quarta-feira, 10 de junho de 2015

Quem financia o Isis na Síria?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

Segundo Ghaleb Kandil, especialista em geopolítica libanesa, a estratégia do Estado Islâmico é vender petróleo no mercado negro para outros países do Oriente Médio, para continuar a sua guerrilha


‘Ghaleb Kandil, jornalista libanês, é diretor da agência de notícias New Orient News, analista político e membro da Comissão para o audiovisual libanês, presidente do Centro Novo Oriente Médio para os estudos estratégicos de Beirute. ZENIT aproveitou a presença do ilustre perito sobre o Oriente Médio, entrevistando-o durante a sua visita à Itália, na qual ficou como hóspede da Associação Amigos do Líbano.


ZENIT : O auto-proclamado ‘Estado Islâmico’ invadiu Palmira, um lugar arqueológico de grande importância e uma região estratégica para Damasco. Apesar da Coalizão dos EUA, o ISIS avança, como é possível?

Ghaleb Kandil : Palmyra é um ponto importante para a próxima contra-ofensiva do exército sírio, que está lutando contra o Estado Islâmico em todas as frentes. Na guerra existem objetivos, retiradas, ofensivas e contra-ofensivas. Várias áreas foram ocupadas por terroristas e liberadas meses depois. O que não é relatado é o fluxo de dinheiro, armas e jihadistas que vão para a Síria através das fronteiras turca, Jordana e Libanesa. Este apoio humano, militar e financeiro, provém da Turquia, Qatar, Arábia Saudita e Jordânia. Toda vez que chega esse apoio, o Estado islâmico dá um passo em frente.


ZENIT : Quem financia o Estado Islâmico?

Ghaleb Kandil : Hoje, o Isis é apoiado financeiramente pela Turquia. Como acontece? O Estado Islâmico rouba o petróleo sírio e iraquiano, transporta-o de caminhão para a Turquia, vende-o nos portos turcos no mercado negro. O dinheiro é pago através empresas turcas, algumas das quais remontam até mesmo a parentes de Erdogan. O grupo que está no poder na Turquia pega a sua parte e o resto do dinheiro acaba nos cofres do Isis. Esta operação está em andamento, sob os olhos dos EUA e da ONU. E acontece a cada hora, todos os dias. Do Qatar e da Arábia Saudita chega um fluxo de financiamento ao ISIS, mas também ao Al Nusra e à Irmandade Muçulmana que depois da reconciliação, entre Arábia Saudita e Turquia, promovida pelos EUA, reuniram os grupos terroristas sob o nome de Jaish al Fath, para uma nova escalada de ataques contra a Síria.


ZENIT : Como é que o exército sírio está conduzindo a batalha contra os terroristas?

Ghaleb Kandil : O exército sírio atua de acordo com os próprios planos. Tem uma lista de prioridades dos seus objetivos, adequada às próprias capacidades humanas e práticas. Procura conter estas agressões e se prepara para lançar as contraofensivas. O resultado da batalha de Qalamon será decisivo, liberando a força de milhares de soldados sírios que agora estão comprometidos ali e são apoiados pela resistência libanesa do Hezbollah, forte e ao seu lado e na linha de frente em defesa da Síria e do Líbano.


ZENIT : Como se pode conseguir uma solução para a crise síria?

Ghaleb Kandil : É preciso parar toda atividade terrorista, todo fornecimento de dinheiro e de armas aos terroristas. Se isso acontecesse o exército sírio precisaria de poucos meses para expulsá-los. Quem é que está impedindo a resolução ou a aplicação da resolução do conselho de segurança da ONU? Os Estados Unidos, com a estratégia de uma guerra de atrito. De fato, todas as soluções nascerão dos pesos e dos equilíbrios locais e dentro da região. Não acho que com a eventual assinatura do acordo nuclear, o Irã conseguiria impor a Washington o abandono deste projeto. Seria necessário um esforço mais amplo. Não basta o Irã, junto com a Rússia ou a China. É preciso que se juntem vozes europeias.


ZENIT : A divisão da Síria em cantões com base na religião : um estado sunita, um xiita, um cristão. Esta é uma das soluções loucas promovidas também na Europa ...

Ghaleb Kandil : Na Síria não existem pressupostos para uma divisão ou uma repartição. Na Síria existe uma grande massa sunita popular que está do lado do governo. O presidente Assad não goza somente do consenso halawita ou cristão, mas também tem o apoio da comunidade sunita, porque na Síria existe um verdadeiro estado nacional. Mas depois existe, por parte de Assad e do seu governo, uma forte vontade política para manter forte a unidade da nação também à custa de uma longa guerra.


ZENIT : O Presidente Assad era o inimigo a ser derrotado, mas agora, mesmo que o ocidente não queira admitir, é um aliado na luta contra o terrorismo. Quanta hipocrisia existe?

Ghaleb Kandil : É verdade. Para o Ocidente o Estado Islâmico é terrorista mas clandestinamente, os poderosos fecham os olhos com relação ao apoio de Erdogan aos terroristas do ISIS, e do Qatar e Arábia Saudita ao Al Nusra, além das organizações terroristas apoiadas e financiadas ligadas à Irmandade Muçulmana. A Irmandade Muçulmana, antes ligada aos serviços secretos britânicos e agora ligada aos americanos, são o foco destas organizações terroristas. Vários grupos de inteligência europeus fizeram contato secreto com Damasco, porque os seus governos são incapazes, míopes, e sem visão.’


Fonte :
* Artigo na íntegra de www.zenit.org/pt/articles/quem-financia-o-isis-na-siria

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