Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
professor
‘Muitas pessoas ficam
desconcertadas ao verem o mal campear no mundo, sem que Deus pareça tomar parte
na angústia dos que são vítimas da violência e da injustiça. Às vezes parece
que Deus se torna mudo diante do nosso sofrimento; mas não é assim.
Alguém
já disse que ‘Deus não fala, mas tudo fala de Deus’. Isto é, Deus fala pela
Revelação e pela vida, mas esta linguagem tem de ser decifrada. Seus silêncios
aparentes são sábios e nos obrigam a exercitar o ouvido da alma, e
criar novas antenas e ouvidos interiores, para ouvir a sua voz. Não é que Deus
não fale, somos nós que não captamos sua palavra.
Deus
não é indiferente diante dos acontecimentos deste mundo. Sempre pesou sobre a
mente dos homens a aparente indiferença de Deus diante do desenrolar dos
acontecimentos neste mundo. O povo sente-se, por vezes, desanimado e propenso a
‘fazer como todo o mundo faz’, visto que ser reto e digno parece custar muito
caro e não trazer proveito. Até o salmista tem a tentação de agir como os maus
(…), mas depois entende a sua triste sorte :
‘Por
pouco meus pés tropeçavam; um nada, e meus passos deslizavam. Porque invejei os
arrogantes, vendo a prosperidade dos ímpios. Para eles não existem tormentos,
sua aparência é sadia e robusta; a fadiga dos mortais não os atinge, não são
molestados como os outros (…).
Refleti
para compreender, e que fadiga era isto aos meus olhos! Até que entrei nos
santuários divinos : entendi o destino deles! De fato, tu os pões em ladeiras,
tu os fazes cair em ruínas. Ei-los num instante reduzidos ao terror, deixam de
existir, perecem por causa do pavor! (…), Sim, os que se afastam de Ti se
perdem (…). Quanto a mim, estar junto de Deus é o meu bem!’ (Sl 72, 2-5. 16-19.
27s)
A
Bíblia nos mostra que é exatamente nos momentos de maior luta, conflito,
desespero e perplexidade que Deus prepara as suas ações mais belas.
A
Páscoa cristã e a glória da Ressurreição de Jesus foram precedidas da cruel e
dolorosa Paixão do Senhor, que deixou os apóstolos atônitos e perdidos. Mas, na
manhã do domingo, ficou claro que o ‘fracasso’ do Mestre se transformara em
inacreditável vitória sobre a morte. Então, tudo se fez novo (…). Ele
ressuscitou como o Kýrios, o Senhor da vida e da morte; a vida venceu a morte,
as trevas foram dissipadas pela luz.
É
no silêncio de Deus que o cristão aprende a crescer na fé e
na confiança no Senhor. Não sejamos crianças na fé.
Nesse
silêncio sagrado somos obrigados a apurar os ouvidos interiores e
a criar novas antenas para tentar compreender a vontade de Deus.
É
preciso, então, não se deixar afundar na hora da tormenta, mas esperar com fé
na Providência divina que não falha. No meio do fogo das tribulações, é preciso
continuar a caminhar, ainda que gemendo e chorando, ‘como se visse o invisível’
(Hb 11,27).
Este
‘avançar na fé’ pode ser comparado a um complicado jogo de ‘quebra-cabeça’; no
seu início não temos a menor ideia do quadro a compor, parece que o ‘quebra-cabeça’
não tem solução, a charada é desafiadora; mas, devagar, com paciência, vamos
juntando as peças (…) começa a surgir alguma coisa. Ao se combinar as peças
começa a surgir o quadro, e então, vai ficando cada vez mais fácil, até o fim.
A
vontade de Deus para nós é assim; os fatos da vida, isolados, parecem não ter
sentido, mas, quando os vamos juntando na fé e analisando-os na esperança,
vemos a sua mensagem. Às vezes é preciso olhar peça por peça, sem saber qual é
a próxima que virá. Mas é preciso ir em frente, caminhar com perseverança.
A
grande Edith Stein disse uma bela verdade : ‘Não sei para onde Deus me leva,
mas sei que é Ele me conduz’. Isto basta.
Não
podemos esperar que a mensagem esteja decifrada para começar a caminhar; assim
não começaríamos nunca a viagem. Nunca encontraremos um discurso de Deus para
nós, pronto e claro, e nem um caminho nitidamente traçado; não, Deus nos conduz
no escuro da fé, onde Ele vai nos falando durante o caminho, como fez com os
discípulos de Emaús. E, se não caminharmos, não ouviremos a Sua voz.
Por
que Ele age assim? Na sua sabedoria infinita Ele tem motivos para agir assim
conosco; logo, cabe a nós não nos calarmos diante Dele, mas responder na fé e
na oração incessante.
‘O
justo vive da fé’ (Rm 1,17; Gl 3,11; Hb 10,38). Mais do que a nossa vitória,
Deus espera a nossa luta determinada, com fé e perseverança.
Ninguém
conhece os caminhos da Providência divina, por onde Ele passa, o que quer com
este golpe, o que está fazendo com esta aflição, morte, fracasso, desemprego
(…).
Muitas
Ordens religiosas foram provadas terrivelmente até se firmarem. Mas, porque os
seus fundadores não desanimaram e não desistiram, a Igreja se tornou rica e
santa por causa delas.
Deus
não é um ser mudo; Ele se revelou e revelará; se Ele, por vezes, parece
calar-se, Ele o faz sábia e providencialmente.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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