*Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
‘A
Igreja realiza sua missão evangelizadora no tempo e no espaço que a Providência
de Deus lhe concede. Compete a ela a busca contínua da fidelidade ao seu
Senhor, pois a visibilidade dos sinais da graça de Deus lhe foi entregue,
enquanto esperamos a vinda gloriosa de Jesus Cristo. Seu Mistério Pascal de
Morte e Ressurreição e o final dos tempos, quando virá para julgar os vivos e
os mortos, são dois polos de tensão, com os quais buscamos a fidelidade ao
Evangelho, praticando o amor a Deus e ao próximo, somos fermento de vida e
esperança para o mundo e continuamos a anunciar o nome de Jesus Cristo, único e
suficiente Salvador de todos os homens e mulheres que vierem a esta terra.
A
sabedoria de Deus concedida à sua Igreja suscitou um caminho formativo
amadurecido no correr dos séculos, o Ano Litúrgico, para manter viva esta
tensão positiva, que gera testemunho de vida cristã e realização profunda para
as pessoas. Tudo começou com o dia da Ressurreição, o Domingo, Páscoa semanal.
A cada semana, tornar presente a Morte e a Ressurreição de Cristo, quando a
Comunidade Cristã, reunida em torno da Palavra de Deus e da Mesa Eucarística,
se edifica como Corpo de Cristo. À Eucaristia de Domingo os cristãos levam suas
lutas e seus trabalhos, louvam ao Senhor e encontram o sustento para a fé, na
vida quotidiana. As gerações que se sucederam começaram a celebrar anualmente a
Páscoa do Senhor, hoje realizada de modo solene no que chamamos Tríduo Pascal,
de quinta-feira santa ao cair da tarde até o Domingo de Páscoa, com seu ponto
mais alto na grande Vigília Pascal. É Páscoa anual! Quando celebramos a Missa
em qualquer tempo do ano, acontece a Páscoa diária. É o mesmo e único mistério
de Cristo. Não fazemos teatro, mas realizamos a presença do Senhor, que
entregou à Igreja a grande tarefa : ‘Fazei
isto em memória de mim’ (1 Cor 11, 24-25).
Como
é grande o Mistério, o Ano Litúrgico veio a se compor pouco a pouco,
contemplando anualmente todos os grandes eventos de nossa Salvação,
enriquecendo com abundância de textos bíblicos as grandes celebrações,
valorizando as orações que foram compostas e expressam a vivência da fé,
recolhendo nos diversos ritos a grandeza da vida que o Senhor oferece. O Ano da
Igreja, que começa no Primeiro domingo do Advento, em 2014 celebrado no dia 30
de novembro, tem dois grandes ciclos, o do Natal e o da Páscoa, com os quais
somos pedagogicamente conduzidos a aperfeiçoar a vida cristã, de forma que o
Senhor nos encontre, a cada ano, não girando em torno de um mesmo eixo, mas
crescidos, como uma espiral que aponta para a eternidade, enquanto clamamos ‘Vem, Senhor Jesus’!
E o Tempo
do Advento,
que agora iniciamos, é justamente marcado pela virtude da esperança, que somos
chamados a testemunhar e oferecer ao nosso mundo cansado, pois só em Jesus
Cristo, única esperança, encontrará seu sentido e realização a vida humana. A
Igreja nos propõe quatro semanas de intensa vida de oração e de exercício das
virtudes. O primeiro olhar é para a vinda definitiva do Senhor, que um dia virá
ao nosso encontro, cercado de glória e esplendor. É hora de refletir sobre a
relatividade das coisas e preparar-nos para o encontro pessoal com o Senhor,
quando nos chamar à sua presença. Em seguida, durante duas semanas a Igreja nos
faz olhar para o tempo presente de nossa fé. Ouvimos o convite à conversão,
somos levados a arrumar a casa de nossa vida para a grande presença do Senhor.
Aquele que um dia virá, vem a nós nos dias de hoje. Para ajudar-nos, a Igreja
apresenta duas figuras, que podem ser chamadas de ‘padrinhos’ de Advento, o Profeta Isaías e São João Batista. Na
última semana antes do Natal, aí, sim, nosso olhar se volta para Belém de Judá,
Presépio, Pastores, Reis Magos. É a oportunidade para preparar a celebração do
Natal. Quem nos toma pela mão na etapa final do Advento, para acompanhar os
acontecimentos vividos em primeira pessoa, é a Virgem Santa Maria, Mãe de Deus
e nossa. Daí a necessidade de corrigir com delicadeza nosso modo de viver este período.
Maior do que o dia de Festa no Natal é a realidade do Senhor Jesus que virá,
vem a nós e um dia veio! Torna-se vazia uma festa sem a presença daquele que é
o coração da história humana, nosso Senhor Jesus Cristo.
Uma
Igreja em estado de Advento é o que queremos oferecer-nos mutuamente e dar de
presente ao nosso mundo. Estimulemos uns aos outros na vivência da esperança,
certos da necessidade da redenção de Cristo, que nos diz ‘sem mim, nada podeis fazer’ (Jo 15, 5). Cresça nossa abertura,
cheia de esperança, a Cristo e à sua Palavra Salvadora. Caiam todos os
obstáculos e defesas, venha a graça da fidelidade ao Senhor. E a vida cristã
não tenha receio de olhar para a eternidade, onde Cristo está sentado, à
direita do Pai (Cf. Ef 1, 20-23). Temos uma eternidade inteira para viver na
Comunhão com a Santíssima Trindade, os Anjos e os Santos. É nossa vocação e
nosso ponto de chegada. Com esta luz, os cristãos são chamados a serem homens e
mulheres capazes de iluminar com a esperança todos os recantos da humanidade. A
graça da vocação cristã nos faça responsáveis pelo anúncio do Evangelho e pela
salvação dos outros (Cf. Rm 8, 29). Ninguém fique desanimado, desde que
encontre um cristão autêntico, mesmo que este saiba ser limitado, tantas vezes
frágil e marcado pelo pecado, mas nunca derrotado.
As
pessoas que tiverem contato com os cristãos neste período, descubram-nos
rezando mais e rezando melhor. As Novenas de Natal, celebradas em grupos de
famílias, são um excelente testemunho de vida de oração. Seja uma oração cheia
de humildade, sinceridade, abertura maior para Deus e obediência às suas
promessas.
E
como falamos de esperança, temos o direito e o dever de sonhar com um mundo
mais justo e fraterno. Queremos antecipá-lo, em estado de Advento, na experiência
da caridade e da partilha dos bens. Em nossa Arquidiocese de Belém, realizamos
durante o Advento o projeto ‘Belém, Casa
do Pão’. Cresce a cada ano, ao lado do compromisso de nossas Paróquias, a
adesão da sociedade ao nosso modo de comprometer as pessoas com a partilha dos
bens, realizando a vocação que se encontra em nosso nome, Belém!’
Fontes :
* Artigo na íntegra de http://www.basilicadenazare.com.br/noticias/view/1588/a_igreja_em_estado_de_advento_por_dom_alberto_taveira_correa