Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre José Eduardo
‘Costumamos chamar de ‘direção
espiritual’ esse meio de formação da consciência que alinha o indivíduo com o
seu fim sobrenatural, primeiramente em nível moral, mas sobretudo em nível
ascético. Ora, a matéria desse direcionamento outra coisa não é senão a vida
mesma do dirigido, que se expõe com total simplicidade ao médico que lhe pode
ajudar a não fazer a sua própria vontade, mas a vontade de Deus.
A direção espiritual,
portanto, deveria ser o momento em que nós livremente nos abrimos, expondo
todos os aspectos da nossa personalidade perante o infinito, contando com a
graça de estado daquele que nos orienta para sermos tratados em todos os pontos
da nossa indolência, da nossa claudicação, da nossa fragilidade.
Se o ponto mais alto
da maturidade humana é viver, por assim dizer, ‘in conspectu Dei’, na presença
de Deus, é justamente nesses momentos em que nós o comprovamos para nós mesmos.
Para quem quer ser santo, a sinceridade deixa de ser uma obrigação e passa a
ser o tema mesmo de sua existência, com todos os seus ônus, visto que ela não é
senão um aspecto daquela humildade fundamental, sem a qual jamais podemos ser
verdadeiramente conscientes diante de Deus.
O homem vaidoso,
insincero, que quer parecer bom aos olhos do seu diretor e, por isso,
oculta-lhe, talvez com o pretexto de não o decepcionar, as suas próprias
misérias, nada mais é que um extraviado que fez a opção de perder-se de modo
cada vez mais irreversível. Não há nada mais patético do que um dirigido que se
apresenta como quem lesse a ‘positio’ do seu próprio processo de beatificação :
tudo são qualidades, tudo são méritos, recheados de lirismo pseudo-místico, de
poesia e de orgulho espiritual.
Quem quer parecer
santo diante do seu diretor deve simplesmente interromper esta encenação e
reconhecer humildemente o quanto é hipócrita, cínico e palhaço, pois o
crescimento em santidade é tão maior quanto maior é o reconhecimento da nossa
precariedade, do nosso nada. E não se trata de um reconhecimento retórico, mas
da coragem de demolir a própria autoimagem e demonstrar-se como verdadeiramente
se é, com todas as sutilezas da sua própria canalhice, ignorância, fraqueza e
malícia.
Ir à direção
espiritual é dispor-se para falar mal de si mesmo, para revelar-se em toda a
amplidão da sua própria virulência, a fim de receber o remédio adequado.
Um diretor experiente
sabe quando está lidando com uma pessoa ou com um personagem. Pessoas têm
fraquezas, lutas, tentações; personagens têm proezas, para o bem ou para o mal:
suas virtudes são façanhas de Hércules, seus pecados são as desventuras de Hazazel
e os seus problemas são o tormento de Sísifo; tudo para esconder, por detrás de
desproporções, a mediocridade real de sua miséria.
Não existe santidade
sem humildade. Qualquer sacerdote sabe disso. E, para além da parlóquia inútil,
os santos têm virtudes reais, radicais, heroicas.
Portanto, se alguém
pretende autobeatificar-se, não está buscando um diretor espiritual, mas um fã.
E isso é uma grande falta contra a justiça e a caridade. Se o dirigido não tem
pena de sua própria alma, vitimada por sua própria mentira e fingimento, ao
menos deveria ter pena de perder o próprio tempo com conversa tão inútil, bem
como deveria ter misericórdia de fazer perder o tempo àquele pobre sacerdote,
que tem muitas ovelhas para cuidar e que não pode se dar ao luxo de trabalhar
inutilmente, deixando de rezar e de estudar para simplesmente debalde pastorar
bodes.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2023/11/23/sinceridade-e-direcao-espiritual/
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