã?

8. Guarde as boas lições recebidas daqueles que partiram sobre a vida, a fé, a Igreja, a sociedade, a família. Esqueça tudo aquilo que lhe pareceu pouca virtude neles. Deus, como Pai, saberá o que é trigo ou joio no seu caminho. Você é grato com as pessoas que partiram?

9. Agradeça a Deus pelos seus defuntos. Pergunte-se se você viveu à altura enquanto eles estavam vivos. Não é mais fácil chorar por algumas horas e manter as aparências por alguns dias, ao invés de cultivar a gratidão durante a vida inteira?

10. Lembre-se da fé dos seus pais. Professe-a. Conserve-a. Não permita que a foice do relativismo corte aqueles valores que o tornam invencível, forte, eterno. Não permita que os que afirmam que ‘Deus não existe’ consigam lhe convencer do que, na verdade, é passageiro : o mundo e suas vitrines, risonhos, mas perecíveis.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2014/11/02/decalogo-para-honrar-aqueles-que-nunca-foram-esquecidos/

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Dia de finados, dia para os viventes

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Nada temos para sempre, aqui nada somos em definitivo
*Artigo de Evaldo D´Assumpção,
médico e escritor


‘Dia dois de novembro, tradicionalmente aquele em que os viventes vão visitar os mortos, nos cemitérios. Tempo de cuidar das sepulturas, limpá-las. Muitas, há muito esquecidas. Levar flores, sentar à beira do túmulo, deixar o olhar se perder no passado. Lágrimas podem rolar pela face, evocando imagens de antanho. Recordações, saudades, muitas vezes arrependimentos.... Outros, questionam sobre a sua própria morte. Visitam seus mortos, olham a vida que levam, e pensam em sua própria morte, num dia quiçá distante, quando ali serão eles os relembrados.

Outros mais, preferem passar longe dos cemitérios, nesse dia e em todos os demais. Dá azar, afirmam. A alguns, causam medo, pavor mesmo. Lembro-me de minha infância. Morava no sul de Minas, a algumas quadras do cemitério. Durante o dia, brincávamos em sua proximidade, passeávamos de bicicleta ao seu redor. Mas, à noite, nem pensar. Só distância queríamos dele. Contudo, bastava o sol acordar, para todos os fantasmas desaparecerem. A vida retomava o seu lugar, e os mortos descansavam em paz.

Anos se passaram, e em 1978 tomei conhecimento de um seminário sobre Psicologia Transpessoal da Morte. Nome instigante para quem convivia, por muitos anos, numa relação estritamente técnica com a morte. Médico, plantonista de pronto socorro, aprendi a lutar contra essa esquálida senhora, muitas vezes sabendo ser inglória essa luta. Quando estava realmente decidida a levar a cabo o seu trabalho, era sempre ela, a vencedora. Aquele seminário despertou minha atenção, e decidi participar dele. Não podia imaginar o quanto mudaria a minha vida. Nele, descobri novas faces da morte, desvelando seu verdadeiro sentido. Aprendi a ter nela, não mais uma inimiga a ser vencida, mas a mestra dedicada e sempre presente, que me ensinava a viver, a valorizar a vida, e dela usufruir da melhor maneira possível. Descobri também uma nova ciência, até então totalmente desconhecida no Brasil – a Tanatologia – que fora desenvolvida pelas médicas Cicely Saunders, na Inglaterra, e Elisabeth Kübler-Ross nos EUA. Ambas trabalhando, nos anos 60, com enfermos em fase terminal da doença, e sem possibilidades de cura. Ambas se empenhando em proporcionar a esses pacientes, a melhor qualidade de vida possível, no tempo de vida que lhes restasse. E aos seus familiares, o conforto e a aceitação para uma realidade universal. Aprofundei-me no seu estudo, passei a promover cursos e seminários, escrevi dezenas de artigos e alguns livros, entre eles um manual para qualquer interessado nesse tema desafiador : ‘Sobre o viver e o morrer’ (Ed. Vozes). E conclui que o nome certo dessa nova ciência, deve ser Biotanatologia. Bio, que em grego significa vida, Thanatos o deus da mitologia grega que representa a morte, e Logos, também do grego, com o sentido de conhecimento. Resumia assim, o que aprendi : a morte nos proporciona o conhecimento de como viver. É a vida ensinada pela morte. Com sua verdadeira imagem diante dos olhos, desaparece o temor, cresce o amor. Pode parecer absurdo, talvez um paradoxo, mas é real, é transformador.

Seu principal ensinamento é a impermanência de tudo e de todos. Nada temos para sempre, aqui nada somos em definitivo. A pretensão à imortalidade, nessa realidade temporo-espacial, é uma quimera que gera ansiedade e medo. Quando se constata sua falácia, vira pavor, pânico. Por isso, muitos nem sequer querem pensar nem conversar sobre ela.  A segurança do carro blindado, a fortaleza de uma casa indevassável, a fortuna amealhada (nunca suficiente...), que se supõe proporcionar sono seguro, são somente fumaça que o sopro da morte leva sem qualquer cerimônia. Quantos passam pela vida cercando-se de recursos materiais, sofisticados, com alta tecnologia, e sempre negando a morte. Quantos deixam de lado a simplicidade do viver, o bucolismo da despreocupação responsável, tudo porque buscam a garantia de vida perene, que só existe em nossa imaginação. Quantos saem de casa enraivecidos, depois de uma discussão banal, sem pensar que poderão não retornar para uma reconciliação. Ou, se o fizerem, poderão já não ter com quem resgatar o relacionamento perdido. Quantos gastam as horas do dia, os dias do ano, trabalhando insanamente, só por um lugar na revista Forbes, na listagem dos mais ricos. E quando o alcançam, costumam já ter também um obituário feito por encomenda. Quantos se preocupam com o que vão amealhar, sem pensar que um dia tudo deixarão, e suas mãos estarão vazias ao partir. Títulos, honrarias, cargos, tudo se tornará em nada, talvez diplomas mofando na parede. Ignoram que desta vida, só se leva a vida que levamos. Quantas oportunidades se perde para dar ou pedir um perdão, reconhecendo que errar não é um fracasso, mas apenas uma condição própria dos humanos. Quantas outras se perdem de dizer que amamos, e para ouvir que somos amados. A lista é longa, mas tendo-se a humildade de pensar, será fácil de ser feita.

Diante da morte, questiona-se o que existe depois, se é que existe. Ninguém voltou para contar, e se contaram, somente fizeram, da outra vida, uma reprodução da atual, pois nossa razão é incapaz de vislumbrá-la. Não será essa impossibilidade, uma boa razão para se crer que ela existe? Dia de Finados nos dá uma ótima oportunidade para refletir, com otimismo, sobre isso. Não deve ser um dia sombrio e triste, mas um dia para nos libertarmos do inútil medo da morte.’


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sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Por que rezamos pelos mortos?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Dom Antônio Afonso de Miranda, SDN,
Bispo Emérito de Taubaté/SP, via Canção Nova 


 ‘Nossos mortos, que comemoramos no Dia de Finados (2 de novembro), não estão mortos. Estão vivos, com uma outra vida, junto de Deus, que não se acabará. O livro da Sabedoria, na Bíblia, nos ensina que os justos, os que perseveram na fé, não morrem (Sb 2,23).

O mesmo livro da Sabedoria assegura : ‘Os justos vivem para sempre, recebem do Senhor sua recompensa, cuida deles o Altíssimo. Receberão a magnífica coroa real, e das mãos do Senhor, o diadema da beleza.’ (Sb 5, 15 e 16).

Mas, e os que não são justos? E os que morreram separados de Deus? Também estes vivem, porém de outro modo. Descrevendo a cidade de Deus onde vivem os justos, São João diz o seguinte no livro do Apocalipse : ‘Nela jamais entrará algo de imundo, e nem os que praticam abominação e mentira.’ (Ap 21, 27).

Portanto, os pecadores, os maus, ali não entram. A morada dos justos é junto de Deus. A morada dos maus é a eterna separação de Deus. Assim se compreende a diferença entre céu e inferno.

A criatura humana é inextinguível, porque é feita à imagem e semelhança de Deus. Sobreviverá, por isso, de modo novo, que não sabemos explicar, após a morte. Este modo será de eterna felicidade junto de Deus para os bons, ou de eterna desgraça pela separação de Deus, para os maus. A fé, entretanto, sempre nos levou a crer que muitas pessoas, apesar de imperfeitas e manchadas, não se distanciaram de Deus por uma absoluta prevaricação. Estas pessoas, após a morte, devem ser purificadas. Então, haverá pecados que possam ser perdoados, ou de que possamos nos purificar no outro mundo? Foi o que ensinou Jesus : ‘Se alguém disser blasfêmia contra o Espírito Santo, nem neste mundo, nem no outro isto lhe será perdoado.’(Mt 12, 32). Do que inferiu o 1º Concílio de Lião : ‘disto se dá a entender que certas culpas são perdoadas na presente vida, e outras o são na vida futura, e o Apóstolo disse que a obra de cada um, qual seja, o fogo a provará e aquele cuja obra arder ao fogo, sofrerá; mas ele será salvo, porém, como quem o é através do fogo’ (I Cor 3, 13 e 15).

Por difícil que pareça o texto do Apóstolo em I Cor 3, 13 e 15, que citamos com a autorizada interpretação do 1º Concílio de Lião, dele fica bem claro que algumas pessoas serão salvas, ‘porém através do fogo’, que as purificará. É este estado após a morte que a doutrina católica sempre denominou Purgatório. Palavra esta, creio eu, salvo melhor juízo, mal traduzida do grego para o latim – onde o vocábulo Purgatorium soa como purgante, pelo que a melhor versão latina seria Purgatio, que em português se deve traduzir por purificação. Entende-se pois, a palavra Purgatório, como Purificação, significando aquele estado em que, após a morte, seremos purificados de faltas não mortais, antes de sermos admitidos à luz puríssima de Deus.

É assim, aliás, que o entendeu o novo CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, ao expor esta matéria : ‘Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, afim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu.’ (nº 1030).

Sempre ensinou também a Igreja Católica que, aos mortos que devem ser purificados, muito ajudam os sufrágios, preces e sacrifícios dos irmãos vivos, visto o imenso tesouro da chamada ‘comunhão dos santos’. Para ensinar esta doutrina, a Igreja sempre se amparou no texto bíblico do 1º Livro dos Macabeus 12, 38-45, que assim conclui : ‘É, pois, santo e salutar pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados.’ Este é o motivo de nossas orações pelos falecidos. Cremos que estão vivos. Cremos que a fé em Cristo os salvou. Não esquecemos, porém, que muitas fragilidades humanas talvez impeçam a sua imediata acolhida na visão beatífica. E por eles oferecemos preces e sacrifícios, especialmente no Dia de Finados, para que, quanto antes, lhes resplandeça a luz da bem-aventurança.’


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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Morte, inimiga comum


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre Geovani Saraiva,
Pároco de Santo Afonso de Fortaleza, CE,
e vice-presidente da Previdência Sacerdotal


 ‘Novembro chega e, saudosos e ao mesmo tempo confortados pela fé, somos chamados a pensar na morte como nossa inimiga comum, quando todos são colocados em pé de igualdade na celebração do Dia de Finados. Mas, de acordo com o Livro Sagrado, na parábola do rico e do pobre Lázaro, no capítulo 16 de São Lucas, o futuro ou a sorte das pessoas são antagônicos : o rico passa por tormentos e Lázaro experimenta a plenitude e é recompensado no seio do Pai Abraão. São incontáveis os Lázaros, a partir da utopia do Reino, que se revelam na Escritura, manifestação nítida do mistério da graça de Deus, na caminhada dos seguidores de Jesus de Nazaré, esplendor a iluminar o mundo e na História.

O rico da referida parábola representa o poder do demônio, fechado num sistema excludente, gerador de uma enorme massa de miseráveis : mendigos, desempregados e ladrões, que saqueiam para não morrer de fome, sem esquecer dos milhões de refugiados e migrantes espalhados pelo mundo inteiro.

O Lázaro nessa parábola deixa claro que Deus se associa à vida infra-humana do povo excluído, dando a entender, aos cristãos de todos os tempos, o compromisso com seu projeto de amor solidário, compreendido na manifestação da vontade divina, em assumir a vida humana, pessoal e coletiva, na busca da dignidade, num mundo novo e transfigurado.

Somos chamados a pensar na graça de Deus, convencidos de que o mesmo Senhor, afável e terno, nos ama e toma a iniciativa, por seu filho Jesus Cristo, através da Igreja, sacramento de salvação. Já faz 34 anos e ainda me recordo um pouco do estudo da teologia sobre o Tratado da Graça, na Universidade Católica (PUC-RS), com o Pe. Olavo Moesche. Sempre muito cristalino, ele deixou na minha mente que Deus nos ama; também no que há de mais belo e maravilhoso no mistério do amor : o dom e a graça. E que somos filhos de Deus e que nos é permitido chamar de Pai! É Ele quem nos torna novas criaturas, inserindo-nos em sua vida e no mistério trinitário : Pai, Filho e Espírito Santo.

É claro que Deus espera, da parte da criatura humana, uma resposta livre, a partir da existência do seu ser, mas numa vida exemplar, com as marcas da fé, esperança e caridade, num amor comprometido e gerador de comunhão, no serviço aos irmãos. Que nossa resposta nos faça livres, ao experimentar a graça de Deus, mistério de amor. Assim, somos convidados, no dom e na graça, à luz da esperança cristã, a pensar na transitoriedade da vida, a partir do Dia de Finados, que nos permite reorganizar a vida, unidos aos nossos irmãos e amigos falecidos. Amém!’


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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Reflexão para o Dia de Finados

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre Cesar Augusto dos Santos


‘...Todos nós fomos criados para vivermos eternamente a felicidade, amando a Deus e sendo amados por Ele. É um momento de reflexão sobre o sentido da existência humana, de onde vem e para onde vai.
É uma ocasião em que a arrogância e a prepotência devem ceder lugar à humildade e o ser humano reconhecer que, apesar de sua grandiosidade é finito. Teve início e terá fim, basta olhar para aqueles que nos cercavam e agora não mais estão ao nosso lado. Também, deveremos pensar em nós, em nosso futuro, em nosso destino definitivo. Mais cedo ou mais tarde, isso acontecerá.
Exatamente por causa dessa certeza, devemos viver bem, em harmonia com todos e preparando nossa morada definitiva. Se a morte é certa, quando ela ocorrerá e de que modo, é uma incerteza. Com ela acabam disputas, vanglórias, riquezas, partidarismos políticos, idelogias, classes sociais, tudo. Só permanece aquilo que foi realizado por amor e com amor porque o amor é eterno, o Amor é Deus, Deus é Amor! Mesmo o homem mais inteligente e mais rico só levará para o além túmulo aquilo que fez por causa do Amor. O mais se tornará cinzas e irá, com o passar do tempo, para o esquecimento, como nos mostra o que restou de tantos que se julgavam influentes e que até o nome esquecemos.
Mas o dia de finados é um dos marcados pela saudade, pela presença da ausência de tantos entes queridos. Mas essa saudade é um sentimento doce, sofrido, mas doce. Recordamos, isto é, trazemos ao coração, a lembrança de pais, filhos, irmãos, avós, amigos, vizinhos, colegas, conhecidos que marcaram com suas presenças nossa vida, nosso dia-a-dia. Se o nosso relacionamento com eles foi bom, dentro do amor, do carinho, dentro da compreensão e do perdão, o dia de hoje será consolador. Será grato fazer essa recordação. Sofremos a saudade, é verdade, mas não nos desesperamos, porque não desperdiçamos a oportunidade de bem conviver e de amar.
Sabemos que um dia nos reencontraremos e juntos, viveremos a eternidade com Deus. O Céu é o local de encontro, onde nossos entes queridos nos aguardam para a vida feliz, em Deus, para sempre amando e sendo amado!
Continuemos fazendo o bem, vivendo os ensinamentos cristãos. Eles são o passaporte para chegarmos à Pátria definitiva. Jesus Cristo, Maria e os nossos queridos que já nos precederam, aguardam por nós. Não os decepcionemos!’

Fonte :