*Artigo de Ivanaldo Santos,
filósofo e doutor em
estudos da linguagem pela UFRN
‘Em
1947 o filósofo francês Maurice Merleau-Ponty publicou o livro : Humanismo e terror. Nesse livro ele
defende a tese que, ao contrário do que poderiam pensar os grupos sociais
vencedores da II Guerra Mundial (1939-1945), o terror não se encontra preso a um
país, a um partido político ou a uma estrutura de poder. Ele afirma que o
regime nazista é um regime de terror, mas o terror na está apenas na Alemanha
nazista, ele está diluído e presente em quase toda a sociedade ocidental. A
cultura ocidental moderna, que fala do humanismo, que enfatiza um discurso
humanístico, está cheia de estruturas de terror (o horror existente na cultura
fabril, a violência cotidiana e, muitas vezes, sem consciência, etc) que, em
muitos sentidos, se misturam ou são disfarçadas pelo humanismo. Por isso,
segundo Merleau-Ponty, o ocidente pós-II Guerra Mundial viveria uma situação
contraditória, onde o humanismo e o terror convivem lado a lado.
No
início da segunda década do século XXI o Ocidente vive uma situação parecida
com a que é descrita por Merleau-Ponty em Humanismo
e terror. De um lado, fala-se em humanismo (humanizar a política, humanizar
a saúde, etc) e, do outro lado, prolifera-se toda sorte de terror (violência do
cotidiano, terrorismo, crescimento alarmante do número de refugiados, etc).
Sendo que no atual momento histórico existe um agravante, parece que hoje não
existe mais uma convivência, lado a lado, do humanismo com o terror, mas, ao
que parece, temos um triunfo do terror. A questão contemporânea não é mais : ‘Humanismo e Terror’, mas sim a opção de
escolha : ‘Humanismo ou Terror’.
O
motivo dessa piora na situação, da gravidade do momento histórico atual, é que
hoje em dia não existem mais discursos, ações, países e estruturas sociais que
tenham um discurso humanizador que possa se impor diante do crescimento das
ações de terror.
De
um lado, os grupos e países que tradicionalmente defendem a liberdade e os
direitos humanos estão passando por algum tipo de crise interna. Por exemplo,
os EUA, que foram os grandes defensores da liberdade na primeira metade do
século XX, estão perdidos em apoios duvidosos a países neo-autoritários, como,
por exemplo, a Turquia e a Arábia Saudita. Do outro lado, muitos segmentos que,
em um passado recente, defendiam a liberdade e a dignidade da pessoa humana,
estão burocratizados, carregados com ideologias, cheios de disputas internas
por poder e dinheiro. A consequência disso é que vemos segmentos que, historicamente
defendem a liberdade e a ética, irem a público defenderem grupos que espalham o
terror e a violência e até pedirem diálogo com o grupo terrorista Estado
Islâmico (EI). Nesse
contexto, as vítimas, a população civil, são esquecidas.
A
sociedade contemporânea está paralisada, sem conseguir reagir à onda de terror
que, de formas variadas, se alastra em escala internacional. O discurso
humanístico está ficando fraco e chega, em alguns ambientes, até mesmo a perder
o sentido. Em
muitos lugares, a juventude não se empolga mais pelas campanhas em prol da paz,
da sociedade do amor e da pregação feita pela Igreja e pelos místicos. Enquanto
isso, essa mesma juventude se alegra com a pregação de ódio e de sangue feita
por líderes terroristas.
Diante
disso, para onde iremos? Será que os dias de desenvolvimento e de humanização,
iniciados na Grécia antiga, perpassados pela pregação de Jesus Cristo e que
atingiu a modernidade, chegaram finalmente ao fim? Será que a sociedade viverá
um triunfo do terror e a morte do humanismo? Estamos diante do impasse : Humanismo ou Terror? É tempo das forças
vivas da sociedade (a Igreja, grupos que lutam pela liberdade, etc) escolherem,
mais uma vez, o humanismo e lutarem para tirar o ser humano do terror.’
Fonte :
* Artigo na íntegra de http://www.zenit.org/pt/articles/humanismo-ou-terror
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