Segundo
Ghaleb Kandil, especialista em geopolítica libanesa, a estratégia do Estado
Islâmico é vender petróleo no mercado negro para outros países do Oriente
Médio, para continuar a sua guerrilha
‘Ghaleb
Kandil, jornalista libanês, é diretor da agência de notícias New Orient News,
analista político e membro da Comissão para o audiovisual libanês, presidente
do Centro Novo Oriente Médio para os estudos estratégicos de Beirute. ZENIT
aproveitou a presença do ilustre perito sobre o Oriente Médio, entrevistando-o
durante a sua visita à Itália, na qual ficou como hóspede da Associação Amigos
do Líbano.
ZENIT
: O auto-proclamado ‘Estado Islâmico’ invadiu Palmira, um lugar arqueológico de
grande importância e uma região estratégica para Damasco. Apesar da Coalizão
dos EUA, o ISIS avança, como é possível?
Ghaleb
Kandil : Palmyra é um ponto importante para a próxima contra-ofensiva do
exército sírio, que está lutando contra o Estado Islâmico em todas as frentes.
Na guerra existem objetivos, retiradas, ofensivas e contra-ofensivas. Várias
áreas foram ocupadas por terroristas e liberadas meses depois. O que não é
relatado é o fluxo de dinheiro, armas e jihadistas que vão para a Síria através
das fronteiras turca, Jordana e Libanesa. Este apoio humano, militar e
financeiro, provém da Turquia, Qatar, Arábia Saudita e Jordânia. Toda vez que
chega esse apoio, o Estado islâmico dá um passo em frente.
ZENIT
: Quem financia o Estado Islâmico?
Ghaleb
Kandil : Hoje, o Isis é apoiado financeiramente pela Turquia. Como acontece? O
Estado Islâmico rouba o petróleo sírio e iraquiano, transporta-o de caminhão
para a Turquia, vende-o nos portos turcos no mercado negro. O dinheiro é pago
através empresas turcas, algumas das quais remontam até mesmo a parentes de
Erdogan. O grupo que está no poder na Turquia pega a sua parte e o resto do
dinheiro acaba nos cofres do Isis. Esta operação está em andamento, sob os
olhos dos EUA e da ONU. E acontece a cada hora, todos os dias. Do Qatar e da
Arábia Saudita chega um fluxo de financiamento ao ISIS, mas também ao Al Nusra
e à Irmandade Muçulmana que depois da reconciliação, entre Arábia Saudita e
Turquia, promovida pelos EUA, reuniram os grupos terroristas sob o nome de
Jaish al Fath, para uma nova escalada de ataques contra a Síria.
ZENIT
: Como é que o exército sírio está conduzindo a batalha contra os terroristas?
Ghaleb
Kandil : O exército sírio atua de acordo com os próprios planos. Tem uma lista
de prioridades dos seus objetivos, adequada às próprias capacidades humanas e
práticas. Procura conter estas agressões e se prepara para lançar as
contraofensivas. O resultado da batalha de Qalamon será decisivo, liberando a
força de milhares de soldados sírios que agora estão comprometidos ali e são
apoiados pela resistência libanesa do Hezbollah, forte e ao seu lado e na linha
de frente em defesa da Síria e do Líbano.
ZENIT
: Como se pode conseguir uma solução para a crise síria?
Ghaleb
Kandil : É preciso parar toda atividade terrorista, todo fornecimento de
dinheiro e de armas aos terroristas. Se isso acontecesse o exército sírio
precisaria de poucos meses para expulsá-los. Quem é que está impedindo a
resolução ou a aplicação da resolução do conselho de segurança da ONU? Os
Estados Unidos, com a estratégia de uma guerra de atrito. De fato, todas as
soluções nascerão dos pesos e dos equilíbrios locais e dentro da região. Não
acho que com a eventual assinatura do acordo nuclear, o Irã conseguiria impor a
Washington o abandono deste projeto. Seria necessário um esforço mais amplo.
Não basta o Irã, junto com a Rússia ou a China. É preciso que se juntem vozes
europeias.
ZENIT
: A divisão da Síria em cantões com base na religião : um estado sunita, um
xiita, um cristão. Esta é uma das soluções loucas promovidas também na Europa
...
Ghaleb
Kandil : Na Síria não existem pressupostos para uma divisão ou uma repartição.
Na Síria existe uma grande massa sunita popular que está do lado do governo. O
presidente Assad não goza somente do consenso halawita ou cristão, mas também
tem o apoio da comunidade sunita, porque na Síria existe um verdadeiro estado
nacional. Mas depois existe, por parte de Assad e do seu governo, uma forte
vontade política para manter forte a unidade da nação também à custa de uma longa
guerra.
ZENIT
: O Presidente Assad era o inimigo a ser derrotado, mas agora, mesmo que o
ocidente não queira admitir, é um aliado na luta contra o terrorismo. Quanta
hipocrisia existe?
Ghaleb
Kandil : É verdade. Para o Ocidente o Estado Islâmico é terrorista mas
clandestinamente, os poderosos fecham os olhos com relação ao apoio de Erdogan
aos terroristas do ISIS, e do Qatar e Arábia Saudita ao Al Nusra, além das
organizações terroristas apoiadas e financiadas ligadas à Irmandade Muçulmana.
A Irmandade Muçulmana, antes ligada aos serviços secretos britânicos e agora
ligada aos americanos, são o foco destas organizações terroristas. Vários
grupos de inteligência europeus fizeram contato secreto com Damasco, porque os
seus governos são incapazes, míopes, e sem visão.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de www.zenit.org/pt/articles/quem-financia-o-isis-na-siria
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