*Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano
‘O número de católicos no mundo, assim como o de padres e diáconos permanentes, registou apenas um crescimento modesto, enquanto o número de membros das ordens e congregações religiosas diminuiu... Os dados apontam para uma Igreja cada vez mais ‘laica’ e, por consequência, para uma dificuldade crescente por parte dos católicos de acederem aos sacramentos, sobretudo da Reconciliação e da Eucaristia.
Os dados relativos ao número de católicos são apenas indicativos dado que são obtidos a partir do número de batismos, de criança e adultos, e certamente dos que foram aceites na Igreja, geralmente na sequência de casamento com um católico. Não se conhecem os números daqueles que abandonaram a Igreja, muitos deles desiludidos ou atraídos pelas promessas das Igrejas independentes e seitas.
Sabe-se que no Ocidente o ‘efeito Francisco’ certamente ajudou a atenuar a hostilidade em relação à Igreja. Mas não será possível saber se há alguma influência do papa nestes números. O que parece é que os desafios que ele tem lançado parecem tardar a ser percebidos e assimilados pelos católicos, aqueles que deviam ser os primeiros a deixar-se entusiasmar pela sua liderança e propostas.
Porventura, os dados mais importantes das estatísticas vaticanas dizem respeito ao encolhimento, pelo segundo ano consecutivo, do número de candidatos ao sacerdócio; ao crescimento do número de diáconos permanentes, que foi praticamente semelhante ao de padres, diocesanos e religiosos; e por último, o acentuar da crise dos institutos de vida religiosa, que leva os seus membros a abandonarem tantas instituições de ensino e um sem-número de projetos de desenvolvimento humano.
Os dados sobre o número dos fiéis católicos em si são neutros, dado que nos últimos anos a reflexão teológica e eclesial tem levado a uma pastoral mais centrada no testemunho da fé nas diversas circunstâncias e ambientes do que no aumento da comunidade católica. Mas há sinais preocupantes : a diminuição do número dos que celebram o sacramento do matrimônio, do número de batismos de crianças (atribuível ao decréscimo da natalidade mas também a uma falta de compromisso dos pais), a relativização dos ensinamentos do magistério e das normas da Igreja, a dificuldade na transmissão da experiência de fé e a idade cada vez mais avançada das pessoas que participam nos atos litúrgicos, indicam uma quebra na prática religiosa e mesmo uma séria erosão do catolicismo.
Sendo a Igreja semper reformanda, é natural que a sua estrutura mude, se adapte às necessidades dos tempos e surjam novos ministérios para o serviço da comunidade e da humanidade.
O que não pode ser negociável é a experiência de Deus e o compromisso com a comunidade.
O maior teólogo católico do século passado, Karl Rahner (1904–1984), no seu livro O Cristão do Futuro, em que fala das suas expectativas para a Igreja e para os cristãos, diz que ‘o cristão do futuro, ou será um místico ou não será cristão’. Por misticismo, Rahner entende o apego à oração, à meditação e à contemplação na ação e não o esoterismo e gnosticismo tão em voga nos dias de hoje. Trata-se de uma verdadeira ‘profecia’: dada a pluralidade religiosa e social, o cristão de hoje só será cristão se for um místico, ou seja, um contemplativo no mundo.’
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