Por Eliana Maria
(Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Num mundo movido
pelas redes sociais, tudo nos impulsiona ao exibicionismo e à superexposição
até das nossas oscilações de humor e dos nossos pensamentos mais secretos, e
sempre na velocidade do tempo real. Mesmo assim, neste mesmo mundo, existem
pessoas que sabem ser discretas. São pessoas que ainda observam o mundo com
discernimento e autocontrole.
Acontece
que viver esta virtude da discrição nem sempre é fácil. De fato, quem não quer
se destacar na multidão hoje em dia acaba sendo visto como ‘suspeito’.
‘É exatamente isso
que eu vivo no meu trabalho’, conta Magali, 33, designer gráfica. Reservada por
natureza, ela prefere não chamar a atenção da sua equipe. ‘Minhas roupas são
tradicionais e meu jeito de falar é decididamente discreto. Eu também tenho
regras de cortesia. Falar ou interromper a outra pessoa para colocar os
holofotes sobre mim e ‘me vender’ me deixa horrorizada! E, sim, muita gente me
acha antiquada’.
Aparentemente, não há
nada mais ultrapassado que a discrição. Mas que tal se manter-se discreto
e reservado e ficar quieto para dar espaço aos outros for uma experiência de
alegria e de preciosa paz interior? A discrição e a humildade podem ser traços
de caráter que nos surgem naturalmente, ou expressões de fidelidade aos valores
da ‘boa educação’ que exigem moderação tanto nas atitudes quanto nas
aparências. Mas também pode ser a obra ativa do Espírito Santo.
Para o pe. Raphaël
Buyse, a discrição é uma virtude específica que exercemos na nossa relação com
os outros e que exprime ‘o respeito amoroso por cada ser humano, começando
pelos mais próximos e pelos mais fracos’. É um ‘olhar atento, capaz de
discernir em detalhe as necessidades profundas, que podem ser muito sutis,
daqueles que nos rodeiam. Uma virtude moderadora que dá nuances e equilíbrio à
vida e a penetra com uma delicadeza misteriosa’, escreve ele, esboçando o
retrato de um grande monge beneditino, o belga Frederic Debuyst (1922-2017).
Debuyst, o fundador
do mosteiro de Saint-André de Clerlande, em Ottignies-Louvain-la-Neuve, na
Bélgica, era um homem de grande gentileza, modesto, e, para muitos, um mestre
na arte da discrição. Era obra do Espírito do Senhor. ‘A sua vida mostrou, sem
grandes discursos, que o seguimento de Cristo nunca deve ser feito com esforços
violentos ou sobressaltos exuberantes, mas com muita paciência na vida
quotidiana, num ritmo regular de oração e trabalho, na capacidade de suportar as
próprias deficiências e as dos outros’, escreve o pe. Raphaël Buyse.
A discrição, então, é
o Espírito de sabedoria que nos inspira a passar preferencialmente do ‘respeito
pelos mais dignos’ ao ‘respeito pelos mais fracos’. É o bem que ‘fala pouco,
não se apresenta, não se difunde nas organizações e nas estatísticas’,
continua.
Portanto, antes de
entrarmos nas redes sociais para compartilhar as nossas ‘selfies’, buscar ‘curtidas’
e seguidores e participar do exibicionismo generalizado da nossa época, talvez
devêssemos nos perguntar se estamos sendo seduzidos pelo narcisismo e pelo
orgulho, em vez de praticar um nível saudável de discrição que nos permita
focar nos outros. Isto exige sacrifício e verdadeira caridade.
A virtude evangélica
da discrição, em suma, é caminho para a conversão do coração e para o
renascimento no Espírito, como Jesus revelou a Nicodemos : ‘Faze isto e viverás’.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2023/05/02/discricao-uma-virtude-esquecida/
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