Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Demétrio Valentini
‘O assunto pode
parecer sem sentido. Ou inadequado. Ou ao menos inoportuno. Mas não faz mal
colocar algumas ponderações, que encontram fácil justificativa no contexto de
mais um dia de finados, seguido do dia de todos os santos.
Com estas duas
celebrações, a intenção da liturgia é franca e sem rodeios. Ela nos convida a
pensar no final da vida, e no destino que nos aguarda após a morte.
E de uma maneira mais ampla, no presumível ‘fim do mundo’, que a finitude da
natureza nos garante como certo!
Dependendo de
circunstâncias aleatórias, com frequência volta às manchetes a previsão de que
o fim do mundo está próximo, às vezes até com data marcada.
Se olhamos com
atenção o depoimento dos Evangelhos, percebemos que no tempo de Cristo havia um
forte movimento escatológico. Ele se conectava facilmente com as
grandes expectativas do povo de Isael, forjadas todas elas na esperança de uma
manifestação divina em seu favor.
Podemos perceber a
presença desta visão escatológica, na breve síntese da pregação inicial de
Jesus, que Marcos nos apresenta : ‘Completou-se o tempo, o Reino de Deus está
próximo, convertei-vos, e crede no Evangelho.’
Assim fazendo, Cristo
valorizava as expectativas do movimento escatológico,
canalizando-as para a mensagem que ele tinha a transmitir. Como precisava
alertar a todos para que se dessem conta do que estava por acontecer, ele
aproveitava o clima de expectativa escatológica, que servia para alertar o
povo.
Enquanto o povo era
motivado pelos presságios de grandes acontecimentos, Jesus aproveitava para
confirmar que, de fato, estavam próximos eventos importantes, onde ele mesmo
seria o protagonista principal., no contexto do ‘mistério pascal’, que incluía
sua paixão, morte e ressurreição.
Com esta finalidade
Jesus assimilava o linguajar escatológico dos
profetas,valendo-se dele para armar o cenário em que ele iria cumprir a missão
recebida de Deus.
Ao mesmo tempo que
utilizava o gênero literário apocalíptico, Jesus se empenhava em
explicar que as expectativas dele eram bem diferentes das expectativas do
movimento escatológico. Estas facilmente estreitavam as esperanças do povo
dentro da visão acanhada de derrotas a infligir a vizinhos e inimigos.
Algumas passagens do
Evangelho trazem com tanta ênfase as expectativas escatológicas de Jesus, que
pareceria ter-se equivocado. Pois ele chegou a afirmar : ‘esta geração não
passará, até que tudo isto tenha se cumprido’ (Mc 13,30).
Sua vontade de
cumprir por inteiro sua missão, o levava a diluir as fronteiras entre o
presente e o futuro.
Do ponto de vista da
fé cristã, podemos olhar o futuro de nossa vida e do próprio mundo com
serenidade. Pois o grande evento se realizou, na pessoa de Cristo que, ‘uma vez
por todas’, ofereceu sua vida ‘em resgate pela multidão’. Este é o grande fato,
que Jesus predizia, e que a Igreja vive nas três dimensões do tempo : o
passado, que é recuperado pela memória e se torna presente pela celebração, que
por sua vez aponta o futuro, antecipando sua plenitude que um dia se
manifestará.
Como Cristo, nós
também vivemos as três dimensões do tempo, até o dia em que se tornará eternidade.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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