*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de
Belo Horizonte, MG
‘A
sociedade brasileira, obviamente no contexto mundial, mais amplo, está também
desafiada a avaliar no conjunto de suas crises a configuração das colisões
entre princípios éticos e ideologias. Esses embates precisam ser administrados
com o mínimo de racionalidade para não se correr o risco de polarizações que
vão acelerar processos de intolerância. Deve, sempre, sobressair o exercício do
entendimento, cujo ponto de partida é a preservação de princípios inegociáveis,
o que inclui o respeito incondicional ao outro.
Ao
assumir posturas ideológicas, não se pode ‘passar
por cima’, desrespeitosamente, de valores e princípios de outras pessoas,
de diferentes segmentos da sociedade nas suas configurações religiosas, sociais
e políticas. O desrespeito, certamente, é uma das fontes da crise humanística e
comunitária. Suas consequências podem ser irreversíveis : ódio, disputa e
permissividade que comprometerão o mínimo de civilidade e de convívio
fraterno. Aliás, a sociedade brasileira,
com seus diferentes grupos, já está sofrendo com situações que expõem
radicalismos e fundamentalismos.
Evidentemente, esses episódios tornam a paz mais distante. Há uma
facilidade irracional para agredir, acusar e espalhar mentiras. Ações que ferem
o tecido da cultura brasileira e ganham amplitude nas redes sociais e nos
tradicionais meios de comunicação.
Eventos
públicos, como os recentemente realizados nas grandes capitais do país, não
podem agredir símbolos religiosos e misturar o direito de defesa de
perspectivas com atitudes hostis. A ordem pública tem que se posicionar para
que as banalizações não tomem conta da sociedade, um processo perigoso que
corrói o núcleo da consciência coletiva.
O que movimentos e grupos promoveram, por exemplo, nas ruas de São
Paulo, é ofensa aos cristãos, pois se trata de banalizar os símbolos religiosos,
um ato irracional. A defesa da pluralidade não justifica e não confere direito
a qualquer grupo ou pessoa de assumir posturas marcadas por intolerâncias.
Os
cristãos têm o direito e o dever de mostrar que a defesa de uma sociedade
plural passa por um caminho diferente do que é trilhado por quem busca agredir
a fé. Não se conquista a paz e o respeito ferindo princípios de uma confissão
religiosa, ainda mais de maneira debochada. Diante do ocorrido em São Paulo,
todo cristão é chamado a expressar ainda mais os princípios de sua fé. Deixar ficar por isso mesmo, sem esse
educativo protesto, é ser conivente com um processo que, à primeira vista,
parece ser aceitável como expressão democrática. Contudo, trata-se de uma
precipitação tácita e perigosa da sociedade num caos produzido pela relativização
abominável de princípios e valores.
É
hora, portanto, de um alerta geral. Os deboches e desrespeitos promovidos por
parte de um grupo - que merece ser respeitado, cada um de seus integrantes
reconhecidos em sua dignidade humana -, é a ‘ponta de um iceberg’. Revela posturas que não podem passar
despercebidas. A sociedade, com seus diversos segmentos, tem o desafio de
acompanhar o processo em curso para se posicionar sobre importantes temas. Em
especial, a respeito da inclusão da chamada ideologia de gênero nas diretrizes
da educação nacional, um tema que ainda não é de domínio público. No horizonte
dessa mudança, entre outros pontos, a escola - e não a família -, teria a
tarefa de ajudar o menino ou a menina a discernir a sua identidade sexual. Isto
significa passar por cima de dimensões antropológicas e éticas que são valores
inegociáveis no âmbito da moral e da confissão religiosa cristã.
Esse
tema traz impactos na vida de muitas pessoas. É um alerta para a indispensável
participação de diferentes segmentos da sociedade, para que não se pague o alto
preço por negociar princípios em razão de ideologias. Urge, portanto, conhecer
os muitos processos que estão em rota de colisão com o bem da sociedade para
detê-los. Quem ainda desconhece essas questões deve buscar orientação e
informações. Ainda há tempo para firmar um posicionamento.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de
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