*Artigo de Padre José Vieira,
Missionário Comboniano
Grupos católicos reagiram com indignação ao cinismo dos
políticos que vêem o Mediterrâneo como fosso anacrônico da Fortaleza Europa.
‘Doze grupos católicos organizaram a ação
#todossomospessoas, um murro na mesa
da indiferença, para denunciar a morte de quase 900 pessoas afogadas no
Mediterrâneo, uma semana antes, quando uma traineira se afundou com a maioria
dos passageiros fechada nos porões.
O Papa Francisco pediu decisão e
rapidez aos líderes europeus para travarem a tragédia sucessiva que matou 5200
pessoas nos últimos 15 meses. As vítimas ‘são
homens e mulheres como nós, irmãos que procuram uma vida melhor, famintos,
perseguidos, feridos, explorados, vítimas de guerras. Procuram uma vida melhor,
procuravam a felicidade’, afirmou o papa argentino.
O cardeal alemão Reinhard Max, que
preside à Comissão dos Episcopados da União Europeia, declarou que ‘esta nova catástrofe no Mediterrâneo constitui
uma derrota para tudo o que faz da União Europeia uma comunidade de valores’.
O Conselho Europeu respondeu ao clamor
da opinião pública disponibilizando nove milhões de euros por mês para
patrulhar as fronteiras mediterrânicas e ajudar a Tunísia, Sudão e Egito a
cortarem o acesso à Líbia. É de lá que embarcam 90 por cento dos imigrantes que
usam o mar para chegarem ao sonho europeu. As rotas terrestres que vão desaguar
à costa líbia nascem no Gana, Nigéria, Níger, Mali, Marrocos, Argélia, Somália,
Eritreia, Egito...
Também decidiu destruir embarcações que
possam ser usadas por traficantes e colocar agentes da Europol no terreno para
desmantelar as redes de tráfico humano.
A resposta foi rápida mas é curta! Os
líderes europeus insistem numa resposta securitária em vez de traçar um plano
humanitário que tenha em conta as situações de morte e pobreza que empurram os
imigrantes para a Europa.
A Organização Internacional das
Migrações contabilizou 1750 mortes no Mediterrâneo nos primeiros quatro meses
de 2015, um número 30 vezes maior que no ano anterior. Nessa altura, a Itália
tinha de pé a operação Mare Nostrum para patrulhar o mar e
socorrer os náufragos junto à costa africana. A missão era cara e a comunidade
dos 28 não quis pagar a fatura. Foi substituída pela operação Triton, que
trouxe a intervenção militar para junto da costa italiana e um aumento
exponencial de naufrágios e afogamentos.
Depois, quem semeia ventos colhe
tempestades : os dirigentes ocidentais foram rápidos no apoio à queda do regime
do coronel Muamar Kadhafi, desresponsabilizando-se porém das consequências do
vazio do poder. Agora o país está nas mãos das milícias e do Estado Islâmico.
Em 2014, 218 mil pessoas chegaram à
Europa através do Mediterrâneo. O negócio do transporte de imigrantes ilegais
gera entre 300 e 600 milhões de euros por ano. É controlado por uma parceria
que junta traficantes internacionais, milícias líbias e o crime organizado
italiano. Uma só embarcação pode render 80 mil euros aos passadores.
O Serviço Jesuíta aos Refugiados, de Portugal,
teme que as tragédias no Mediterrâneo cresçam em número e gravidade e pede uma
resposta ‘urgente e rápida’ aos 28
Estados-membros da União Europeia.
O organismo católico propõe que as
operações de resgate no Mediterrâneo sejam alargadas e que a vida humana se
sobreponha aos imperativos de segurança. Sugere a criação de corredores seguros
e legais de acesso à União Europeia, incluindo a distribuição de vistos
humanitários e o combate ao tráfico de pessoas. Pede também mais solidariedade
efetiva e responsabilidade entre os Estados-membros da União para acolher e
integrar os imigrantes.
A resposta às tragédias constantes nas
águas mansas do Mediterrâneo também passa por aí!’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuFFkuppkpfkRvIAvU
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